Vencedores do BIP PROOF mostram resultados ao público e a empresas

  AquaBakilus, ECOlive, HydroAzeite, NIRWall, SmartInsulation e SKD. Foram estes os nomes dos projetos escolhidos para receber financiamento na edição 2023/2024 do BIP PROOF. São trabalhos de diferentes áreas de investigação, provenientes de diferentes entidades ligadas à Universidade do Porto, com as mais diversas preocupações em mente. Cada projeto recebeu 10 mil euros de financiamento na iniciativa da U.Porto Inovação, com o apoio da Fundação Amadeu Dias (FAD). Passados dois anos desde a atribuição do financiamento, chegou a altura de os cientistas apresentarem os projetos a público, explicando o que foi feito até aqui em termos de investigação e valorização. A sessão ocorreu no passado dia 15 de janeiro de 2025, nas instalações da Casa Comum (Reitoria da Universidade do Porto). Marcaram presença todas as equipa, bem como os parceiros que tornaram esta edição da iniciativa possível e algumas empresas interessadas em conhecer o que de melhor faz a investigação na U.Porto. A abertura ficou a cargo de Joana Resende, Vice-Reitora da U.Porto para o Empreendedorismo, a Valorização do Conhecimento e o Planeamento Estratégico, que se referiu ao BIP PROOF como um "projeto bandeira da Universidade do Porto" e que tem uma importância relevante na dinamização da capacidade empreendedora da Universidade. "Este é um programa muito competitivo e sabemos que é muito importante investir nas tecnologias. Por isso, a colaboração com os parceiros que ajudam a tornar o BIP PROOF possível é muito importante, porque permite à U.Porto ter um orçamento afeto às provas de conceito", referiu. Joaquim Brandão, da CGD, também marcou presença nesta sessão pública. "O BIP PROOF é um projeto um pouco fora da caixa e que, por isso, nos provoca curiosidade. Muitas vezes os bancos são vistos com uma perspetiva meramente financiar mas, na nossa opinião, é fundamental investir na inovação", referiu. Acrescentou ainda que é muito importante para a CGD estar envolvida em projetos com instituições de ensino superior, nomeadamente a U.Porto, quer no que diz respeito a estratégia mas também a ter um "papel social e ativo no crescimento económico nacional". Onde estamos, dois anos depois? Cabe muita investigação mas, sobretudo, muito trabalho em 24 meses. E os cientistas envolvidos nos projetos vencedores desta edição do BIP PROOF não podiam estar mais de acordo. Rafaela Santos, responsável pelo AquaBakilus (para combater doenças em peixes de aquacultura, desenvolvido na FCUP e no CIIMAR) conta que o principal resultado foi "a purificação de moléculas bioativas que demonstraram ser eficazes na prevenção de infeções bacterianas em peixes", conta. O financiamento obtido no BIP PROOF permitiu a aquisição de materiais essenciais para estes resultados. Já a equipa por trás do projeto ECOlive (para tratamento e valorização de águas ruças, também desenvolvido na FCUP e no CIIMAR) conseguiu "uma remoção eficiente de mais de 88% da Carência Química de Oxigênio (CQO), 88% de Azoto Total, 93% de Nitratos, 98% de Fósforo Total e 97% de redução da toxicidade", explica a investigadora Verónica Nogueira. Para a equipa, os resultados obtidos são extremamente promissores, revelando um "aumento significativo na qualidade do efluente final, assim como a redução da sua toxicidade". Com os 10 mil euros recebidos a equipa conseguiu promover a instalação de um sistema piloto de uma Fito-ETAR de fluxo horizontal num lagar de azeite na zona de Viseu para demonstrar a eficiência da tecnologia em contexto real. "O BIP PROOF foi essencial para construir e testar os desenvolvimentos obtidos até então", refere Rita Veloso em nome da equipa por trás do projeto NIRWall (uma solução sustentável para edifícios escuros, desenvolvida na FEUP). Os investigadores conseguiram construir um protótipo exposto a condições ambientais reais, permitindo, assim, "validar o impacto dos nanomateriais na eficiência e durabilidade das fachadas", explicam. Com este desenvolvimento foi possível demonstrar que a inclusão de nanomateriais refletantes em revestimentos escuros aumenta significativamente a refletância solar sem alteração da cor inicial, reduzindo a absorção de radiação e as oscilações térmicas superficiais".  Ainda na área das engenharias, o projeto HydroAzeite (para valorizar águas residuais dos lagares de azeite, desenvolvido na FEUP) também conseguiu construir uma instalação demonstrativa, aumentando o nível de maturidade da solução ambiental. "Assim, conseguimos tratar caudais mais elevados de águas residuais em comparação com o reator utilizado na prova de conceito no laboratório", explica o investigador Cláudio Rocha. Na opinião da equipa, o BIP PROOF permitiu também "o desenvolvimento de atividades de investigação laboratorial, nomeadamente na preparação de novos catalisadores e de adsorventes de CO2, essenciais para serem aplicados na tecnologia", explicam. O projeto SmartInsulation (isolamento térmico dinâmico e inteligente) também foi desenvolvido na FEUP. Com o BIP PROOF, a tecnologia conseguiu aumentar o seu Technology Readiness Level de um nível 4 (validação de tecnologia em laboratório) para um nível 6 (demonstração da tecnologia em ambiente relevante). "Foi idealizado, montado, testado e validado o desempenho de um sistema dinâmico de parede em condições próximas das reais. O sistema SmartInsulation permite que uma parede dupla sem isolamento na caixa de ar, solução construtiva muito frequente nas décadas de 1970 e 1980, após reabilitação energética para adaptação às exigências atuais, tenha um comportamento dinâmico (isolante ou condutivo), face à transferência de calor, em função das solicitações climáticas. Desta forma garante-se um melhor comportamento térmico da parede face às alterações climáticas", explica Eva Barreira, uma das investigadoras do projeto. Por fim, mas não por último, o projeto SKD, desenvolvido numa parceria entre o INESC TEC, a FCUP e FEUP. Falamos de uma tecnologia para "identificação automática de minerais que combina diferentes técnicas de imagem espectral utilizando arquiteturas de inteligência artificial multimodal", explica Nuno Silva, um dos investigadores. Assim, o SKD permite análises precisas e até 100 vezes mais rápidas, com impacto direto na eficiência da prospeção e exploração mineira. Para a equipa, o financiamento obtido no BIP PROOF foi "fundamental para a evolução da tecnologia do laboratório para um ambiente relevante" pois foi possível, desta forma, acelerar a validação da mesma e potenciar a posição desta equipa multidisciplinar não só no setor da mineração como no da reciclagem.   Sobre o BIP PROOF O principal objetivo desta iniciativa, criada pela U.Porto Inovação em 2018, é criar um sistema de provas de conceito. Essas podem traduzir-se em construção de protótipos de viabilidade técnica, realização de ensaios in vitro/in vivo, estudos de viabilidade ou de mercado, entre outras, para que possam contribuir para a maturação da tecnologia e aproximação ao mercado. Ao todo, já distinguiu um total de 44 ideias inovadoras com 500 mil euros.    O BIP PROOF conta com o apoio da Fundação Amadeu Dias e da Caixa Geral de Depósitos.

