Já são conhecidos os projetos vencedores da 8.ª edição do BIP PROOF, o programa promovido pela U.Porto Inovação com o objetivo de financiar projetos inovadores desenvolvidos no ecossistema de investigação da Universidade do Porto, apoiando-os na execução de provas de conceito.
Nesta edição 2025/2026 serão, ao todo, 11 os projetos financiados e cada um vai receber até 10 mil euros. Foram selecionadas oito inovações da área da Saúde e três da área da Energia. A saber, na área da Saúde:
AI4BirthCare: decisões médicas mais seguras, partos mais tranquilos
Fatores como a idade materna avançada ou limitações dos serviços de obstetrícia podem tornar o momento do parto desafiante. Urge, assim, ter ferramentas de apoio à tomada de decisões médicas, como é o caso do AI4BirthCare, desenvolvido por uma equipa multidisciplinar da .Porto.
“É um sistema baseado em dados, criado para prever e prevenir lesões maternas relacionadas com o parto”, explica a equipa liderada pela investigadora Dulce Oliveira, do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI), e da qual fazem parte também Rita Moura, Nilza Remião e Daniel Fidalgo, do mesmo centro de investigação. Ao grupo juntam-se também Marina Moucho, da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP) e João Ferreira, da Faculdade de Engenharia (FEUP) e da spin-off U.Porto DIGESTAID.
O sistema proposto utiliza informação específica de cada grávida – medições anatómicas, ecografias, dados pessoais, etc – para fornecer “quase de imediato, avaliações de risco durante as consultas de rotina no final da gravidez”. O principal objetivo é informar os médicos sobre os riscos de lesão de cada grávida, identificar as áreas pélvicas mais suscetíveis a lesão e prever a probabilidade de um parto bem-sucedido.
Além de tornar as decisões médicas mais seguras e eficazes, o AI4BirthCare também reduz os custos associados às complicações maternas e aumenta a qualidade de vida da mulher a longo prazo. “Esta abordagem pode ser aplicada em diferentes contextos, desde maternidades públicas a hospitais privados ou clínicas especializadas”, refere a equipa, acrescentando ainda que uma das vantagens da solução é a sua “arquitetura flexível”, permitindo chegar a regiões com menos recursos através de soluções de telemedicina.
“Deste modo, o AI4BirthCare contribui não só para melhorar os cuidados de saúde materna e proteger a qualidade de vida das famílias, mas também para impulsionar a inovação tecnológica e científica em saúde, criando valor para profissionais, instituições e sociedade no seu conjunto”, referem.
O facto de esta inovação colmatar, na opinião dos cientistas, uma “lacuna importante nos cuidados de saúde materna”, chamou à atenção dos avaliadores do BIP PROOF. O valor angariado será para garantir a concretização da prova de conceito e também investir em recursos humanos. A equipa também prevê continuar a desenvolver a interface e o software “com a implementação das funcionalidades principais e a criação de relatórios de apoio à decisão médica”.
“Com o apoio do BIP PROOF vamos avançar para o desenvolvimento de um MVP (minimum viable product), que será crucial para demonstrar de forma prática e convincente o valor da nossa solução”, explicam as cientistas. Pretendem, assim, captar o interesse de potenciais parceiros, investidores e programas de apoio.
DiaGUTis: reutilizar medicamentos para cuidar do intestino na diabetes.
 
