Spin-off da U.Porto vence concurso de startups da Web Summit 2024

  A Intuitivo, uma empresa spin-off da Universidade do Porto e atualmente incubada na UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto, foi a grande vencedora da Startup Competition da Web Summit 2024, uma competição que contou com a participação de mais de 100 startups. Escolhida pelo público e pelos especialistas do júri, a Intuitivo é uma EdTech que tem como missão apoiar as instituições de ensino na sua transformação digital, aumentar a produtividade dos professores e melhorar a experiência dos alunos. Fundada por três antigos estudantes da U.Porto – João Guimarães, da Faculdade de Economia da U.Porto (FEP), Duarte Oliveira e Diogo Silva, da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) – em plena pandemia COVID-19, a Intuitivo é já a responsável pela digitalização das provas de aferição em Portugal. O objetivo da empresa é que os professores passem mais tempo a ensinar e menos tempo a avaliar, através da utilização de uma plataforma de avaliação digital focada em melhorar o processo de avaliação nas escolas. João Guimarães, CEO e fundador da empresa, afirma que o prémio conquistado na Web Summit 2024 é “um grande reconhecimento”. Contudo, “não muda grande coisa, é continuar o nosso trabalho para continuar a crescer e seguir o nosso caminho”, adianta. O júri do principal concurso de negócios da Web Summit destacou a Intuitivo por “quererem ser o melhor amigo dos professores”. Além da startup da UPTEC, foram ainda distinguidas a Scoutz e a GovGPT, de um total de 105 empresas avaliadas nesta 16.ª edição do maior evento tecnológico do mundo. A Intuitivo é o segundo projeto da UPTEC a vencer a Startup Competition da Web Summit. Em 2021, a competição foi conquistada pela Smartex, também spin-off da U.Porto. Notícia escrita em parceria com a UPTEC.

"Foi um motivo de enorme orgulho estar à frente da U.Porto Inovação."

  Joana Resende foi responsável pela U.Porto Inovação entre 2020 e 2022, durante o seu mandato de Pró-Reitora da Universidade do Porto para o Planeamento, Empreendedorismo e Transferência de Conhecimento.  O período em causa, em que uma pandemia se abateu sobre o mundo, foi desafiante para todos. Joana Resende destaca esse facto, referindo que um dos maiores objetivos do seu mandato, na altura, foi “criar as condições necessárias para continuar a dinamizar a inovação na U.Porto” em contexto de afastamento, sem contacto presencial.   “Em termos globais, foi um mandato muito marcado pelas restrições da pandemia, e por isso muito desafiante. Obviamente permanecem muitos desafios em aberto, mas creio que fomos dando, em conjunto, importantes passos para avançar na resposta a esses desafios.”, refere. 1. A que U.Porto Inovação chegou quando tomou posse? Em 2020, quando cheguei à U.Porto Inovação, encontrei uma unidade com uma missão bem definida, cujo valor era já muito reconhecido na comunidade académica. Na altura a U.Porto Inovação já se destacava pelo alargado portfolio de atividades de apoio a toda a cadeia de valor da inovação na nossa Universidade.  Em particular, estavam já bem definidos os seus grandes eixos de atuação: proteção da propriedade intelectual, empreendedorismo e apoio à colaboração academia-indústria. A U.Porto Inovação era já amplamente reconhecida como um catalisador de inovação, sendo já muito visíveis os resultados de um longo caminho da Unidade na sensibilização da comunidade para a importância da proteção da propriedade intelectual, no desenvolvimento de programas de capacitação para a inovação e empreendedorismo (e.g. BIP, BIP PROOF), na animação à comunidade inovadora da U.Porto (e.g. iUP25k, IJUP Empresas) e na dinamização da comunidade empreendedora (e.g. The Circle, Enterprenow).  Foi por isso um motivo de enorme orgulho poder estar à frente desta Unidade tão revelante e ter a oportunidade de trabalhar com pessoas altamente qualificadas e que nos inspiram com o trabalho que desenvolvem.   2. Quais eram as suas expectativas para a equipa e para o trabalho a desenvolver? Foi com grande expectativa que cheguei à U.Porto Inovação. No contexto dos trabalhos de planeamento estratégico, era já clara para mim a relevância que a inovação tem na construção de uma universidade capaz de assumir um papel de centralidade na construção de uma sociedade (e de uma economia) baseada no conhecimento. Como tal, considerei que a passagem por esta Unidade, seria uma excelente oportunidade para conhecer em primeira mão o nosso ecossistema de inovação e desenvolver ações que contribuam para a sua consolidação.  A possibilidade de trabalhar com uma equipa dinâmica e proativa como esta foi sem dúvida um fator de motivação adicional. Por tudo isto, cheguei com a expectativa de que iria aprender muito, o que realmente veio a verificar-se.    3. Que objetivos conseguiu alcançar e quais ficaram pelo caminho? Um dos grandes objetivos da passagem pela U.Porto Inovação prendia-se com a valorização económica das nossas tecnologias. Nas últimas décadas, fruto do trabalho de muitas gerações de profissionais que foram passando pela U.Porto Inovação (alguns dos quais ainda lá estão), a Unidade conseguiu um notável desempenho na constituição de um portfólio de patentes sólido, não só no contexto nacional mas sobretudo no contexto internacional. Esse facto, é hoje reconhecido de forma generalizada e deve deixar-nos a todos muito orgulhosos. Contudo, ainda temos muitos passos a dar para monetizar o valor económico subjacente a estas tecnologias.  Naturalmente, não é expectável que todas as tecnologias possam ter sucesso comercial, mas o excelente trabalho desenvolvido, quer pela comunidade de inovação, quer pela equipa da U.Porto Inovação, justificaria que pudéssemos ter ido mais longe nestas matérias. Infelizmente durante o período que acompanhei a U.Porto Inovação não foi possível ir tão longe quanto eu teria gostado nesta matéria, mas deram-se passos relevantes, com a identificação de formas mais ágeis de gestão dos atos administrativos relacionados com as patentes, o apoio ao programa BIP PROOF (Programa de Provas de Conceito), com o objetivo de apoiar as tecnologias na subida dos seus TRLs e diversos projetos e programas de capacitação (quer de natureza transversal, quer em verticais especializados, como a saúde ou os oceanos). Infelizmente durante o período que passei na U.Porto Inovação, não foi possível fechar nenhum “negócio milionário” mas mesmo assim creio que o caminho foi sendo construído e que num futuro mais ou menos longínquo ainda terei oportunidade de ver esses negócios a concretizarem-se.  Adicionalmente, gostava ainda de destacar alguns objetivos de natureza mais específica mas que, de alguma forma marcaram a minha passagem pela U.Porto Inovação. Ao nível da atividade da Unidade, é importante referir que acabei por acompanhar a Unidade durante o período da pandemia e, como tal, um dos grandes objetivos definidos (em articulação com todas as estruturas da U.Porto) visava criar as condições necessárias para continuar a dinamizar a inovação na U.Porto.  Desse ponto de vista, organizamos múltiplas atividades online (e.g. Sessões A2B) ou híbridas (e.g. Entreprenow), continuamos a executar todos os atos administrativos para garantir a proteção de patentes e submetemos múltiplas candidaturas a projetos com alinhamento com a nossa atividade. Um dos objetivos deste período foi também o de consciencializar os decisores políticos e institucionais sobre o financiamento às atividades de inovação em Portugal, tendo a U.Porto Inovação participado numa plataforma nacional, criada com esse mesmo objetivo e com representação das principais congéneres das diversas IES nacionais. Em termos globais, foi um mandato muito marcado pelas restrições da pandemia, e por isso muito desafiante. Obviamente permanecem muitos desafios em aberto, mas creio que fomos dando, em conjunto, importantes passos para avançar na resposta a esses desafios.      4. Que atividades destaca nos anos em que esteve à frente da U.Porto Inovação? Muitas das atividades realizadas ao longo destes anos, podem considerar-se parte do quotidiano da U.Porto Inovação. Não obstante tratarem-se de atividades que “sobrevivem” às sucessivas lideranças da Unidade, considero que foi um privilégio poder acompanhá-las, tendo-me permitido compreender a complexidade (e o fascínio) de todos os processos de inovação.  Um dos elementos que porventura marcou a minha passagem pela U.Porto Inovação foi o de sensibilizar a comunidade para a relevância de avaliarmos o impacto das novas inovações, não só o económico, mas também o social, ambiental, etc. Desse ponto de vista, desenvolvemos nesse período, um estudo pioneiro que procurou identificar o contributo das tecnologias e spin-offs U.Porto para os objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030. Foi muito interessante perceber, uma vez mais, a diversidade de tecnologias que temos e o seu enorme potencial para resolver problemas concretos das sociedades atuais.  Em 2020, quando cheguei à U.Porto Inovação, esta tinha-se deslocado há poucos meses para as instalações da UPTEC e, nas atividades desenvolvidas, procurou-se promover uma maior colaboração entre estas duas estruturas da maior relevância para dar uma maior centralidade à U.Porto na promoção do progresso socioeconómico da nossa região (e do país) e da sua projeção internacional.  Por fim, destacar, que o mandato foi intensivo na angariação e execução de projetos financiados, que ocuparam também uma parte significativa das nossas agendas.     5. A que necessidades acredita deve responder uma equipa deste género? No meu entender, a missão do acompanhamento da cadeia de valor da inovação continua a assumir uma grande relevância na U.Porto e deve constituir o centro nevrálgico da atividade da U.Porto Inovação. Com a nossa comunidade crescentemente consciencializada para a importância da proteção da PI, é fundamental que a U.Porto disponha de uma unidade que permita às equipas envolvidas avaliar o seu grau de inovação, escolher os instrumentos mais adequados para a proteger e desenvolver uma estratégia de aproximação ao mercado.  Neste sentido, a U.Porto Inovação deve continuar a apoiar as equipas de I&D+I nos processos de gestão de tecnologias, continuar a investir em programas de prova de conceitos e apostar no desenvolvimento de parcerias estratégicas (e.g. com a UPTEC, com parceiros corporativos) para animar a comunidade a desenvolver mais tecnologias, a aumentar os seus TRLs e a levar, com sucesso as tecnologias para o mercado.   6. Na sua opinião, por onde passa o futuro da inovação na Universidade do Porto? O que falta fazer? O futuro da inovação na nossa Universidade passa, sobretudo, pelas pessoas e equipas que diariamente trabalham em prol da inovação made in U.Porto.  Em particular, é crucial que, por um lado, as equipas de I&D+I continuem motivadas para transformar os resultados dos seus projetos de I&D em inovações. Por outro lado, é fundamental que essas equipas de I&D+I continuem a beneficiar do apoio de estruturas como a U.Porto Inovação, dotando-as dos recursos e capacidades necessárias para apoiar de forma ágil e eficaz todas as fases do processo de inovação e para facilitar o avanço das mesmas.  Por fim, parece-me que um ingrediente essencial para desenhar o futuro da inovação na U.Porto é apostar na colaboração com empresas, decisores públicos e sociedade civil, no sentido de acompanhar de perto as suas necessidades e, em conjunto, identificar formas inovadoras e sustentáveis de garantir que as inovações made in U.Porto conseguem transformar-se em soluções, produtos e serviços capazes de melhorar a vida das pessoas. Por tudo isto, creio que a grande aposta para potenciar a inovação na U.Porto nos próximos anos reside na atração e pleno desenvolvimento dos talentos de todos aqueles que contribuem para o avanço do nosso ecossistema de inovação. Relativamente à questão sobre o que falta para o futuro, parece-me que o mais importante será a U.Porto Inovação continuar a dar o apoio que as equipas de I&D+I necessitam, seja em termos técnico-administrativos, seja na identificação de oportunidades de financiamento, na abertura a redes nacionais e internacionais e a outros ecossistemas de inovação e na articulação da inovação com percursos de empreendedorismo bem sucedidos. Penso que este será o fator mais determinante para garantir que o nosso ecossistema de inovação tem bases sólidas para crescer.  Não obstante, confesso que gostaria muito que fosse possível à U.Porto aumentar o valor económico do seu portfólio de patentes e creio que seria muito merecido virmos a realizar não uma – mas várias – transações economicamente relevantes com as patentes da U.Porto (seja pela qualidade e relevância das tecnologias, seja por todo o empenho e dedicação da U.Porto Inovação ao longo destes vinte anos).    