"Perceber o funcionamento do mundo vivo sempre me fascinou"

  Quando era criança, talvez não sabia que queria ser investigador, pois não conhecia a possibilidade dessa carreira. No entanto, a certeza de que queria “ser mais do que professor de biologia” fez parte da infância e juventude de Vitor Vasconcelos.  Tudo começou com a licenciatura em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Após terminar a formação, em 1986, começou como assistente estagiário no então Instituto de Zoologia Dr. Augusto Nobre, na FCUP. Até ao ano 2000 foi essencialmente docente universitário nessa faculdade, com alguma atividade de investigação, conduzida essencialmente por colaborações internacionais na Finlândia e nos Estados Unidos, instituições onde Vitor Vasconcelos fez parte do seu doutoramento. “Sempre gostei de ver programas na televisão sobre a vida na terra e no mar, andar no meio da natureza e observá-la, estudar o comportamento de pequenos animais – coisas importantes num investigador”, refere Vitor Vasconcelos. No entanto, durante os primeiros anos do seu percurso “não havia um verdadeiro ambiente de investigação e esta era feita de forma individual”, diz. Foi só no ano de 2001 que começou a sua verdadeira carreira de investigação, quando João Coimbra – à data diretor do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) – o convidou a integrar esse centro de investigação interdisciplinar. “Foi a partir dessa altura que percebi todas as valências de um investigador: ter ideias criativas com o fim de resolver questões e problemas da sociedade, lutar para conseguir financiamento, criar equipas, atrair e formar jovens, transferir o conhecimento para a sociedade ed forma a valorizá-lo, influenciar as políticas públicas e disseminar o conhecimento científico para todos os públicos”. Vitor Vasconcelos conta já com inúmeros projetos de investigação na sua carreira académica. Um dos seus maiores projetos é a criação de culturas LEGE_CC, “uma coleção de cianobactérias e microalgas com 33 anos sedeada no CIIMAR”, conta. Em 2024, dois dos seus projetos atingiram concessões internacionais de patente na China, Índia e Brasil, o que demonstra a relevância da investigação desenvolvida pelos grupos que comanda. “A bioatividade que patenteámos representa uma nova molécula isolada de uma cianobactéria da LEGE_CC que tem uma forte atividade antimicrobiana contra o desenvolvimento de biofilmes de Staphylococcus aureus, uma bactéria patogénica que causa muitas infeções graves a nível hospitalar”, explica o docente e investigador. O grupo espera, assim, poder contribuir para “solucionar um problema grave de saúde humana, em especial devido ao surgimento de bactérias multirresistentes a antibióticos”, explicam. "Sempre tive uma intenção clara de fazer com que a minha investigação tivesse valor" Ter impacto e criar valor são objetivos que acompanham Vitor Vasconcelos desde o início da sua carreira. Escolheu Biologia porque “perceber o funcionamento do mundo vivo” sempre o fascinou, acrescentando a isso a certeza de que trabalhos nesta área podem, efetivamente, melhorar a vida das pessoas e da sociedade como um todo. “Sempre tive uma intenção clara de fazer com que a minha investigação tivesse valor”, refere. No início da sua carreira, por exemplo, estudou a ocorrência de toxinas de cianobactérias em águas doces de Portugal (em especial em águas para consumo humano) e isso levou ao estabelecimento de um programa nacional de monitorização de cianobactérias e à inclusão destes parâmetros na lei portuguesa estando, como refere Vitor Vasconcelos”, “muito à frente da maior parte dos países europeus”. O projeto LEGE_CC, que começou em 1991, continua a ser o dia-a-dia do investigador. Neste momento estão a ser adicionadas novas estirpes de cianobactérias em ambientes extremos, testes esses que têm sido possíveis devido a projetos nacionais e internacionais que o professor coordena. “Eu e a minha equipa temos produzido conhecimento e patentes que podem potenciar o desenvolvimento de novos antibióticos, antimaláricos, antitumorais, cosméticos ou substâncias com atividades anti-obesidade ou antivegetativa para a produção e tintas antivegetativas para navios, por exemplo”.  “O que eu gostaria, e creio que irei conseguir, é criar condições para que a LEGE_CC se possa manter, crescer e continuar o seu impacto a nível nacional e internacional”, diz Vitor Vasconcelos quando questionado sobre o seu maior sonho enquanto investigador. Ao longo dos anos, assistiu à extinção de algumas coleções similares a nível internacional quando os seus fundadores se aposentavam. “As instituições não conseguiram perceber o valor único e irrepetível de uma coleção deste tipo. Além de serem um repositório vivo de biodiversidade, fundamental para trabalhos de conservação e restauro de ecossistemas, têm um valor potencial enorme devido às suas aplicações biotecnológicas na criação de produtos de valor acrescentado. O abandono de uma coleção deste tipo equivale a um incêndio que devaste completamente um museu de história natural ou um jardim botânico”, diz. É, então, com esperança e otimismo que Vitor Vasconcelos olha o futuro, apoiado por equipas de investigação igualmente empenhadas em criar valor a partir da natureza e do mundo vivo. “Em cinco anos esta coleção LEGE_CC será a maior coleção de cianobactérias a nível mundial”, acredita o investigador. As aplicações são inúmeras, desde a cosmética, passando pela agricultura ou indústria têxtil, o que “deverá conduzir ao desenvolvimento e comercialização de novos produtos, processos e serviços nos próximos anos”, acredita.   Fotografia: CIIMAR