A diabetes é uma doença crónica e progressiva que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. A ela estão associadas complicações gastrointestinais, que podem atingir “até 75% dos pacientes e comprometer de forma significativa a sua qualidade de vida”. No entanto, as opções terapêuticas disponíveis para tratar essas complicações “continuam limitadas, representando uma lacuna nos cuidados de saúde prestados a pacientes com diabetes”.
As palavras são da equipa responsável por criar o DiaGUTis, uma proposta inovadora que “explora a reutilização de medicamentos já conhecidos e aprovados para outras indicações terapêuticas, mas que demonstram ter a capacidade de prevenir a remodelação gastrointestinal que surge na diabetes”.
Margarida Duarte Araújo, investigadora do Laboratório Associado de Química Verde da Rede de Química e Tecnologia (LAQV@REQUIMTE) e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) é a responsável pela ideia, acompanhada por Marisa Esteves Monteiro, também do LAQV@REQUIMTE, Manuela Morato, do LAQV@REQUIMTE e da Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP), e Vera Costa, da FFUP, do Instituto para a Saúde e Bioeconomia (i4HB) e do UCIBIO.
Os dados preliminares obtidos no último ano são promissores: “num modelo animal de diabetes, um antagonista do recetor AT1 da angiotensina II (ARA) foi capaz de prevenir a remodelação gastrointestinal”. Até porque a diabetes não afeta apenas os seres humanos: “cerca de 1 em cada 230 gatos e 1 em cada 300 cães podem desenvolver diabetes”, explicam as cientistas. Estas semelhanças entre humanos e animais tornam os estudos em cães e gatos muito valiosos para a investigação de novos tratamentos, “ajudando no desenvolvimento de medicamentos para uso humano e abrindo caminho para um novo paradigma no tratamento das complicações gastrointestinais da diabetes”.
Com o valor angariado no BIP PROOF, a equipa pretende concluir os ensaios pré-clínicos e comprovar o potencial terapêutico da inovação. As cientistas acreditam que o DiaGUTis pode ter impacto a vários níveis. Além de poder melhorar a vida de pessoas com diabetes, “também pode ter benefícios reais para animais de companhia”. Além disso, o facto de reutilizar medicamentos que já existem – só não são usados para tratar esta condição em concreto – é uma solução mais económica, rápida e eficiente de mitigar o problema.
“Trata-se de uma abordagem ponderada, que tem vindo a atrair o interesse da indústria farmacêutica, elevando a expetativa de reduzir o tempo necessário para que a terapêutica chegue aos pacientes”, concluem.
DISCARE: apostar na regressão espontânea da hérnia discal
 
 
A principal preocupação do DISCARE, um projeto desenvolvido por cientistas do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto (i3S) e do Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ), é a hérnia discal. A invenção pretende garantir “uma terapia minimamente invasiva, fisiológica e individualizada, com o objetivo de revolucionar o tratamento da hérnia e melhorar a qualidade de vida dos pacientes”.
A hérnia discal é atualmente reconhecida como “a causa principal de cirurgia à coluna”, explicam os cientistas Carla Cunha, Bárbara Macedo, Rui Pereira, Helena Azevedo (todos do i3S) e Paulo Pereira (CHUSJ). “Por estar diretamente associada a forte morbilidade, tem consequências socioeconómicas muito relevantes”, prosseguem.
A maior parte das hérnias discais acaba por regredir naturalmente, “total ou parcialmente, sem cirurgia, tendo a resposta inflamatória um papel central no processo de regressão espontânea da hérnia”. No entanto, os tratamentos atuais incluem medidas conservadoras e cirurgias invasivas, faltando, na opinião da equipa, “terapias eficientes”.
Falamos, assim, de uma terapia “imunomudoladora clinicamente relevante, que visa impulsionar os mecanismos fisiológicos de regressão espontânea da hérnia, o que pode resultar num avanço significativo no tratamento da coluna e na qualidade de vida dos pacientes”, explicam.
Com o financiamento obtido no BIP PROOF, a equipa vai desenvolver e validar in vivo um modelo de entrega de células humanas que visa impulsionar os mecanismos fisiológicos de regressão espontânea. Vão investir ainda num plano de exploração, incluindo análise de mercado.
 
E-MERGIR: apoio digital que fortalece a saúde emocional e sexual após cancro da próstata
 