IJUP Empresas vai voltar a financiar projetos da U.Porto

O Grupo ITAU e a Soja de Portugal voltam a associar-se ao IJUP Empresas e, ao longo do próximo ano, vão financiar 4 ideias inovadoras criadas por docentes, investigadores ou estudantes da Universidade do Porto. Cada projeto vai receber até cinco mil euros, nesta iniciativa que desafia cientistas, estudantes e empresas a colaborar em projetos de investigação exploratória com caráter pluridisciplinar. Qualquer investigador/a com afiliação à Universidade do Porto pode participar no IJUP Empresas, desde que constitua equipa com, pelo menos, um estudante do 1.º ou 2.º ciclo de estudos (licenciaturas, mestrados integrados e mestrados). As candidaturas estão abertas até ao dia 18 de novembro, às 18h (hora Portugal continental), através do preenchimento do formulário que pode ser encontrado na página do programa. Aí, os interessados em participar poderão encontrar também o regulamento da iniciativa.  Nas últimas semanas a U.Porto Inovação, responsável pelo IJUP Empresas, organizou duas sessões A2B entre o Grupo ITAU e a Soja de Portugal e alguns investigadores da U.Porto, onde as empresas já puderam levantar um pouco o véu sobre os desafios propostos nesta edição. Essas áreas de interesse, para as quais os candidatos da U.Porto poderão tentar encontrar soluções e, assim, candidatar-se ao IJUP Empresas 2024, podem ser consultadas aqui. Sobre o IJUP Empresas O IJUP Empresas nasceu em 2011 para estimular nos estudantes o gosto pelas atividades e processos relacionados com a criação e valorização de conhecimento e para aproximar a comunidade académica do meio empresarial. Está integrado no programa de Iniciação à Investigação da U.Porto (IJUP Projetos Pluridisciplinares) e conta com o apoio de importantes empresas portuguesas, que veem nesta iniciativa uma oportunidade de colaborar com jovens investigadores da U.Porto em projetos relacionados com as suas áreas de atuação. Ao longo das sete edições já realizadas, dezenas de projetos foram apoiados, tendo sido envolvidos centenas de estudantes de diferentes faculdades da Universidade do Porto e, por isso, de diferentes áreas de investigação. “Tudo isso mostra que o IJUP Empresas mexe com a ciência, e é essa a intenção”, referiu Elisa Keating, professora da Faculdade de Medicina da U.Porto, que foi a primeira responsável pela iniciativa. A última edição aconteceu em 2023, ano em que o IJUP Empresas passou a ser gerido pela U.Porto Inovação. Seis projetos “made in” U.Porto receberam financiamento das empresas Galp, Grupo ITAU, MC Sonae e Soja de Portugal. As indústrias parceiras do IJUP Empresas reconhecem muito valor ao programa como referiu, na altura, Carmen Costa, do Grupo ITAU: “Vemos no IJUP Empresas a possibilidade de podermos “afinar” aquilo que é produzido pelos estudantes e investigadores para o que são as reais necessidades, de momento ou de futuro, das empresas contribuindo assim para que cada vez mais o que é produzido possa gerar valor no mercado”. Já Maria João Costa, representante da Soja de Portugal, afirma que programas como este têm “um papel relevante na formação de jovens talentos, pois proporcionam uma primeira interação com a indústria”. E, com isso, facilita também a “futura integração dos jovens nas empresas”. As candidaturas para esta edição do IJUP Empresas estão abertas entre 28 de outubro e 18 de novembro. Toda a informação está disponível no website da iniciativa e eventuais dúvidas podem ser enviadas para o email ijup.empresas@reit.up.pt O IJUP Empresas 2024 tem o apoio da Caixa Geral de Depósitos.