À conversa com as empresas: Inovapotek

A Inovapotek foi a primeira empresa a receber a chancela U.Porto Spin-off, em 2010. Por isso, esta é a empresa da vez na rúbrica "À conversa com as empresas". Falamos de uma empresa que desenvolve e testa produtos na área da dermatologia. "Trabalhamos quer para empresas start-up quer para marcas globais consolidadas e estamos aqui para garantir que os produtos dos nossos clientes chegam ao mercado com o selo de confiança e qualidade que os consumidores exigem", referem as empresárias. O negócio da Inovapotek é, em suma, cuidar do negócio dos seus clientes. Impulsionam a inovação e entregam projetos de I&D personalizados, construindo parcerias baseadas na confiança, integridade e numa visão partilhada para o sucesso dos produtos dos clientes. "Com a nossa experiência e conhecimento asseguramos que cada fórmula é segura e cumpre aquilo que promete", concluem. Vamos conhecê-las melhor?   1. Como é um típico dia de trabalho na Inovapotek? Os dias de trabalho nunca são iguais! Há sempre muita dinâmica para responder às necessidades dos nossos clientes no ritmo certo que é, em regra, acelerado tal como o mercado o exige. Abordamos cada projeto com paixão e dedicação, trabalhando incansavelmente para garantir que superamos as suas expectativas. Temos a equipa técnica envolvida nos estudos clínicos e, portanto, a receber os nossos voluntários e efetuarem os procedimentos necessários. No laboratório a equipa empenha-se diariamente no desenvolvimento e teste de produtos inovadores que atendam às exigências regulamentares e às necessidades dos consumidores. No desenvolvimento de negócio e marketing garantimos uma resposta rápida e rigorosa aos pedidos que vamos recebendo num canal de abertura contínua com os nossos clientes, enquanto o suporte administrativo e financeiro também é assegurado. Acima de tudo reina o espírito de entreajuda e positividade onde todos podem prosperar e contribuir para o sucesso comum.   2. O que fazem, enquanto equipa, quando se sentem menos criativos ou animados? Promovemos uma cultura de confiança e empatia, garantindo uma comunicação aberta e honesta onde a procura e o fornecimento de feedback são encorajados. Promovemos brainstormings, workshops e atividades de team-building para estimular a criatividade e fortalecer o espírito de equipa. Festejamos as nossas conquistas e fazemos questão de as realçar em equipa!    3. Porquê o nome Inovapotek? Queríamos que um nome internacional e que representasse a nossa atividade e daí surge a conjugação de inovação com “apotek”, que significa farmácia em vários idiomas.    4. Quem é a pessoa mais divertida da empresa? As pessoas estão no centro de tudo o que fazemos. Promovemos uma cultura de trabalho em equipa, cooperação, empatia e comunicação aberta, reconhecendo que a nossa força coletiva reside na diversidade dos nossos talentos e perspetivas. Temos os mais divertidos, os mais sensíveis, os mais dinâmicos, os mais assertivos, toda uma diversidade que nos complementa e nos torna melhores todos os dias.   5. Se pudessem escolher um só sonho a alcançar com a Inovapotek, qual seria? Posicionar a empresa mundialmente na vanguarda da pesquisa e desenvolvimento na área da dermatologia, moldando o futuro desses setores.   6. Quais os planos da Inovapotek para o futuro mais próximo? Queremos continuar o caminho de melhoria contínua e integrar cada vez mais soluções de automação e inteligência artificial para processos cada vez mais eficientes. A médio prazo almejamos triplicar o volume de negócios, mantendo-nos na linha da frente e atendendo à crescente procura das indústrias que servimos.   7. O que aprenderam, até agora, com esta jornada empreendedora? E com as pessoas com quem trabalham? A importância do trabalho em equipa, da transparência, da ética e da excelência científica para superar desafios e criar impacto nas indústrias cosmética e farmacêutica. Os membros da nossa equipa são capacitados para libertar todo o seu potencial e são apoiados em cada etapa do caminho. Acreditamos firmemente na priorização de tarefas, na simplificação de processos e na execução com rigor e rapidez para garantir a máxima eficiência no prazo.   8. Quais os vossos sonhos pessoais? Que o sucesso e a prosperidade do negócio se alicercem no amor cultivado diariamente nas relações entre toda a equipa, parceiros, fornecedores e clientes. Acreditamos que com pessoas felizes e ancoradas na paixão dos projetos a que se entregam diariamente o céu é o limite.    9. Como é, para vocês, ser membro da família de spin-offs da U.Porto, o The Circle? Sentimos que fazemos parte de um ecossistema inovador, e por isso, sentimo-nos apoiados e inspirados a continuar a crescer como uma referência científica e tecnológica mantendo este contacto com as nossas origens. É uma rede muito forte e ainda com um grande potencial de crescimento.   

Tecnologia da Universidade do Porto licenciada a startup na área medtech

  Falamos de um dispositivo médico, pensado e criado por uma equipa multidisciplinar de investigadores da Universidade do Porto. Um sistema de esterilização reutilizável que permite eliminar os microrganismos que infetam, por exemplo, cateteres de diálise e, assim, dispensa o uso de antibióticos e outros químicos antisséticos que podem danificar o corpo humano.  O caráter inovador desta tecnologia “made in” U.Porto levou à criação de uma empresa – a GOTECH Antimicrobial – que, em janeiro deste ano, licenciou a invenção. A GOTECH é uma startup medtech dedicada ao desenvolvimento de soluções para combater as infeções associadas a dispositivos médicos. Tendo em conta o potencial clínico e comercial da tecnologia em questão, aplicável não só em dispositivos de desinfeção de cateteres, mas de outros dispositivos médicos, “a criação de uma empresa que permitisse a exploração comercial da invenção surgiu naturalmente”, refere Patrícia Henriques, inventora e cofundadora da GOTECH.  O dispositivo foi desenvolvido e patenteado durante a sua tese de doutoramento, sob orientação de Inês Gonçalves, também investigadora do i3S/INEB e líder do grupo Advanced Graphene Biomaterials. Em conjunto, as duas investigadoras decidiram dar o passo de criar a empresa. “No mundo das empresas de base tecnológica é muito valorizado o facto de serem os próprios inventores a fazer a exploração comercial”, dizem, realçando a importância do licenciamento da tecnologia à startup.  Na opinião da equipa envolvida no processo, licenciar a invenção a uma empresa é passo muito importante, pois permite que esta esteja numa posição mais competitiva em momentos de interação com investidores ou potenciais clientes. “Este licenciamento é essencial para proteger a propriedade intelectual, garantir a exclusividade da tecnologia, facilitar a sua comercialização em larga escala e permitir acesso a financiamento disponível apenas a empresas”, referem. O contrato foi, então, celebrado entre três entidades – GOTECH Antimicrobial, i3S/INEB e Universidade do Porto – e baseia-se na cedência dos direitos de exploração comercial à empresa, “através de um modelo de recompensa financeira por taxas de sucesso após milestones atingidas”, esclarecem as cofundadoras.  Uma ação antimicrobiana duradoura A tecnologia nasceu, então, nos laboratórios do i3S, em colaboração com o LEPABE/FEUP. Além de Patrícia Henriques e Inês Gonçalves (ambas do i3S) da equipa de inventores fazem parte também Fernão Magalhães e Artur Pinto, investigadores do LEPABE/FEUP. Baseia-se na irradiação do grafeno com luz no infravermelho próximo. “Quando irradiado, o grafeno demonstra uma capacidade notável de matar mais de 99% de bactérias clinicamente relevantes (em suspensão e aderidas), incluindo aquelas resistentes aos antibióticos. Ao fazê-lo, impede o desenvolvimento posterior da infeção”, explicam os cientistas. Assim, esta solução oferece uma ação antimicrobiana duradoura, que dispensa o uso de antibióticos e outros químicos antisséticos que podem ser nocivos. Essa ação ocorre pela combinação de dois efeitos: fototérmico (ação do calor) e fotodinâmico (stress oxidativo), o que dificulta o desenvolvimento da resistência por parte das bactérias. E, como referem os investigadores, isso é “extremamente relevante, considerando que a resistência aos antibióticos é um grave problema de saúde pública”. Outra vantagem é o facto de esta tecnologia poder ser integrada num só dispositivo, permitindo reutilização e portabilidade, e sendo segura para as pessoas. Para o futuro está a ser pensada a comercialização da GOcap®, o primeiro produto a integrar, de facto, a tecnologia. “Será a primeira tampa de desinfeção de cateteres baseada em grafeno e ativada pela luz, que visa prevenir a infeção de cateteres de hemodiálise”, explica Patrícia Henriques. Em colaboração com a start-up, o grupo de investigadores do i3S/INEB está, neste momento, a terminar a fase de otimização do protótipo (com colaboração do INESC-TEC na componente eletrónica/ótica) e a iniciar a fase de produção em escala piloto “que vai permitir a realização de um primeiro estudo clínico com pacientes em hemodiálise no próximo ano”, contam. O grupo de investigação do i3S vai continuar a explorar a utilização desta tecnologia para outras aplicações antimicrobianas, colaborando em proximidade com a GOTECH, ao mesmo tempo que Fernão Magalhães e Artur Pinto, na FEUP, continuarão a trabalhar no desenvolvimento de novas aplicações biomédicas de grafeno e outros nano materiais 2D.  O grande plano é “expandir a aplicação desta tecnologia a outros sistemas de desinfeção que possam prevenir e tratar outras infeções relacionadas com dispositivos médicos e ambiente hospitalar em geral”, refere Patrícia Henriques. E, nesse sentido, a estratégia de licenciamento é fundamental uma vez que “acelera a disponibilização no mercado da solução inovadora e eficaz para o combate a bactérias resistentes a antibióticos, beneficiando diretamente os pacientes e a saúde pública global”, concluem os cientistas.