O projeto E-MERGIR saiu da mente de duas investigadoras da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP): a docente Ana Luísa Gomes e a doutoranda Sonia Pieramico. Este é o primeiro projeto da FPCEUP apoiado no BIP PROOF.
Trata-se de um programa de intervenção psicológica digital para sobreviventes de cancro de próstata. “Este tipo de cancro é o segundo mais diagnosticado em todo o mundo e os tratamentos associados colocam inúmeros desafios físicos, emocionais e sexuais que contribuem para níveis elevados de sofrimento psicológico nos utentes”, explicam as investigadoras. O E-MERGIR foi desenvolvido tendo por base as necessidades identificadas pelos próprios utentes, e oferece “apoio psicológico estruturado e personalizado” promovendo a saúda mental e sexual dos sobreviventes”. Aumenta, assim, a acessibilidade a cuidados de saúde especializados ao longo do período da doença.
As investigadoras descrevem o E-MERGIR como uma “solução atrativa, robusta e escalável, com implicações sociais, tecnológicas, científicas e clínicas de relevo e colmatando uma lacuna crítica nos cuidados de saúde oncológicos”.
Os resultados obtidos no estudo piloto já demonstraram o potencial do projeto, representando uma resposta adequada a necessidades não atendidas em saúde mental e sexual “e ultrapassando barreiras convencionais associadas à procura de tratamento como estigma, tempos de espera e/ou custos”, explicam.
Os 10 mil euros agora conquistados contribuirão para refinar a solução e implementar o estudo par avaliação da eficácia terapêutica do E-MERGIR: “Partindo do protótipo já existente vamos avançar com a integração das sugestões de melhoria provenientes de utilizadores durante o estudo piloto, de forma a tornar o E-MERGIR mais apelativo e, assim, otimizar a experiência de utilização”. Vão avançar também com um ensaio clínico para estudar a eficácia terapêutica e reforçar a estratégia de transferência de conhecimento da Universidade para o mercado.
As investigadoras preveem que o E-MERGIR permita uma “redução de sobrecarga nos sistemas de saúde, revestindo-se de um forte impacto económico e social” uma vez que tem “grande potencial para exploração no mercado”.
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INFLAMEGUT: antecipar respostas terapêuticas e personalizar tratamentos gastrointestinais
 
INFLAMEGUT é um “modelo inovador que reproduz de forma realista a inflamação intestinal humana, permitindo testar terapias de forma mais preditiva e personalizada”. A invenção foi criada no i3S, por quatro investigadores: Bruno Sarmento, Sofia Barros, Bárbara Ribeiro e Catarina Leite Pereira.
A tecnologia pretende criar um “modelo tridimensional inovador para reproduzir a inflamação intestinal humana”, explica o grupo. Oferecerá, desta forma, uma “alternativa mais preditiva, ética e económica aos modelos animais e culturas celulares em monocamada mais tradicionais”. O INFLAMEGUT é capaz de mimetizar as principais camadas do intestino, nem como o ambiente inflamatório, “permitindo avaliar a resposta inflamatória e a integridade das diferentes camadas do intestino”, referem.
A tecnologia proposta pode acelerar o desenvolvimento de novos fármacos e reuzir a dependência de modelos animais, representando uma grande mais-valia para o mercado. Ao mesmo tempo, abre caminho para tratamentos mais eficazes e adaptados a cada doente, podendo vir a ser aplicado em várias doenças gastrointestinais.
“Integrando diferentes tipos de células humanas e também organoides obtidos a partir de biópsias de pacientes, o INFLAMEGUT ambiciona tornar-se uma ferramenta de referência no estudo de doenças inflamatórias intestinais e no desenvolvimento de terapias mais eficazes e personalizadas”, referem os cientistas.
Para a equipa, o apoio dado agora no BIP PROOF é “fundamental para fazer avançar o desenvolvimento do modelo 3D de inflamação intestinal, permitindo a sua otimização e validação, bem como a tentativa de tornar este modelo específico para cada paciente”. Os investigadores explicam: “Numa primeira fase, o modelo será construído tendo como base procedimentos de isolamento de células de pacientes associado a meios de manutenção de células e consumíveis de suporte físico dos modelos para preparar estruturas em 3D que imitam o ambiente intestinal. Numa segunda fase, o modelo será validado em testes com fármacos que possuem eficácia demonstrada contra inflamação para mostrar como o modelo pode ser útil na previsão de resultados e como uma ferramenta preditiva para avaliar novos possíveis tratamentos.”
Além da criação do um protótipo para demonstração junto de parceiros e investidores, está também previsto o desenvolvimento da estratégia de proteção da propriedade intelectual para aproximar a tecnologia do mercado.
LitCure: utilizar derivados do ácido litocólico para combater o cancro da mama triplo-negativo
 