Caixa Geral de Depósitos é a nova parceira do The Circle

  Uma dezena spin-offs da Universidade do Porto participaram no último encontro do The Circle, o clube exclusivo para estas empresas. A sessão aconteceu nas instalações da UPTEC no passado dia 24 de outubro, enquadrada no evento BIN@.  Um dos momentos altos da reunião foi o anúncio do novo parceiro do The Circle, a Caixa Geral de Depósitos (CGD), cuja intervenção abordou o tema “Como é que a banca de retalho universal continuará a ser relevante para os seus clientes?”. A apresentação foi conduzida por Victor Ferreira, Digital Transformation Bank Manager da CGD, que trouxe uma visão relevante e atual sobre a transformação digital no setor bancário.  A CGD junta-se assim aos outros parceiros do The Circle – Câmara Municipal do Porto, Porto Business School e UPTEC -, que também marcarem presença no encontro. Foi dado também “palco” à spin-off EZ4U, na pessoa do seu CEO Vasco Vinhas. A empresa anunciou recentemente a sua aquisição pela LINK Mobility e veio partilhar a experiência com os participantes no encontro, colocando-se à disposição para esclarecer dúvidas. Depois, e como não podia deixar de ser, houve tempo para convívio e networking entre os empreendedores. Sobre o The Circle O The Circle é um clube de empresas que emergiram no ecossistema de empreendedorismo e inovação da Universidade do Porto. É uma iniciativa única que reúne as spin-offs da U.Porto em fóruns onde se debatem os principais desafios colocados às empresas que se inserem nas mais dinâmicas cadeias de valor a nível global. Desde a sua fundação, em 2016, o The Circle já reuniu nove vezes em diferentes locais emblemáticos tanto da Universidade do Porto como da cidade.  Mais informações sobre o The Circle podem ser encontradas aqui.  

BIP Acceleration 2024 premeia tecnologia para tratar a leucemia

  Atualmente, a decisão sobre o tratamento para doentes com cancro no sangue, ou leucemia, é baseada principalmente em alterações genéticas. Contudo, essa abordagem nem sempre é eficaz, principalmente para doentes com doença recidivante ou refratária. É nesse contexto que surge, pelas mãos de investigadores do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, o projeto «MYLeukaemia Therapy Guidance Chipset», o vencedor da edição 2024 do BIP Acceleration, iniciativa da U.Porto Inovação, dirigida a equipas da Universidade que queiram testar e validar o modelo de negócio da sua ideia. Explicada de forma simples, a MYLeukaemia é uma plataforma que recria, em laboratório, um “avatar” da medula óssea humana, usando tecnologia de ponta chamada “Organ-on-Chip”. Este avatar permite testar, de forma ex vivo (fora do corpo), como as células cancerígenas de cada doente reagem a diferentes medicamentos. Desta forma, será possível prever qual o tratamento mais adequado para cada paciente, com base numa análise personalizada. O projeto já provou que os avatares de medula óssea humana recriam fielmente muitas das alterações patológicas observadas nos doentes com leucemia. Assim, a inovadora plataforma “promete transformar a forma como os médicos tratam doentes com cancros no sangue, ao permitir uma abordagem personalizada na escolha das terapias mais eficazes”, referem os investigadores. Diferencia-se por integrar tanto as alterações genéticas das células tumorais como o “microambiente da medula óssea, que é muitas vezes o refúgio das células cancerígenas contra os tratamentos”, acrescenta a equipa formada por Hugo Caires (i3s), Sílvia Bidarra (i3s), Mariana Magalhães (i3S/FEUP), Hugo Prazeres (i3s) e Cristina Barrias (i3S/ICBAS). A MYLeukaemia pode trazer uma nova luz para a estratificação do risco dos pacientes e a seleção de terapias mais direcionadas, sobretudo para aqueles doentes que, até agora, têm uma resposta incerta perante os tratamentos atuais. “Ainda que a cura total não seja o objetivo imediato, esta tecnologia pode ajudar a melhorar significativamente a gestão da doença e, a longo prazo, abrir caminho para novas terapias”, projeta a equipa. Conquistar o primeiro lugar no BIP Acceleration é, para o grupo, “extremamente significativo”. O prémio, no valor de 5.000 euros, além de demonstrar reconhecimento pelo caráter transformador da plataforma, permitirá um avanço nos ensaios pré-clínicos ex vivo. A equipa já havia garantido um financiamento de 49 mil euros através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Os próximos passos serão validar a plataforma com amostras tumorais de doentes reais, num estudo piloto. Alargar o acesso a energia acessível e uma goma contra a obesidade No segundo e terceiro lugares do BIP Acceleration 2024 ficaram, respetivamente, os projetos UPWIND e OCEAN-SLIM-G.   UPWIND é uma tecnologia que proporcionará energia elétrica de forma limpa, com portabilidade, baixo custo operacional e sem necessidade de reabastecimento de combustível. “Um gerador portátil e de rápida e fácil instalação para produção de eletricidade com base em energia renovável”, diz Fernando Fontes, investigador da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e líder do projeto. Da equipa fazem parte também: Luís Tiago Paiva, Manuel Fernandes, Sérgio Vinha, Rui da Costa, Conrado Costa e Gabriel Fernandes, todos da FEUP; Dalila Fontes, da Faculdade de Economia da U.Porto (FEP); e Luís Roque, do Instituto Superior de Engenharia do Porto – ISEP. Segundo os investigadores, “as necessidades de energia elétrica atuais não estão adequadamente satisfeitas em muitos locais onde a rede elétrica não está disponível ou é insuficiente”. Falamos, por exemplo, de comunidades remotas ou sítios com necessidades temporárias de eletricidade como construções, minas, ou locais de eventos. Os geradores a combustível que, por norma, são utilizados nestas situações, além de muito poluentes têm elevados custos de operação. E foi esta a motivação principal para a criação do UPWIND, que já tem protótipos a funcionar “em ambiente controlado” e cujos próximos passos são “desenvolver ainda mais a ideia para chegarem a um mínimo produto viável que terá de ser validado e certificado”, avança a equipa. Recorde-se que o projeto UPWIND conquistou o 3.º lugar na edição 2024 do iUP25k, e também foi um dos selecionados na última de edição do BIP PROOF, um programa de financiamento para ideias inovadoras. Já o projeto OCEAN-SLIM-G (Oceanic Cyanobacteria Unlocking Appetite and Nutrition Solutions with a Gummy) propõe uma goma eficaz e segura, inspirada no oceano, para reduzir o apetite e combater o excesso de peso. Foi desenvolvido nos laboratórios do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da U.Porto (CIIMAR) por Ana Catarina Fonseca, Ana Rita Vieira, Filipe Henriques, Mariane Bittencourt Fagundes e Ralph Urbatzk. A criação desta goma inovadora teve como motivação a crise global da obesidade, associada a grandes riscos para a saúde como diabetes, doenças cardiovasculares, cancro ou declínio cognitivo. Os medicamentos utilizados atualmente para combater a obesidade são dispendiosos e, muitas vezes, têm efeitos colaterais. Assim, o OCEAN-SLIM-G visa oferecer uma solução sustentável, utilizando um extrato de algas otimizado para criar uma goma acessível e eficaz no controlo do apetite. "É muito importante levar o conhecimento que geramos para o serviço da sociedade" Foram as palavras proferidas por Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da U.Porto para a Investigação e Inovação, no momento que antecedeu o anúncio dos vencedores do BIP Acceleration 2024. “Os projetos foram muitos, e muito bons, vindos de diversas áreas. Enquanto Vice-Reitor na área da Investigação e Inovação fico muito satisfeito em ver tantos projetos que podem chegar ao mercado”, referiu Pedro Rodrigues, que aproveitou ainda para agradecer o trabalho de todos os participantes, bem como ao júri constituído por Raquel Gaião Silva (Faber), Raphael Stanzani (UPTEC) e Rodrigo de Alvarenga (Porto Business School). Para esta terceira edição do BIP Acceleration foram selecionadas nove equipas que, ao longo de quatro sessões, receberam formação e mentoria para ajudar a alavancar os seus projetos, todos eles com génese na investigação da Universidade do Porto. A grande final do programa decorreu no passado dia 22 de outubro, nas instalações da Porto Business School, parceira desta edição.    O BIP Acceleration 2024 teve o apoio da Caixa de Geral de Depósitos e a parceria da Porto Business School e da UPTEC.