20 anos da U.Porto Inovação contados em livro

  A celebração dos 20 anos da U.Porto Inovação aconteceu no passado dia 12 de dezembro, na Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto – edifício que foi a casa da U.Porto Inovação durante a maior parte da sua existência. Um dos pontos altos dos festejos foi o lançamento do livro “20 anos U.Porto Inovação”, oferecido a um grupo restrito de convidados onde se incluíram as pessoas que, de alguma forma, contribuíram para o que a U.Porto Inovação é hoje. Desde antigos membros da equipa reitoral, passando por ex-colaboradores, clientes, fornecedores, entre outros. “No caso da U.Porto Inovação, os factos reunidos no livro que compila a atividade realizada nestas duas décadas são absolutamente esclarecedores e expressam de forma evidente de que modo o trabalho que hoje celebramos é essencial para que a U.Porto se afirme cada vez mais como uma instituição liderante na produção e irradiação de conhecimento, de investigação, de progresso e de bem-estar para a comunidade que é a nossa razão de existir e que queremos servir cada vez melhor.”, referiu António de Sousa Pereira, Reitor da U.Porto, no discurso que abriu a celebração. Apesar de não ser fácil resumir duas décadas de tantas conquistas, projetos alavancados, empresas criadas, os resultados estão à vista e foi (também) isso que a U.Porto Inovação quis deixar para a posteridade neste livro. No campo da propriedade intelectual (PI), por exemplo, foram mais de 540 comunicações de invenção recebidas, provenientes de todas as faculdades da U. Porto. A maior parte dessas invenções deu origem a mais de 300 pedidos de patente nacional, perto de 700 pedidos internacionais e mais de 480 patentes concedidas tanto em Portugal como nos mais diversos países do mundo. No que diz respeito à valorização do conhecimento, desde a fundação da U.Porto Inovação, foram celebrados perto de 50 contratos de licença com empresas. No final de 2023, 33 desses contratos estavam ativos. A primeira atribuição da chancela U.Porto Spin-off aconteceu em 2010. Desde então, são já 125 as empresas com o selo, 112 ainda ativas. Essas empresas, nascidas no seio da Universidade do Porto, angariaram mais de 200 milhões de euros em investimento acumulado, gerem mais de 70 patentes, geraram mais de 80 milhões de euros em rendimentos e possibilitaram a criação de mais de 1800 postos de trabalho. Ainda na vertente do apoio ao empreendedorismo, a U.Porto Inovação organizou, nos últimos vinte anos, nove edições do iUP25k – o concurso de ideias da Universidade do Porto. Nelas concorreram mais de 320 ideias e mais de 850 concorrentes. O acumulado dos prémios nas nove edições totaliza os 225 mil euros. Cabe muita coisa em 20 anos. Contá-los, festeja-los, mostrar como foram, permite também pensar o futuro. Como referiu António de Sousa Pereira: “Muito mais do que a comemoração de uma data redonda trata-se, creio, de enfatizar o muito significativo trabalho realizado nestes últimos 20 anos em domino tão decisivos”. 20 anos a apoiar a inovação na U.Porto Estávamos em 2004 e era cada vez mais evidente a necessidade de criar um gabinete de proteção e comercialização da investigação e do conhecimento produzidos na Universidade do Porto. Havia que criar maneiras de salvaguardar o papel dos investigadores e impulsionar também o empreendedorismo, cada vez mais presente nas faculdades da U.Porto e nos seus institutos associados, centros de investigação e outros, tanto entre os investigadores como na comunidade estudantil. A Equipa Reitoral da U.Porto da altura, liderada por José Novais Barbosa, elegeu como uma das suas prioridades o fomento da inovação e a promoção de formas sustentadas de transferência de conhecimento e tecnologia a partir dos resultados das atividades de investigação e desenvolvimento efetuadas pelos membros da U.Porto. Foi então que, pelas mãos de José Marques dos Santos (na altura Vice-Reitor da Universidade do Porto), acompanhado por Isabel Azevedo (também Vice-Reitora), António Teixeira, Ana Casaca e Sofia Varge, se criaram as bases para o nascimento da UPIN. As duas primeiras letras do nome escolhido representavam a grande família da U.Porto onde a equipa se inseria, e as duas seguintes a palavra inovação, que era o mote que se pretendia para começar, e prolongar no tempo, os trabalhos que agora começava. Pensadas as bases e definidas institucionalmente as prioridades, reuniram-se as pessoas e o projeto foi ganhando forma. Entretanto, em 2014, a UPIN passou a chamar-se U.Porto Inovação, nome que mantém até agora, no ano em que celebra o seu 20.º aniversário. No começo – e, na verdade, durante grande parte dos seus primeiros anos – a UPIN foi associada a atividades relacionadas com a proteção da propriedade intelectual e regularmente mencionada quando o assunto tinha a ver com PI. É aí que continua o core da sua atividade principal, a que é mais consumidora de tempo e recursos. Mas o gabinete acabou por crescer muito para além disso, até chegar ao rol de atividades que leva a cabo no presente. Elas incluem o apoio à cadeia de valor da inovação na Universidade – através da proteção da PI e da valorização do conhecimento, o fomento do espírito empreendedor e o apoio à criação de empresas de base científica e tecnológica e a ligação, cada vez maior, às empresas. A equipa da U.Porto Inovação está instalada, desde 2019, nos escritórios da UPTEC Asprela I.