Lithocholic Acid Derivatives for Application in Triple-Negative Breast Cancer Therapy. Ou LitCure, como lhe chama a equipa por trás deste projeto focado no cancro da mama triplo-negativo, um dos subtipos mais agressivos e com opções terapêuticas muito limitadas.
Ivo Dias, investigador do LAQV-REQUIMTE na Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP) é o responsável pelo projeto. Da equipa fazem ainda parte Maria Cardoso, José Borges e Xavier Correia, todos do LAQV-REQUIMTE, e também Román Fernández (CiMUS), Natacha Rochel (IGBMC) e Nuno Vale, do RISE-Health e da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP). Em conjunto, desenvolveram uma “tecnologia farmacológica baseada em derivados do ácido litocólico, um composto natural presente na bílis, capaz de ativar o recetor de vitamina D, despoletando efeitos antitumorais com potencial para tratar este tipo de tumor”, explicam.
Estas novas moléculas apresentam uma atividade antitumoral “particularmente notável, superando de forma significativa o efeito de fármacos convencionais usados no tratamento deste cancro”, acrescentam.
A maioria das terapias dirigidas para o recetor de vitamina D provocam, frequentemente, efeitos adversos graves, como é o caso de níveis excessivos de cálcio no sangue que podem ser fatais. As moléculas do LitCure, em contrapartida, foram “concebidas para evitar este risco e manter a elevada eficácia”. Uma abordagem inovadora que integra desenho computacional, síntese química e ensaios biológicos rigorosos para “desenvolver candidatos terapêuticos de alta eficácia e seletividade, abrindo caminho para a descoberta de tratamentos para o cancro de mama triplo-negativo mais eficientes, bem tolerados e seguros”.
Para a equipa, o financiamento do BIP PROOF é uma confirmação da “qualidade do projeto” e representa um “incentivo decisivo para acelerar a investigação”. Com os 10 mil euros vão apostar na otimização estrutural e biológica da tecnologia, na obtenção de dados robustos sore o mecanismo de ação e segurança, no reforço da propriedade intelectual e na captação de parceiros industriais estratégicos.
A equipa considera que esta é uma solução escalável e competitiva, com possível aplicação em outras patologias associadas ao recetor de vitamina D – outros tipos de tumor, doenças autoimunes, doenças degenerativas – fazendo do LitCure “uma tecnologia altamente atrativa e com grande potencial de aplicação e internacionalização no mercado”.
 
NeoAlert: identificar precocemente lesões cerebrais em recém-nascidos, decorrentes de sépsis
 
“Verificam-se entre 1,3 a 3 milhões de casos anuais de sépsis neonatal em todo o mundo. Entre os sobreviventes, um número relevante de recém-nascidos desenvolve encefalopatia, que pode associar-se a défices neurológicos permanentes”. Os dados são preocupantes e alarmaram uma equipa de cientistas liderada por Laura Oliveira (ICBAS). Em conjunto com três colegas da mesma instituição – Paula Ferreira, Sales Fialho e Pedro Oliveira e com Carmen Carvalho, Liliana Pinho e Liliana Teixeira, do Centro Materno Infantil do Norte (CMIN), desenvolveu o NeoAlert.
Falamos de um projeto alicerçado em resultados pré-clínicos que “apontam para o potencial de um biomarcador inovador na encefalopatia associada à sépsis neonatal”, explicam as cientistas. E responde a uma necessidade emergente: na prática clínica, os neonatologistas não têm ferramentas que permitam identificar precocemente estas lesões cerebrais, o que limita a intervenção atempada e eficaz. O NeoAlert “valida pela primeira vez em recém-nascidos a utilidade clínica deste biomarcador para apoiar um diagnóstico mais precoce”.
“O apoio do BIP PROOF é um passo determinante”, refere a equipa, uma vez que vai permitir realizar a primeira validação clínica do biomarcador. Esta etapa é essencial para “transformar uma hipótese científica numa solução com impacto real nos cuidados intensivos neonatais”. Ao permitir um diagnóstico mais precoce, o NeoAlert procura reduzir complicações e apoiar decisões medicas no momento certo.
A longo prazo, a “visão é disponibilizar à prática clínica uma ferramenta que possa, a partir de uma única análise, fornecer informação crítica sobre a presença de sépsis e sobre a existência de lesão cerebral associada”, referem.
Criado como uma tecnologia escalável, poderá ser aplicada em hospitais altamente equipados, mas também em contextos com recursos limitados, “promovendo maior equidade em saúde neonatal”. Além do impacto clínico óbvio e direto, o NeoAlert tem potencial para “diminuir os custos sociais e económicos associados à incapacidade neurológica a longo prazo, traduzindo-se em benefícios concretos para os doentes, as famílias e para os sistemas de saúde”, concluem.
WeFetal: monitorizar o bebé em tempo real, no conforto de casa
A gravidez é um período em que a pessoa tem der ser constantemente monitorizada, de forma a prevenir complicações. E se isso pudesse ser feito no conforto da casa? Foi o que pensaram os investigadores Duarte Dias, Francisco Vieira e João Paulo Cunha, do INESC TEC ao criar o WeFetal. O seu desenvolvimento contou ainda com a colaboração de Maria do Carmo Fernandes e Catarina Moreira, do mesmo centro de investigação.
Uma cinta inovadora e confortável que permite monitorizar movimentos fetais em casa. Através de sensores colocados na cinta e de uma aplicação digital, o WeFetal tem como objetivo “detetar, quantificar e localizar em tempo real os movimentos do bebé”. Desta forma, oferece tanto às mães como aos profissionais de saúde uma “forma simples, objetiva e contínua de acompanhar o bem-estar do feto, reduzindo riscos associados a complicações que podem levar a partos de risco ou mesmo a perdas gestacionais”, explicam os investigadores.
Graças ao BIP PROOF, a equipa vai agora avançar para testes clínicos com grávidas num hospital parceiro. Vão investir também em melhorar o desempenho do sistema e validar a sua utilização em cenários reais de forma a “consolidar os resultados necessários para avançar para uma fase de maior maturidade tecnológica”.
O WeFetal aparece como uma solução com potencial para “transformar o acompanhamento pré-natal” fornecendo uma solução que é ao mesmo tempo acessível, cómoda e fiável. “Isto traduz-se em maior tranquilidade para as mães e em informação mais robusta para os médicos”, concluem.
 