U.Porto põe Portugal no "top 20" europeu das patentes académicas

  Entre 2000 e 2020, o ecossistema científico e empreendedor da Universidade do Porto foi responsável por mais de um quarto (207) dos 818 pedidos de patente europeia submetidos pelas instituições de ensino superior nacionais. Números que destacam a U.Porto na liderança das universidades portuguesas mais inovadoras e que ajudam a colocar Portugal no 17.º lugar entre os países com mais patentes académicas, de acordo com o relatório The role of European universities in patenting and innovation, elaborado pela Organização Europeia de Patentes (OEP). Segundo o estudo agora divulgado, há 39 instituições nacionais que depositaram pelo menos um pedido de patente europeia de origem académica na OEP no período em análise. A Universidade do Porto, que conta, desde 2004, com o seu próprio gabinete de transferência de tecnologia e de conhecimento – a U.Porto Inovação – , é a única universidade portuguesa que supera a marca dos 200 pedidos de patentes académicas. Seguem-se a Universidade Nova de Lisboa (155), Universidade de Lisboa (148), Universidade do Minho (131) e Instituto Superior Técnico (115). Estes dados vão ao encontro dos do último relatório anual do European Patent Office, que coloca U.Porto no lugar mais alto do pódio das universidades que mais pedidos de patente europeia submeteram em 2023, à semelhança do que já tinha acontecido em 2020, 2019, 2018 e 2017. Dos 329 pedidos de patente europeia que saíram de Portugal o ano passado, pelo menos 29 tiveram origem na Universidade do Porto ou nos seus Institutos Associados. Para Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da U.Porto para a Investigação e Inovação, “a liderança no ranking dos pedidos de patentes europeias de origem académica reflete o contínuo investimento na valorização do conhecimento gerado pelo ecossistema de investigação da U.Porto“. E vai mais além: “A Universidade tem ativamente promovido a translação dos resultados da investigação e patentes em inovação, para benefício do tecido económico e da sociedade.” No total, as universidades portuguesas são responsáveis por 0,76% de todas as patentes académicas da Europa nas duas décadas abrangidas pelo estudo. A lista, que inclui mais de 1.200 instituições europeias, é liderada pela Alemanha, França, Reino Unido e Itália. Patentes académicas a crescer na Europa Segundo a OEP, “os pedidos de patentes para invenções oriundas de universidades europeias têm vindo a aumentar nas últimas duas décadas, representando atualmente 10,2% de todos os pedidos de patente apresentados à OEP por requerentes europeus.” No que toca a Portugal, o peso das patentes académicas é substancialmente maior, representando 34,2% de todos os pedidos de patentes europeias apresentados por requerentes portugueses à OEP, no período de 2000-2020. O estudo indica ainda que “dois terços de todos os pedidos de patentes com origem em universidades europeias nas últimas duas décadas não foram apresentados diretamente pelas próprias universidades, mas por outras entidades, como pequenas e médias empresas”. Uma vez mais, Portugal contraria a tendência geral, uma vez que as universidades são titulares da maioria das patentes académicas do país. Ainda assim, a OEP conclui que “as universidades europeias aumentaram substancialmente o número de pedidos de patente de invenção académicas, tendo a proporção aumentado de 24% de todos os pedidos de patentes académicas em 2000 para 45% em 2019, indicando uma mudança significativa na prática e na política de proteção e gestão da propriedade intelectual”. Para António Campinos, Presidente da OEP, “este estudo põe em evidência a capacidade inventiva de origem académica em toda a Europa, e pretende disponibilizar informação mensurável e fidedigna que sirva de suporte ao desenho e adoção de políticas e estratégias de proteção e valorização do capital intelectual. “Ao explorar o potencial inerente a uma patente, seja através da concessão de licenças, da colaboração com a indústria ou através da criação de startups, as universidades podem ampliar o seu impacto, gerando valor comercial e social”, destaca o responsável, lembrando que “a Europa tem uma longa tradição de excelência académica, mas por vezes temos dificuldade em transformar a investigação em sucesso comercial”. O relatório The role of European universities in patenting and innovation, desenvolvido através do Observatório de Patentes e Tecnologia da OEP, em colaboração com o Instituto Fraunhofer de Investigação em Sistemas e Inovação (Fraunhofer ISI), apresenta-se como “o primeiro levantamento exaustivo de patentes provenientes de universidades europeias e dos desafios que estas enfrentam para colocar as suas invenções no mercado”.   Notícia escrita em colaboração com o Serviço de Comunicação & Imagem da Universidade do Porto. Fotografia: Miguel Alves / Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