“A equipa da U.Porto Inovação permite pensar o futuro com bastante otimismo”

No ano em que a U.Porto Inovação comemora o seu 20º aniversário, ao leme da equipa está Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da Universidade do Porto para a Investigação e Inovação. Assumiu a liderança em 2022, altura em que encontrou uma equipa “com um trabalho já muito consolidado”, diz. Na opinião de Pedro Rodrigues a palavra inovação ainda faz muito sentido nos dias que correm e, por isso, é preciso continuara a apostar nas pessoas, mecanismos e estruturas que a tornam possível. A comunidade científica, por um lado, e o mundo empresarial, por outro. “Este diálogo entre as empresas e a comunidade científica tem vindo a aumentar e há, de facto, cada vez mais projetos que juntam estas duas realidades. Mas acredito que isso pode ser ainda mais potenciado e a U.Porto Inovação pode mediar muito esse contacto.” 1. A que U.Porto Inovação chegou quando tomou posse? Em 2022 deparei-me com uma U.Porto Inovação com uma atividade muito consolidada, com vários anos de trabalho prévio e com uma estrutura madura, organizada e com ideias claras da sua missão. Essa foi a U.Porto Inovação que encontrei. Naturalmente que cada responsável tem as suas próprias ideias e eu procurei imprimir um cunho muito próprio relativamente ao que era o meu entendimento do trabalho da U.Porto Inovação, embora não se desviando muito do que tinha sido feito no passado recente. No essencial, foram feitos alguns ajustes ao rumo futuro e nas prioridades de atuação dos próximos anos.  A U.Porto Inovação tem um conjunto de profissionais muito qualificados, que trabalham na estrutura já há bastante tempo e isso permite encarar o futuro com bastante otimismo.   2. Diria que que chegou com um objetivo em concreto, uma ambição maior, ou várias, divididas pelas áreas de atuação da U.Porto Inovação? Naturalmente que há aqui um propósito maior, um objetivo central, que não se desvia muito do que tem vindo a ser a missão da U.Porto Inovação, embora com algumas nuances. Dentro desse objetivo principal há várias questões mais pequenas, embora todas elas caminhem no mesmo sentido.  No que diz respeito à U.Porto Inovação considero que há duas ou três coisas que valeria a pena reforçar. Por um lado, acentuar a visibilidade do Serviço no contexto da Universidade do Porto e do seu ecossistema de inovação, que é um ecossistema diverso e com muitos players – correspondendo a perto de 25% da ciência que se produz em Portugal. Assim, o objetivo é trazer a U.Porto Inovação para a primeira fila, digamos assim, para que o seu trabalho no domínio da valorização do conhecimento, da inovação e dos mais variados domínios em que atua, seja reconhecido.  Acentuar a visibilidade da U.Porto Inovação no seio do nosso ecossistema de investigação, para que o seu trabalho no domínio da valorização do conhecimento, da inovação, e dos mais variados domínios em que atua, seja mais conhecido. Dar uma visibilidade acrescida no seio da comunidade científico-tecnológica em que se insere, bem como no meio empresarial. Em suma: visibilidade e proximidade serão duas pedras basilares do trabalho da U.Porto Inovação que considero valer a pena reforçar. Creio que isso no futuro poderá trazer muitos dividendos, nomeadamente no que diz respeito a uma das funções maiores da U.Porto Inovação que é tratar das questões da propriedade intelectual  e da valorização do conhecimento produzido na nossa Universidade e no nosso alargado ecossistema de investigação.   3. Como parte integrante da Universidade do Porto, a U.Porto Inovação tem um público bem evidente cá dentro. No entanto, temos também outros públicos, nomeadamente a comunidade empresarial e a sociedade em geral. Considera que a U.Porto Inovação tem contribuído também junto desses players?  Sim. Essa é também uma das suas funções fundamentais. Promover e facilitar as interações junto da comunidade empresarial, para aumentar a sua participação em projetos de investigação com a Universidade do Porto, que permitam criar produtos e valor com impacto na sociedade e na economia nacional. Sabemos que há muitas empresas que procuram melhorar os seus meios de produção, ou criar produtos novos, mas fazem-no muitas vezes recorrendo a entidades externas e mesmo fora do país. Gostaríamos que, sempre que possível, o possam fazer com o ecossistema de investigação da Universidade do Porto e, nesse sentido, a atuação da U.Porto Inovação é uma mais valia, já que tem a capacidade para juntar a comunidade académica e empresarial. Este diálogo entre as empresas e a comunidade científica tem vindo a aumentar e há, de facto, cada vez mais projetos conjuntos entre a academia e as entidades empresariais. Ainda assim, acredito que se pode melhorar muito esta interação, e a U.Porto Inovação está especialmente posicionada para mediar muito esse contacto. Pode ir junto de empresas que conhece bem, e com as quais já trabalhou (como por exemplo as spin-offs, geradas por ideias de negócio que aqui surgiram) e trazê-las cada vez mais para junto da comunidade científica. Motivá-las a procurar as soluções dos problemas que enfrentam em contexto empresarial na investigação científica da Universidade do Porto. Resumindo, temos aqui três questões principais: visibilidade, proximidade da comunidade científica, despertando-os ainda mais para a inovação, e trazer a comunidade empresarial para mais perto da ciência que se faz no nosso ecossistema de forma a fazermos coisas em conjunto.   4. Reconhece uma evolução na U.Porto Inovação desde o seu primeiro contacto com o trabalho da equipa? É difícil situar quando é que soube da existência da U.Porto Inovação. Como investigador e académico tenho feito investigação em ciências biomédicas e ciências da saúde mas, nesse papel, não conheci com muita profundidade o trabalho da U.Porto Inovação. No entanto, importa dizer que nos últimos anos, e muito também devido a medidas que têm sido postas em prática (para promover a valorização do conhecimento, a proteção via patente, ou a criação de spin-offs), a U.Porto Inovação aparece como o local onde se vai procurar respostas. Hoje em dia o serviço é procurado por uma maior diversidade de áreas entre as quais as ciências biomédicas.  