E na área da Energia:
DigiCrete 2.0: argamassa inovadora para impressão 3D que reduz o impacto ambiental e potencia o design.
“Uma forma mais sustentável, criativa e circular de construir” – é desta forma que os investigadores Ana Mafalda Matos, Mário Pimentel, Paula Milheiro, Bárbara Rangel e Humberto Varum, todos do CONSTRUCT – Instituto de I&D em Estruturas e Construção da FEUP, descrevem o DigiCrete 2.0.
Esta argamassa inovadora para fabrico digital (impressão 3D) é uma solução sustentável e versátil e permite “criar peças ou componentes com menor impacto ambiental e maior liberdade de design”, explicam os investigadores. Ao substituir cimento por matérias alternativas e permitir o fabrico digital de peças únicas, o “DigiCrete 2.0 reduz o impacto ambiental e estimula a inovação no setor”, acrescentam. O produto “alia desempenho técnico a uma estética diferenciadora, promovendo uma construção mais circular, criativa e eficiente”.
Estas características fizeram com que o painel de avaliadores do BIP PROOF decidisse atribuir uma das tranches de 10 mil euros ao DigiCrete 2.0. Visto como “decisivo para validar a tecnologia em condições próximas da realidade industrial”, o financiamento será utilizado para demonstrar o desempenho da argamassa em aplicações reais e de maior dimensão, depois de já ter “sido testada com sucesso em pequena escala”, dizem. A equipa vai apostar na construção de protótipos funcionais à escala real, bem como reforçar a proteção da propriedade industrial.
Para os investigadores, esta fase de demonstração semi-industrial é “essencial para comprovar a viabilidade da tecnologia em contexto relevante”, bem como para reduzir o risco tecnológico e atrair eventuais parceiros interessados na invenção.
“O DigiCrete 2.0 é escalável por diferentes vias e pode posicionar Portugal como referência nesta nova cadeia de valor”, conclui a equipa.
 
GENESIS 2.0: produção segura e sustentável de hidrogénio e eletricidade para pequenos barcos
Para a equipa por detrás do GENESIS 2.0 é urgente desenvolver soluções alternativas sustentáveis no setor marítimo face ao “aumento exponencial do consumo de energia elétrica e à elevada dependência, principalmente no caso de pequenas embarcações, de combustíveis fósseis e poluentes. Foi com isso em mente que Alexandra Pinto, Diogo Silva, Josefina Ferreira e Liliana Carneiro, investigadores do Laboratório Associado em Engenharia Química (ALiCE) e do CEFT – Centro de Estudos de Fenómenos de Transporte da FEUP, puseram mãos à obra.
Posicionando-se como uma “solução limpa, segura e eficiente”, o GENEIS 2.o produz hidrogénio e eletricidade diretamente no barco, sem emissões. Para isso utiliza “cartuchos recarregáveis e subprodutos valorizáveis contribuindo ativamente para a transição energética e descarbonização do setor marítimo”, explica a equipa.
O projeto foi concebido para aplicações de consumo energético moderado e “com especial foco em pequenas embarcações marítimas de recreio e pesca”. Neste contexto hidrogénio do inovador sistema modular é “gerado em minutos através da reação de um sal com água, sem necessidade de ligação à rede elétrica, operando a temperaturas e pressões moderadas, e é convertido de imediato em eletricidade a bordo”.
O valor angariado no BIP PROOF será aplicado na “construção de um protótipo-piloto com cerca de 3 kW de potência, incluindo a aquisição de materiais e componentes críticos, realização de testes de segurança e validação em embarcações de recreio e de pesca”, referem.
A equipa acredita que estes 10 mil euros serão determinantes “para a validação do sistema em ambiente real, permitindo a a passagem de um nível de prontidão tecnológica (TRL) de 4-5 para 6, fundamental para a aproximação ao mercado”. Serão também iniciados acordos com operadores do setor.
 