Tecnologia do INESC TEC e U.Porto vence prémio europeu de inovação

Medicina personalizada com diagnósticos e tratamentos mais precisos, ajustados às particularidades dos doentes. É o que propõe a tecnologia “intelligent Lab-on-a-Fiber “(iLof), desenvolvida por investigadores do INESC TEC e da Universidade do Porto, que acaba de ser premiada como a inovação europeia de 2024. O EARTO Innovation Award, na categoria de “impacto esperado”, foi entregue no dia 23 de outubro, em Bruxelas, pela European Association of Research and Technology Organisations (EARTO). A iLof nasceu nos laboratórios do INESC TEC pelas mãos de três investigadores deste instituto, que também têm afiliação à U.Porto: Joana Paiva (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar), João Paulo Cunha (Faculdade de Engenharia) e Pedro Jorge (Faculdade de Ciências). Esta tecnologia permite a estratificação de doentes através de biomarcadores relevantes, obtidos de modo não invasivo recorrendo a um sistema fotónico eficaz e posterior identificação de padrões únicos usando inteligência artificial. Por outras palavras, as impressões digitais biomoleculares obtidas pela tecnologia abrem a porta à medicina personalizada com diagnósticos e tratamentos mais precisos e ajustados às necessidades daquele grupo de doentes.  Essa deteção de micro e nano alvos é fundamental para o desenvolvimento de medicamentos, ensaios clínicos, diagnósticos e outros subdomínios do conceito OneHealth (uma só saúde), tendo impacto direto quer para pacientes – em doenças como a de Alzheimer ou o cancro – quer para profissionais de saúde. Uma evolução no sistema de saúde tradicional O sistema de saúde tradicional tem seguido uma abordagem “one-size-fits-all”, ou seja, uma abordagem de tratamento único, independentemente de uma série de outros fatores e particularidades que são de extrema relevância no que à saúde diz respeito. Além disso, as soluções atuais apresentam uma baixa eficiência económica e induzem um desconforto desnecessário nos doentes.  Esta estratégia tem vindo a revelar-se muito pouco eficaz para lidar com determinadas doenças complexas, como é o caso da doença de Alzheimer, onde nos últimos 14 anos se verificou o falhanço de mais de 400 ensaios clínicos. Estes dados mostram a necessidade urgente de estratégias de tratamento personalizadas, que a iLof a tem capacidade de fornecer. Ao utilizar uma plataforma de Inteligência Artificial (IA), esta tecnologia desenvolvida nos ecossistemas da U.Porto tem o potencial de revolucionar os cuidados de saúde, na medida em que, ao ter a capacidade de gerar impressões digitais óticas precisas a partir de amostras de sangue, simplifica o processo e a experiência do paciente e reduz todos os custos associados a ensaios clínicos ou triagens. Além disso, a iLof tem um custo baixo, reduz, em pelo menos, 40% os custos de ensaios clínicos e até 70% o tempo de triagem, o que significa que – quando aplicado à área da saúde – pode tornar o processo mais acessível e eficiente. O impacto económico e social da tecnologia já foi testado em ambiente real pela ação da empresa spin-off do INESC TEC e da U.Porto, que tem o mesmo nome da tecnologia – iLof. “A tecnologia já demonstrou o seu impacto em pilotos reais, permitindo, por exemplo, poupar milhões de euros em ensaios clínicos, quando aplicada à área da saúde. Ao permitir a criação de uma vasta biblioteca de perfis biológicos digitais, a iLoF tem potencial para mudar o paradigma dos ensaios clínicos e da medicina personalizada, oferecendo uma abordagem mais direcionada e eficaz ao tratamento de doenças”, explica Daniel Vasconcelos, responsável pelo gabinete de transferência de tecnologia do INESC TEC e que acompanhou a tecnologia desde a sua génese até à materialização, proteção da propriedade intelectual e valorização pela via spin-off. Impacto milionário nos cuidados de saúde A tecnologia iLof pode ter impacto no mercado global da medicina personalizada, que está avaliado em mais de 500 mil milhões de euros. Esta solução beneficia não só pacientes – ao melhorar a precisão de diagnósticos -, mas cria também oportunidades para novas tecnologias no setor farmacêutico, reduzindo barreiras de entrada e fomentando um maior crescimento económico. Há ainda o potencial de utilização noutros setores, como a bioengenharia, já que a deteção precisa de micro e nano partículas é relevante em muitas áreas de aplicação.  Espera-se agora que a empresa spin-off lance uma solução comercial baseada na tecnologia com o mesmo nome para ensaios clínicos nos próximos três anos. Por agora, já foram realizados  testes pré-comerciais com sucesso com uma grande farmacêutica, durante os quais conseguiu quantificar alguns dos potenciais benefícios da tecnologia. Considerada pela norte-americana CB Insights como uma das 150 startups mais promissoras a nível mundial na área da saúde digital, a spin-off iLoF integra, atualmente, o estudo internacional Bio-Hermes-002, através do qual se pretende revolucionar a pesquisa e o tratamento da doença de Alzheimer. Sobre a EARTO A European Association of Research and Technology Organisations (EARTO) é uma associação europeia de organizações ligadas à ciência e à tecnologia que, todos os anos, destaca contribuições inovadoras e com elevado impacto social através de duas categorias: impacto entregue e impacto esperado. O INESC TEC é a primeira instituição portuguesa a conquistar este prémio atribuído na categoria “impacto esperado”, reforçando o seu papel como maior instituição de investigação e desenvolvimento de engenharia, em Portugal, e um dos principais centros do país dedicados à transferência de tecnologia de inovações digitais. Já em 2023 o INESC TEC tinha subido ao pódio da competição da EARTO, alcançando o terceiro lugar na categoria “impacto esperado” com a tecnologia MyNPK – Precision fertilization sensing technology.  A EARTO integra mais de 350 membros de mais de 30 países.

Spin-off da U.Porto soma e segue na purificação de biogás

  “Somos uma das empresas com maior crescimento a nível mundial no setor da purificação de biogás”. São palavras de Patrick Bárcia, da SYSADVANCE, uma empresa spin-off da Universidade do Porto. Uma das principais tecnologias que disponibiliza para o mercado chama-se METHAGEN AD e chegou, recentemente, à empresa Bovogas, que detém uma unidade de produção de biometano na Letónia. Em julho deste ano a SYSADVANCE marcou presença na inauguração, onde teve a oportunidade de dar a conhecer a METHAGEN AD aos convidados. A tecnologia tem sido uma valiosa ajuda para que a Bovogas seja a primeira a injetar biometano na rede. “O nosso cliente é produtor de ovos de galinha e derivados, e tem um aviário com mais de 3,5 milhões de aves”, explica Patrick Bárcia. Essas aves produzem, anualmente, 70 mil toneladas de um resíduo chamado cama de aves. A Bovogas consegue valorizar esse resíduo “numa unidade de digestão anaeróbia que produz biogás, uma mistura de metano, dióxido de carbono, vapor de água, sulfureto de hidrogénio, amónia, e algum residual de oxigénio e azoto, entre outros contaminantes”, explica. O processo METHAGEN, tecnologia desenvolvida pela SYSADAVANCE, permite eliminar cada um desses contaminantes de modo a “entregar metano renovável com poder calorífico equivalente ao gás natural fóssil”, contam. Esse biometano é depois introduzido na rede de gás natural, em postos de injeção que monitorizam continuamente a qualidade. Numa primeira fase, a central de produção da Bovogas injeta na rede de gás o equivalente a 100 GWh de gás por ano o que, como referem os representantes da SYSADVANCE, “é suficiente para suprir o consumo do município de Bauska, na Letónia, onde a central está inserida”. Atualmente esta central está a produzir 6 milhões de m3 de biometano para injeção na rede, devendo atingir em breve uma produção anual de 12 milhões. E quais as vantagens do biometano? São quatro as características fundamentais: é um recurso endógeno, renovável, não intermitente e armazenável. Isto é, “a criação de uma fileira do biometano tem desde logo impacto na redução das importações de combustível”, refere Patrick Bárcia. Além disso, permite fomentar “a valorização dos resíduos, resolvendo um problema ambiental e contribuindo para a criação de um novo setor de atividade, gerador de empregos especializados”. Devido à sua natureza endógena, o biometano trará benefícios também para o interior do país, “normalmente mais afastado dos grandes investimentos”, referem. “A invasão da Ucrânia pela Rússia veio acelerar ainda mais este processo de transição para os gases renováveis, como forma de reduzir a dependência energética da Europa”, refere Patrick Bárcia. Na sua opinião, “há uma consciencialização geral da importância de um rápido scaling-up da produção de biometano na Europa. No fundo, estamos a converter resíduos - potencialmente geradores de impacto ambiental - numa fonte endógena de energia primária e consequente criação de valor, e isto são argumentos demasiado fortes e sólidos para serem contrariados por eventuais alterações de política energética”, diz. Assim, a presença da SYSADVANCE neste setor, em mercados como o dos países Bálticos ou Estados Unidos, tem sido cada vez mais forte, fruto do “reconhecimento da tecnologia METHAGEN por parte dos clientes da empresa”, diz Patrick Bárcia. Foi em 2017 que instalaram a primeira unidade de purificação de biogás em Portugal e logo no ano seguinte iniciaram a injeção de biometano num projeto de grande dimensão na Califórnia, onde foram a primeira empresa a cumprir com uma regulamentação muito exigente no que refere aos padrões de qualidade do gás, conhecida como “Rule 30”.  Desde então, a empresa foi aperfeiçoando cada vez mais os processos, adaptando-se às novas exigências do mercado em termos de eficiência energética e requisitos de qualidade. Este projeto na Letónia faz parte do caminho que a SYSADVANCE tem vindo a traçar, e implica um trabalho contínuo de acompanhamento. Apesar de as unidades de purificação de biogás serem os pontos centrais, existem desafios desde o processamento dos resíduos até à injeção na rede de gás. “O nosso trabalho não se extingue com a instalação e arranque da unidade de purificação. A equipa de engenharia e automação da SYSADVANCE trabalhou em relação próxima com o construtor da unidade de digestão e com a operadora do posto de injeção, de modo a proceder à partilha de sinais e comandos entre as várias unidades para permitir um controlo e uma monitorização transversal de toda a instalação”, conta Patrick Bárcia. E tudo é possível, como refere, graças ao trabalho de uma equipa “de engenheiros e técnicos altamente competentes, que têm como estímulo acrescido o facto de contribuírem diariamente, com o seu trabalho, para a transformação do panorama energético no sentido da criação de uma economia mais sustentável tanto a nível económico como ambiental”, diz Patrick Bárcia.  Sobre a SYSADVANCE A SYSADVANCE – Sistemas de Engenharia, S.A. é uma empresa de base tecnológica, que desenvolve e fabrica equipamentos e processos para a separação de gases e fornece soluções integradas para produção in situ de N2, O2, O2 Médico e O2 VSA, e purificação de Biogás, He, H2 e SF6. Foi fundada em 2002, dentro da Universidade do Porto, e classificada como spin-off FEUP (Faculdade de Engenharia da U.Porto). Em 2017 recebeu também a chancela U.Porto Spin-off. Desde então, a empresa registou um crescimento significativo e contínuo, como resultado da sua estratégia focada na satisfação do cliente. Com pessoal técnico altamente qualificado, a SYSADVANCE esforça-se por fornecer tecnologia de ponta aos seus clientes em mais de 40 países, em diferentes indústrias e setores de atividade. No que refere à produção de gases renováveis, preveem terminar o segundo trimestre de 2025 com 36 instalações em operação em mais de 10 países, o que corresponderá a uma capacidade instalada para produção de gás renovável superior a 1 TWh. Patrick Bárcia explica: “Para terem uma ideia, 2,7 TWh é o objetivo fixado no “Plano de Ação para o Biometano” para produção de biometano em Portugal em 2030. Estamos confiantes que, graças à experiência internacional adquirida ao longo dos anos neste setor, poderemos dar ao país um grande contributo para alcançar, ou até mesmo antecipar, as metas fixadas para o biometano.”