Importa dizer também que o conceito de inovação tem evoluído muito nos últimos anos, com novos desafios e questões. Basta pensar que hoje em dia muitos dos projetos de investigação têm parcerias de empresas e questões de inovação associadas e têm, nos seus KPIs, muitos destes aspetos como essenciais. São questões que começaram a entrar na ordem do dia há meia dúzia de anos, talvez mais, mas que já fazem parte do imaginário de quem faz investigação na Universidade do Porto.   5. Acha que o termo inovação precisa de um rebranding? Que está “batido”?  Talvez. Inovação e empreendedorismo são termos que são empregues de forma muito abrangente, onde cabe muita coisa e as definições dos termos podem ser mais estreitas ou mais latas consoante faça sentido.  Acho que o termo inovação, tal como está definido, ainda é pertinente. Claro que podemos falar em invenção, ou outros, mas, à falta de melhor definição, considero que ainda faz sentido usar o termo. O que às vezes acontece é que a inovação está muito ligada a questões de aplicabilidade e de tecnologia e isso não tem de ser necessariamente assim. A inovação está ainda muito cunhada com a produção de produtos tecnológicos, muitas vezes ligados ao mundo digital ou à área das engenharias. Foram estas as áreas que, no contexto da inovação, se movimentaram mais depressa, e que de alguma forma marcaram a perceção do termo. E a inovação pode ser isso, sim, mas também ir além disso, basta pensar em conceitos como a inovação social. É relativamente frequente colegas da área das ciências da vida, que eu conheço bem, sentirem algum desconforto em usar a palavra inovação porque acham que não se aplica bem às áreas em que eles trabalham. Já para não falar das áreas das humanidades ou artes. Essa parte da comunidade vê a inovação como estando intimamente ligada a tecnologia de ponta, inovação tecnológica. E não tem necessariamente que ser isso. Aí, a U.Porto Inovação tem também algum trabalho de pedagogia a fazer, mostrando que pode haver inovação em todas as áreas, e de formas diferentes, e não apenas no mundo digital e no mundo das apps.    6. Que legado gostaria de deixar? Legado é uma palavra um pouco forte, mas gostava que os três pontos principais que falei acima fossem atingidos com sucesso, beneficiando todos os intervenientes. É importante salientar que a U.Porto Inovação tem um nome perfeitamente estabelecido a nível nacional. A qualquer lugar que eu vou, no contexto da inovação e investigação, a U.Porto Inovação é um dos serviços da Universidade do Porto mais reconhecido. Basta pensar nos convites que a equipa recebe para os diversos eventos relacionados com o tema, onde dá o seu testemunho. Isso denota que o trabalho que tem sido feito é reconhecido a nível nacional (e internacional também).  Gostava que essa visibilidade externa também acontecesse a nível interno, e de uma maneira mais abrangente. Já há um conhecimento grande em algumas áreas de investigação e em algumas unidade orgânicas a U.Porto Inovação é frequentemente procurada por muitos investigadores, que recorrem aos seus serviços. Mas gostaria que o trabalho da equipa fosse ainda mais conhecido e chegasse a mais pessoas, e que o diálogo entre o mundo das empresas e o mundo da investigação fosse cada vez mais frequente e intenso. O objetivo é que esse diálogo (que é, já em si, muito importante) encoraje a existência de parcerias, e que de uma forma mais célere, leve a que estas duas entidades, criem mais projetos de investigação em conjunto no futuro.   7. Como é que vê o futuro da inovação não só na Universidade do Porto mas também a nível nacional? Como é que a U.Porto Inovação pode contribuir para isso? No mundo em constante mutação em que vivemos é muito difícil fazer previsões de médio e longo prazo. É verdade que a inovação tem atravessado – e continuará a atravessar no futuro, como todas as áreas – grandes transformações. Passados vários anos, o caminho feito por diferentes universidades e outras entidades na criação de estruturas como a U.Porto Inovação é naturalmente objeto de reavaliação. Estou em crer que os nossos resultados, nomeadamente na implementação e proteção da propriedade intelectual, demonstram que, no essencial, esta foi uma aposta ganha. Quanto à atuação no futuro, por um lado, numa primeira fase, continuar a fazer-se um trabalho irrepreensível e de grande qualidade na proteção da propriedade intelectual (PI). A proteção da PI está na génese da criação de estruturas como a U.Porto Inovação e tem um propósito claro: proteger o conhecimento gerado com vista à sua valorização. Eu acredito que esse trabalho, com a importância basilar que tem, vai ter sempre de continuar mas não se pode encerrar em si mesmo e perder de vista a valorização social e económica do conhecimento protegido.  Creio que também é necessário ir ativamente de encontro ao conhecimento gerado em áreas científicas que, até agora, não têm sido a aposta óbvia destas estruturas. Na verdade, há áreas que não estão tão despertas para a necessidade de proteger de uma forma mais estreita o conhecimento que produzem e, assim, têm ficado um bocadinho fora do radar da U.Porto Inovação.  Ainda assim, chegados a este ponto, acredito que haja necessidade de proceder a alguns ajustes no futuro, nomeadamente dar mais atenção à valorização económica do conhecimento. No fundo, procurar que a propriedade intelectual que é protegida possa ser de facto uma mais-valia do ponto de vista económico, seja através de licenciamentos, vendas, criação de spin-offs ou outras formas. Seja como for, estou convicto que apesar dos desafios que os tempos em constante mudança nos colocam, estruturas como a U.Porto Inovação continuarão a ser, no futuro, uma peça fundamental do ecossistema de investigação e inovação da Universidade do Porto.