HydroClean: garantir água limpa e segura sem recorrer a químicos nocivos.
A HydroClen surge como resposta ao desafio de controlar os microrganismos nos sistemas de água sem recorrer à libertação de químicos nocivos. Ao mesmo tempo, “contribui também para a mitigação da resistência antimicrobiana”. Quem o explica são os seus criadores: Ana Alexandra Pereira, Luís Melo, Marta Redondo e Ana Rosa Silva, investigadores do ALiCE e do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE), da FEUP.
A principal mais-valia deste projeto é oferecer uma “alternativa segura, sustentável e sem consumo de energia aos métodos de desinfeção atuais, que muitas vezes libertam químicos nocivos na água”, explicam. Usando a HydroClean é possível não só reduzir custos como “prolongar a vida útil dos equipamentos e, sobretudo, garantir uma água de melhor qualidade microbiológica para aplicações industriais críticas e para a sociedade”. No fundo, e como acrescenta a equipa: “contribuir para um uso mais eficiente e responsável deste recurso tão escasso: a água.”
Para a equipa, o apoio do BIP PROOF será “fundamental” a dois níveis: por um lado, no desenvolvimento de uma unidade piloto para “otimização das condições de operação da tecnologia e para a realização dos testes em ambientes reais, promovendo o contacto com indústrias da área”; por outro, no avanço do estudo dos mecanismos de ação da tecnologia e consolidação dos resultados experimentais, “numa perspetiva de segurança na aplicação da solução”
A HydroClean destina-se a sistemas onde a qualidade de água é crítica: produção de energia, semicondutores, indústria farmacêutica. Aqui, os investigadores esperam alcançar um impacto significativo na melhoria da qualidade microbiológica da água disponibilizando, em última análise, uma “água mais segura, ao mesmo tempo que se promove a inovação sustentável”, concluem.
 
Sobre o BIP PROOF
Criado pela U.Porto Inovação em 2018, o programa BIP PROOF  já distinguiu um total de 55 ideias inovadoras com mais de 600 mil euros. Ao longo das suas várias edições, a inciativa tem demonstrado grande impacto em áreas como colaborações com entidades externas (seja academia, indústria ou instituições públicas), publicações e nova investigação e também aspetos socioeconómicos, destacando-se os mais de 2 milhões de euros em financiamento arrecadados pelas equipas ao longo do tempo.
Já foram vários os parceiros do BIP PROOF. A Fundação Amadeu Dias (FAD) aliou-se ao programa logo na primeira edição, mantendo-se até ao presente. No ano de 2024, juntou-se a Caixa Geral de Depósitos que também se manteve neste edição 2025/2026, que contou também com o apoio do UI-TRANSFER 2.0, um projeto cofinanciado pela União Europeia através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, enquadrado no Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (COMPETE 2030) do Portugal 2030.
O principal objetivo do BIP PROOF é criar um sistema de provas de conceito. Essas podem traduzir-se em construção de protótipos de viabilidade técnica, realização de ensaios in vitro/in vivo, estudos de viabilidade ou de mercado, entre outras, para que possam contribuir para a maturação da tecnologia e aproximação ao mercado.
“O BIP PROOF é uma iniciativa que demonstra o que nós, na Universidade do Porto, queremos fazer: trazer a investigação para a sociedade em geral”. São palavras de Pedro Rodrigues, Vice-Reitor para a Investigação e Inovação na U.Porto, quando questionado sobre a importância de uma “iniciativa a manter no futuro”.