Braining quer revolucionar a reabilitação em casos de AVC

  Falamos de uma plataforma de apoio a pacientes de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) e que pretende, segundo os seus criadores, “revolucionar todo o processo de reabilitação dos doentes, com fortes ferramentas de decisão clínica”, dizem. O projeto Braining, que foi finalista na 10ª edição do iUP25k – concurso de ideias de negócio da Universidade do Porto, destacou-se na competição Poliempreende, a maior rede no panorama do empreendedorismo nacional no ensino superior politécnico. Foram os grandes vencedores da edição regional (Porto) e ficaram em 2º lugar na final nacional.  Conjugando Realidade Virtual (RV) e Inteligência Artificial (IA), a plataforma responde às necessidades dos pacientes, mas também do mercado, oferecendo ambientes personalizados e imersivos que se ajustam, de forma dinâmica, às particularidades de cada utilizador. Desta forma, é possível não só acelerar o processo de recuperação como aumentar a sua eficácia global. “A nossa implementação de tecnologias VR oferece uma abordagem única e envolvente, proporcionando uma gama diversificada de estímulos e mantendo o paciente engajado. A adaptação ao paciente é um marco nosso, pelo que validamos e acompanhamos a sua evolução”, refere Nuno Almeida, uma das mentes por trás da plataforma.  O projeto Braining nasceu das mãos de João Ribeiro, antigo aluno da Universidade do Porto (Faculdade de Engenharia e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar) e atual investigador no i3S,  e Nuno Almeida, estudantes da Escola Superior de Saúde do P.Porto. Estão, atualmente, incubados na UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, estando para breve a constituição formal da empresa. Atualmente estão a desenvolver o modelo de IA, que já é “capaz de criar planos de reabilitação totalmente personalizados e ajustados aos dados clínicos de cada paciente”, conta. Já estabeleceram algumas parcerias que permitem avançar “na área de investigação e dão acesso a ferramentas essenciais para o desenvolvimento, validação e disseminação do trabalho” as vitórias no concurso Poliempreende garantiram-lhes um prémio monetário que rondou os 7 mil euros. No entanto, a equipa continua à procura de financiamento para expandir o projeto. Pensando no futuro, os empreendedores estão focados em desenvolver a aplicação e treinar o modelo de IA, bem como em preparar todo o campo de investigação à volta disso. Têm como objetivos a curto prazo participar na WebSummit para “demonstrar o potencial do Braining em primeira mão” e, no início do próximo ano, avançar com validação do produto na clínica, preparando-o para o mercado, com perspetivas de internacionalizar a invenção o mais rapidamente possível. São também finalistas na competição Youth Entrepreneurship Award 2024, da Unicorn Factory Lisboa.  A ambição? “Ver o Braining crescer ao nível das maiores referências globais no setor da healthtech”, dizem. Os empreendedores querem que o projeto se transforme numa marca reconhecida mundialmente, associada às palavras-chave inovação, tecnologia, impacto.  “Estamos entusiasmados em transformar o Braining num negócio de sucesso, prometendo salvar e poupar vidas. Ambicionamos não só revolucionar a reabilitação de pessoas que sofreram um AVC mas também estabelecer um novo standard de cuidados de saúde que utilize IA e RV para oferecer soluções personalizadas e acessíveis. Sonhamos com um futuro onde o Braining esteja presente em clínicas e hospitais de todo o mundo, ajudando milhões de pessoas a recuperar a sua qualidade de vida”, concluem.