Spin-off U.Porto está na lista da Norrsken Impact/100 2024

  É uma lista mundial de 100 startups que se dedicam a criar soluções inovadoras para alguns dos maiores desafios do mundo. A edição de 2024 distinguiu a Smartex, uma spin-off U.Porto incubada na UPTEC que, desde a sua fundação, se tem dedicado a revolucionar a indústria têxtil através de sistemas de controle de qualidade alimentados por Inteligência Artificial (IA).  “É verdadeiramente inspirador sermos reconhecidos ao lado de tantas empresas inovadoras que trabalham de forma incansável para criar mudanças positivas no mundo. Esta distinção reforça a nossa missão e motiva-nos a avançar ainda mais nos nossos esforços para causar um impacto global”, referem os responsáveis da Smartex.  A tecnologia desenvolvida pela startup possibilita uma redução significativa do desperdício na indústria têxtil, melhorando a eficiência e garantindo uma maior sustentabilidade do setor. “Somos a primeira inovação no mundo a oferecer inspeção automatizada com IA nas fases iniciais da cadeia de abastecimento têxtil. Este avanço é crucial num setor tradicionalmente marcado por desperdícios elevados, tanto materiais como energéticos”, referem os membros da Smartex. O facto de a tecnologia possibilitar a deteção de defeitos em tempo real na produção faz com que se “reduza drasticamente o desperdício de recursos e aumente a eficiência, conseguindo aumentar a eficiência e contribuindo para uma indústria mais sustentável e moderna”, acrescentam. Na opinião dos empreendedores, este tipo de reconhecimentos é muito importante: “Vivemos tempos desafiadores, onde é crucial destacar o trabalho que milhares de inovadores estão a fazer em todo o mundo”, referem. A Norrsken Impact/100 é uma iniciativa da Norrsken Foudantion, uma organização sueca. O objetivo é identificar e apoiar as 100 startups mais promissoras do mundo, tendo em conta o seu potencial para gerar mudanças significativas na saúde, educação, meio ambiente, acesso à energia, bem como em outras questões sociais e ambientais utilizando modelos de negócio inovadores. Desde o nascimento da Smartex que estão focados em criar soluções práticas e inovadoras e continuam com uma missão muito clara em mente: transformar a indústria têxtil. Neste momento estão a desenvolver soluções que utilizam dados de alta qualidade para conectar as diferentes etapas da cadeia de abastecimento, promovendo a modernização e a digitalização do setor. Prometendo surpreender em 2025, a Smartex revela que o futuro passa por aprofundar o impacto das tecnologias e alargar a sua aplicação a outros setores desta industrial. A imagem das empresas selecionadas nesta edição apareceu projetada na Torre Nasdaq, em Times Square (Nova Iorque) durante a Semana do Clima. Na opinião da Smartex este foi o “cenário perfeito” para mostrar estas 100 maneiras de melhorar o futuro, simbolizando a interseção ente tecnologia, negócios e sustentabilidade. “É disto que precisamos: pessoas e empresas dedicadas a criar soluções tangíveis e escaláveis para um futuro melhor”, concluem.  

Recrutamento de Técnico/a Superior para a U.Porto Inovação

    PROCESSO DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DE UM/A TÉCNICO/A SUPERIOR PARA A U. PORTO INOVAÇÃO, EM REGIME DE CONTRATO DE TRABALHO DE DIREITO PRIVADO A TERMO RESOLUTIVO CERTO Tendo por base a proposta de abertura do processo de recrutamento, foram definidos como requisitos mínimos: a) Habilitações literárias - Licenciatura em Ciência dos Computadores; ou Ciência da Informação; ou Engenharia e Gestão Industrial; ou Engenharia Eletrotécnica e de Computadores; Engenharia Informática e Computação; Inteligência Artificial e Ciência de Dados; Matemática; ou em Matemática Aplicada; b) Domínio, oral e escrito, das línguas portuguesa e inglesa (nativo, B1 ou B2).   As pessoas candidatas admitidas serão sujeitas aos métodos de seleção Avaliação Curricular e, eventualmente, Entrevista Profissional. A classificação na avaliação curricular será obtida consoante os fatores abaixo identificados, comprovadamente reunidos pelos/as candidatos/as: a) Valorização da classificação final obtida no grau de Licenciatura; b) Mestrado em área relevante para as funções a desempenhar; c) Experiência profissional em tecnologias da informação e comunicação (TIC); em sistemas de informação; em gestão de dados; em transferência de tecnologia; em propriedade intelectual; d) Conhecimentos em tecnologias da informação e comunicação (TIC); em sistemas de informação; em gestão de dados; em transferência de tecnologia; em propriedade intelectual; e) Motivação, a indicar na carta de candidatura; f) Disponibilidade imediata, considerando-se como tal, a disponibilidade para iniciar funções em 30 dias após notificação pela U.Porto, a indicar na carta de candidatura; g) Disponibilidade para deslocações nacionais e internacionais, a indicar na carta de candidatura.       As candidaturas deverão ser formalizadas no sistema de submissão de candidaturas online disponível no site da Reitoria da Universidade do Porto, até ao dia 26 de dezembro de 2024. Mais informação sobre o recrutamento pode ser encontrada aqui.    

Spin-off U.Porto adquirida por gigante internacional

  “Após quase duas décadas de trabalho árduo e dedicação, anunciamos que a Bullet Solutions foi adquirida pela Kinetic, uma empresa da Volaris Group reconhecida globalmente pela sua excelência e inovação na área do software”. Foi com estas palavras que Pedro Fernandes, CEO da Bullet Solutions, anunciou a recente aquisição da spin-off da Universidade do Porto, classificando-a como “um motivo de celebração mas também uma acrescida sensação de responsabilidade”. Tudo começou em 2020, com uma abordagem inicial e de caráter exploratório cujo objetivo foi dar a conhecer a natureza das operações da Bullet Solutions, avaliar o seu nível de maturidade e obter alguns indicadores financeiros que permitissem à Volaris uma primeira análise da empresa. A política estratégica da Constellation Software, detentora da Volaris, distingue-se pela aquisição de empresas com o objetivo de fortalecer o seu portfólio. Historicamente falando, a Constellation Software “até hoje nunca vendeu nenhuma das cerca de 1.000 aquisições, tendo crescido até aos 50 mil colaboradores e 8,4 biliões de receitas”, explica Pedro Fernandes. Assim, a equipa da Bullet Solutions viu aqui uma oportunidade de integrar um grupo com visão a longo prazo, onde “o crescimento sustentável, a criação de sinergias entre as empresas e a manutenção da identidade, equipa e cultura são prioridades”. Sem precipitações de nenhum dos lados e com uma decisão comum de não avançar no imediato, as duas empresas mantiveram contactos trimestrais. Depois, à medida que a Bullet Solutions crescia, novos interlocutores, incluindo o CEO da Kinetic (empresa da Volaris), foram integrados nas reuniões que se seguiram. “No último trimestre de 2023 recebemos, então, uma proposta que correspondia às nossas expectativas”, revela Pedro Fernandes, CEO. Seguiu-se um processo de due dilligence que se estendeu por oito meses e que culminou na assinatura dos contratos. “Embora exaustivo, este processo permitiu um profundo conhecimento mútuo entre as partes, assegurando que ambas tinham confiança no passo que estavam a dar”, diz o antigo estudante da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP). "Passar de uma pequena equipa para uma estrutura com milhares de profissionais" Aspetos como a manutenção da equipa da Bullet Solutions e a preservação da identidade e cultura da empresa foram princípios orientadores para o processo, e muito atrativos para a spin-off. “Ao longo de quatro anos a Volaris conseguiu transmitir-nos uma visão clara do que seria o futuro da Bullet Solutions sob a sua tutela. Além disso, estando os direitos da nossa equipa e o legado construído ao longo de quase duas décadas devidamente assegurados, o valor global da proposta revelou-se bastante atrativo”, refere Pedro Fernandes. Com esta aquisição, são expectáveis haverá algumas alterações importantes no que diz respeito, por exemplo, a boas práticas já amplamente testadas pela Volaris. “Entre as áreas de maior intervenção na Bullet Solutions encontram-se o software utilizado, a segurança (que foi a primeira grande preocupação abordada), o acesso a formações e a um vasto conhecimento acumulado, bem como a integração numa ampla rede de profissionais”, explica o CEO. A juntar a isso, a estrutura organizacional da Bullet Solutions foi significativamente reformulada, com a criação e reestruturação de novos departamentos que agora servem como pilares estratégicos para impulsionar a eficiência operacional e promover o crescimento sustentável. “Esses departamentos foram concebidos para fortalecer a coordenação entre as áreas-chave da empresa, garantindo uma maior agilidade na tomada de decisões e um alinhamento mais eficaz com os objetivos de longo prazo da organização”, refere Pedro Fernandes. O CEO acrescenta que tudo isso se refletiu na sensação de terem passado “de uma pequena equipa para uma estrutura com milhares de profissionais disponíveis para oferecer suporte e aconselhamento”. Futuro passa pelo cliente, pelo processo e por novos mercados A Bullet Solutions é uma empresa spin-off U.Porto, que acolheu a chancela em 2019. Desenvolve software que possibilita a geração automática de horários (timetabling) para mais de uma centena de instituições de ensino superior no mundo inteiro. A plataforma desenvolvida pela Bullet Solutions pode fazer poupar até 90% do esforço e custo associados ao processo manual e complexo de geração de horários.  Assume-se como uma empresa com um “foco inabalável na satisfação do cliente”, visão compartilhada pelos seus novos proprietários. “Os clientes podem continuar a esperar os mesmos rostos familiares bem como a mesma dedicação de cada um de nós”, diz Pedro Fernandes. Atualmente, estão totalmente focados na melhoria contínua do seu produto, na otimização dos processos para proporcionar um serviço cada vez mais eficiente e também na expansão para novos mercados. Com o crescimento da equipa – associado à aquisição – a Bullet Solutions espera continuar a responder às exigências do mercado, dando continuidade ao trabalho que tem vindo a desenvolver nos últimos anos. Tendo agora o apoio de um grande grupo internacional, a empresa prevê que será possível acelerar este crescimento de forma ainda mais segura e sustentada. “Como cofundador da Bullet Solutions sinto um imenso orgulho ao testemunhar o crescimento da nossa empresa e a sua capacidade de embarcar neste novo capítulo ambicioso. Todo este processo assegurou-nos, da parte da Volaris, que será uma relação duradoura e frutífera. O nosso objetivo agora é demonstrar que o investimento que fizeram em nós foi a escolha certa”, conclui o CEO.

Comitiva da U.Porto visita empresa Casa Alta

  Foi no início do mês de novembro que uma comitiva da Universidade do Porto rumou às instalações da Casa Alta, empresa sedeada no Alentejo. A sessão A2B (Academia to Business) contou com a presença de uma dezena de cientistas da Universidade, das mais diversas áreas de estudo, interessados em conhecer melhor a empresa alentejana que tem no azeite o seu principal foco. A produção de azeite em Portugal tem registado recordes sucessivos nos últimos anos, sendo um setor com um enorme potencial de crescimento. A Casa Alta tem sido uma assumida promotora da área, e pretende continuar a apoiar o desenvolvimento da agroindústria nacional através da estimulação do crescimento do setor oleícola e da produção sustentável de azeite. As preocupações da empresa são tanto de caráter económico como ambiental. Esta instalação da Casa Alta no Alentejo recolhe, atualmente, bagaço de azeitona de duas fases de lagares no Alentejo com o objetivo de extrair óleo a partir desta biomassa, obtendo assim o caroço e bagaço de azeitona extratado. Assim, foram vários os investigadores da U.Porto interessados em expor aos seus trabalhos aos representantes da Casa Alta, na esperança que daí possam surgir colaborações frutíferas. É o caso de Soraia Neves, investigadora auxiliar do CEFT, Centro de Estudos de Fenómenos de Transporte, Unidade de Investigação da Faculdade de Engenharia da U.Porto. Na opinião da cientista, este tipo de encontros é uma “situação vantajosa tanto para a academia como para a indústria, uma vez que cria um espaço para a partilha de conhecimento e o confronto de desafios, facilitando o encontrar de soluções com impacto”. A engenheira química achou particularmente interessante poder observar os processos da empresa, assim como perceber que “existem empresas portuguesas a investir em processos disruptivos e a procurar ativamente novas ideias e soluções”, acrescenta. Além da experiência, Soraia Neves trouxe para “casa” uma amostra de bagaço de azeitona, cedida pela empresa. Irá utilizá-la para “explorar novas aplicações do subproduto no tingimento de têxteis”, trabalho que está a desenvolver em colaboração com investigadores do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra. Além de Soraia Neves, investigadores das faculdades de Ciências, Engenharia, e Farmácia, bem como cientistas do CIIMAR e do GreenUPorto quiserem marcar presença. O grupo teve oportunidade de oportunidade de visitar a unidade de extração de óleo de bagaço de azeitona da empresa e também a Zeyton, uma startup tecnológica lá sediada que produz nutracêuticos também a partir do bagaço de azeitona, usando uma tecnologia patenteada e amiga do ambiente A Casa Alta junta-se, assim, à “família A2B”, esse grande grupo de empresas e cientistas apostados em aproximar cada vez mais o meio académico do empresarial. O objetivo das sessões A2B é apoiar o esforço de inovação da indústria, promovendo o encontro entre grupos de investigação e empresas com o intuito de formar parcerias que assegurem uma maior eficácia da transferência e valorização de conhecimento. Estas sessões, que podem ter lugar tanto na Universidade como nas empresas, proporcionam o reforço dos laços entre os investigadores e os membros da indústria, criando assim as condições ideais para uma investigação aplicada aos desafios que as empresas enfrentam num mundo cada vez mais competitivo. As sessões A2B começaram em 2011 e, desde então, já se realizaram mais de 70 encontros.

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