BIP PROOF volta a investir 60 mil euros em projetos "made in" U.Porto

Esta é a sétima vez que o programa BIP PROOF, iniciativa da U.Porto Inovação, garante verba para financiar projetos inovadores na execução de provas de conceito. Serão, ao todo, seis os projetos financiados nesta edição de 2024/2025, e cada um vai receber até 10 mil euros.  À semelhança dos anos anteriores, e desde o seu arranque, esta edição do BIP PROOF contou com o apoio da Fundação Amadeu Dias (FAD). A Caixa Geral de Depósitos também se juntou ao programa como parceira.  “O BIP PROOF é uma iniciativa que demonstra o que nós, na Universidade do Porto, queremos fazer: trazer a investigação para a sociedade em geral". São palavras de Pedro Rodrigues, Vice-Reitor para a Investigação e Inovação na U.Porto quando questionado sobre a importância do programa. Para o Vice-Reitor, esta é uma "iniciativa a manter no futuro".   BioECOchar: uma aplicação multifuncional para reutilizar resíduos agrícolas e tratar águas residuais “É um projeto que utiliza resíduos agrícolas que, de outra forma, seriam provavelmente queimados e dá-lhes uma nova vida útil”. São palavras de Antón Puga Pazo, investigador principal do BioECOchar. Falamos de um projeto focado na economia circular que visa utilizar várias tecnologias para reutilizar resíduos e tratar águas residuais. Está a ser desenvolvido nos laboratórios do LAQV/REQUIMTE por um grupo de cinco cientistas. O investigador Antón Puga Pazo explica as diferentes fases por que passa o BioECOchar: “Numa primeira fase – chamada etapa I – será utilizado biochar de resíduos agrícolas como adsorvente para remoção de fármacos (considerados micro contaminantes) em águas residuais contaminadas. Depois vem a etapa II, que consiste na regeneração por métodos eletroquímicos desse material – que está saturado de micro contaminantes. Desta forma, o biochar poderá ser reutilizado em vários batch de adsorção-regeneração. Por fim, e quando o biochar começar a perder eficiência, será regenerado uma última vez, ficando limpo de fármacos e podendo, depois, ser utilizado como fertilizante (etapa III)”. Encerra-se, assim, o ciclo. Além da reutilização dos resíduos agrícolas, dando-lhes uma nova vida, o projeto BioECOchar também permite que, no final dessa nova vida o material seja utilizado noutra missão: a fertilização. “Assim, fazemos com que o resíduo final seja zero, alcançando o conhecido zero waste”, refere Antón Puga Pazo. O financiamento agora angariado através do programa BIP PROOF será, como refere a equipa, “uma grande ajuda para o projeto” nas diferentes etapas. “O dinheiro será utilizado, principalmente, para um bolseiro de investigação que ajude nas tarefas do projeto. Desta forma, um estudante de licenciatura ou mestrado, poderá começar a trabalhar no laboratório, conseguindo experiência e habilitações lhe possam ser úteis no futuro”, refere Antón Puga Pazo. Outra parte do orçamento irá para análises do material nas diferentes etapas referidas. A equipa por trás do BioECOchar é composta por investigadores do Grupo de Reação e Análises Químicas (GRAQ). O GRAQ está integrado na rede de laboratórios LAQV/REQUIMTE. Da esquerda para a direita, na fotografia: Cristina Delerue-Matos, Antón Puga Pazo, Cristina Soares e Manuela Moreira. Da equipa faz parte também Verónica Poza-Nogueiras, investigadora do grupo BIOSUV da Universidade de Vigo, que atualmente está a fazer uma estadia pós doutoral no GRAQ.   DMD4PD: uma nova esperança para doentes com Parkinson   A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurológica degenerativa, de evolução lenta e crónica, associada à perda de células cerebrais (neurónios). Essas células produzem dopamina, um neurotransmissor que afeta o controlo dos movimentos. As novas abordagens terapêuticas na DP ambicionam modificar o curso da doença e melhorar a resposta à terapia convencional. E é nesse contexto que se enquadra o projeto DMD4PD, desenvolvido por cientistas da Universidade do Porto. “É uma estratégia inovadora que visa superar as limitações dos tratamentos atuais, tanto em termos de segurança como de eficácia clínica”, dizem. Na última década conseguiram-se avanços científicos relevantes no que diz respeito à doença de Parkinson. No entanto, descobrir novos medicamentos para a tratar continua a ser, como referem os responsáveis pelo projeto DMD4PD, “um grande desafio”. “Em 2023, foram registados um total de 139 ensaios clínicos relacionados com a DP, com milhares de milhões de euros investidos para tentar, sem êxito, suprir este desafio societal. O último medicamento aprovado para o tratamento da DP pela EMA e FDA foi em 2016 e 2020, respetivamente, um inibidor da catecol-O-metiltransferase (COMT), usado para alívio sintomático, mas tal como todos antiparkinsonianos não interefere na evolução da doença”, referem os investigadores. Assim, o principal objetivo do DPD4PD é “validar um novo inibidor da COMT e quelante de metais divalentes, desenvolvido, validado e patenteado pelas equipas, como um fármaco modificador da doença de Parkinson”, referem. Os 10 mil euros angariados no programa BIP PROOF serão aplicados em ensaios pré-clínicos in vitro e in vivo, para validação do conceito e permitir, numa segunda fase, efetuar ensaios clínicos piloto deste novo potencial “antiparkinsoniano”. A equipa responsável pelo projeto é composta por Fernanda Borges, Sofia Benfeito, Daniel Chavarria, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), e Patrício Soares-da-Silva, Bárbara Albuquerque e Paula Serrão da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Com uma abordagem promissora, o DMD4PD poderá “representar um avanço significativo no tratamento de doença de Parkinson, oferecendo uma nova esperança aos pacientes que ainda aguardam por soluções terapêuticas de abrandar ou parar a progressão da doença”, concluem os investigadores.   PepTRAP: uma abordagem farmacológica inovadora para combater a doença de Parkinson     Também ligado ao tratamento da doença de Parkinson está o projeto PepTRAP, desenvolvido por Ivo Dias e Sara Reis (ambos investigadores do LAQV/REQUIMTE na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto) e também por Xerardo Mera e Eddy Sotelo (ambos investigadores e docentes na Faculdade de Farmácia da Universidade de Santiago de Compostela).  “A levodopa, um precursor de dopamina, é o fármaco de eleição no tratamento da doença de Parkinson. Contudo, a terapia com levodopa vai perdendo efeito ao longo do tempo, necessitando de doses terapêuticas cada vez maiores e, consequentemente, surgem efeitos secundários graves que podem mesmo exacerbar os sintomas da doença”, explica o investigador Ivo Dias. Contrariando isso, o projeto PepTRAP tem como objetivo explorar uma nova abordagem terapêutica através do desenvolvimento de moléculas capazes de modular a atividade dos recetores de dopamina, tornando-os mais sensíveis a este neurotransmissor”. Desta forma, estes recetores podem ser ativados “em níveis sub-ótimos de dopamina, aliviando os sintomas da doença de Parkinson”, acrescenta.  Os moduladores da PepTRAP são apenas farmacologicamente ativos na presença de dopamina. Na ausência de dopamina “não possuem efeito nas vias dopaminérgicas sendo, por isso, mais seguros que outras opções terapêuticas atuais”, referem os investigadores. A tecnologia pode ser usada em estágios iniciais da doença de Parkinson (quando ainda existe dopamina no sistema nervoso central) de forma a atrasar a terapia com levodopa.  Para alcançar este resultado, a equipa de investigação está focada "no desenvolvimento de derivados de um neuropéptido com capacidade moduladora dos recetores de dopamina, a melanostatina, de forma a aumentar a sua potência e melhorar as propriedades biológicas compatíveis com a sua translação clínica”, explicam. Já há vários anos que este grupo de cientistas tem vindo a dedicar-se a explorar alternativas farmacológicas para o tratamento da doença de Parkinson. Para o grupo, a distinção no BIP Proof é um reconhecimento do trabalho efetuado, e “terá um impacto muito significativo na progressão do projeto, permitindo a valorização e o desenvolvimento da tecnologia, reunindo mais evidências acerca do seu potencial terapêutico”, dizem.  O financiamento agora angariado permitirá, então, aumentar a maturidade da tecnologia e também atrair potenciais parceiros industriais para uma aproximação ao mercado. Numa primeira fase os 10 mil euros serão aplicados na aquisição de consumíveis e reagentes. Depois, será realizada “uma bateria de estudos in vitro, os quais são essenciais para caracterizar o perfil biológico destes moduladores e identificar os melhores candidatos para futuros estudos pré-clínicos em modelos animais da doença de Parkinson”, conclui Ivo Dias.   PEPILSKIN: combater a "pandemia silenciosa" das feridas crónicas     Sejam úlceras do pé diabético, úlceras varicosas ou escaras de doentes acamados, as feridas crónicas são um problema grave e em rápido crescimento. Isso deve-se maioritariamente ao facto de o aumento da esperança média de vida não estar, necessariamente, acompanhado por uma melhoria da qualidade de vida. Foi com este problema em mente que surgiu, no REQUIMTE, o projeto PEPILSKIN. “As feridas crónicas são mais prevalentes em pessoas idosas e/ou com outras patologias associadas e, por isso, infetam facilmente, o que dificulta ainda mais a sua resolução. Isso é agravado pelo aumento alarmante de micróbios resistentes aos antibióticos”. A explicação é de Ricardo Ferraz, um dos investigadores por trás do projeto. Acrescenta ainda que estas feridas provocam grande mal-estar físico e mental aos pacientes, obrigando a contínuas intervenções dolorosas, bem como a utilização frequente de antibióticos “cuja eficácia é cada vez menos garantida”. Com o bem-estar desses doentes em mente, nasce o projeto PEPILSKIN, um produto inovador de aplicação tópica para a prevenção e tratamento de feridas crónicas. Falamos de um gel para aplicação direta nas feridas, baseado numa tecnologia recentemente desenvolvida por uma equipa de investigadores das quais fazem parte, além de Ricardo Ferraz (LAQV/REQUIMTE, Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto), Ana Gomes e Paula Gomes (LAQV/REQUIMTE, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto). “Através da tecnologia que desenvolvemos conseguimos suprimir a necessidade de usar antibióticos convencionais, substituindo-os por péptidos de origem natural que nós modificamos de forma a apresentarem, simultaneamente, ação antimicrobiana de largo espetro e efeitos cicatrizantes.”, explicam. A principal mais-valia do PEPILSKIN é o “produto-base da formulação tópica e também as características da própria formulação para que seja aplicada de forma autónoma e indolor”, explicam os cientistas. O facto de estar baseado em péptidos e, por isso, isento de antibióticos convencionais, faz com que seja “menos provável o desenvolvimento de resistência microbiana”. Para a equipa, o valor angariado no BIP PROOF será fundamental para fazer avançar a tecnologia, aproximando-a ao mercado. “Tendo já sido demonstradas as ações antimicrobiana, cicatrizante, anti-inflamatória e antioxidante do nosso produto-base em feridas de ratinhos diabéticos, poderemos agora avançar para a criação de uma formulação (gel) adequada para aplicação precisa e indolor em feridas e que não cause reação adversa (dermatite de contacto) na pele saudável do paciente”, referem. Assim, os 10 mil euros serão aplicados na “otimização da formulação tópica, bem como na avaliação do seu potencial de indução de dermatite de contacto em pele humana”, concluem.   SIMIC: monitorização inteligente para comboios       O mercado da monitorização ferroviária é um setor, em rápido crescimento, impulsionado pelos avanços na engenharia ferroviária e pela crescente procura por operações eficientes, seguras e resilientes.  A adoção de tecnologias avançadas de Inteligência Artificial (IA), como a aprendizagem de máquinas, está a impulsionar o crescimento do mercado. Nesse contexto, nasce o SIMIC, um sistema de monitorização inteligente concebido para “identificar situações de instabilidade do veículo e para avaliar o estado das rodas, separada ou simultaneamente”. A explicação é de Cecília Vale, investigadora da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e uma das inventoras do SIMIC. Da equipa fazem parte também Araliya Mosleh, Andreia Meixedo, Ruben Silva, Pedro Montenegro, todos da FEUP, em colaboração com uma equipa do Instituto Superior de Engenharia do Porto, constituída por Diogo Ribeiro e Goreti Marreiros. São várias as vantagens técnicas do SIMIC quando em comparação com as tecnologias existentes. Por um lado, permite que o dano e/ou a instabilidade dos veículos ferroviários seja detetada em fase inicial, o que possibilita a manutenção atempada “e evita a escalada de defeitos, garantindo-se a segurança das operações ferroviárias”, explica Cecília Vale. Depois, também permite uma “monitorização abrangente de condições anormais porque, além da deteção de defeitos, o SIMIC identifica eficazmente o tipo de defeito e localiza-o, aspetos cruciais para as equipas de manutenção”. Da lista de vantagens fazem parte também: a monitorização não intrusiva; a identificação de cargas desequilibradas; a instalação fácil e sem causar perturbações na circulação ferroviária; o baixo custo pela utilização de um número reduzido de sensores; a adaptabilidade para satisfazer necessidades específicas de um cliente, entre outras. Com o valor angariado no BIP PROOF, a equipa vai continuar a trabalhar no desenvolvimento do sistema de monitorização, de forma a aumentar o “TRL 4 para um TRL 5/6 no prazo de dez meses”, refere Cecília Vale. Vão investir também na redação e depósito do pedido definitivo de patente. “Este financiamento permite a maturação da tecnologia e a sua aproximação ao mercado nacional e internacional”, concluem os cientistas.    UPWIND: alargar o acesso a energia acessível   “As necessidades de energia elétrica atuais não estão adequadamente satisfeitas em muitos locais onde a rede elétrica não está disponível ou é insuficiente”. Falamos, por exemplo, de comunidades remotas ou sítios com necessidades temporárias de eletricidade como construções, minas, ou locais de eventos. Os geradores a combustível que, por norma, são utilizados nestas situações, além de muito poluentes têm elevados custos de operação.  Quem o afirma é a equipa de investigadores por trás do UPWIND, uma tecnologia que proporcionará energia elétrica de forma limpa, com portabilidade, baixo custo operacional e sem necessidade de reabastecimento de combustível. “Falamos de um gerador portátil e de rápida e fácil instalação para produção de eletricidade com base em energia renovável eólica”, apresentam. O UPWIND baseia-se em sistemas aéreos de energia eólica, que permite captar a energia cinética do vento a grandes alturas “onde essa energia é frequentemente mais intensa e mais consistente”, explica Fernando Fontes, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e líder do projeto de investigação. “O objetivo é fornecer eletricidade onde ela não está disponível ou é insuficiente, oferecendo uma alternativa limpa e mais acessível do que os geradores a combustível”, acrescenta. Da equipa UPWIND fazem parte também Luís Tiago Paiva, Manuel Fernandes, Sérgio Vinha, Rui da Costa, Conrado Costa e Gabriel Fernandes, todos da FEUP. Estão acompanhados por Dalila Fontes, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto e por Luís Roque, do Instituto Superior de Engenharia do Porto – ISEP. Para a equipa, estar entre os vencedores do BIP PROOF representa a validação da ideia de negócio por especialistas. O prémio encoraja os cientistas a explorar a valorização económica do projeto e, por isso, vão aplicar o montante recebido para dar os primeiros passos necessários para a transição de ideia para negócio.  Apesar de, como referem os cientistas, ainda haver muito a ser feito até se alcançar um produto comercializável, o UPWIND tem o potencial de “criar valor acrescentado significativo para a sociedade, contribuindo para um futuro mais limpo, equitativo e sustentável”, refere Fernando Fontes. Além disso, a utilização dos novos geradores permitirá “reduzir a dependência de combustíveis fósseis, alargar o acesso a energia acessível e contribuir para a resiliência energética, fomentando o desenvolvimento económico e social das comunidades beneficiadas”, concluem.   Sobre o BIP PROOF O programa foi criado pela U. Porto Inovação em 2018 e, ao todo, já distinguiu um total de 44 ideias inovadoras com 500 mil euros. Esta é a 7ª edição do programa. No arranque, e contando com o apoio do projeto U. Norte Inova, o BIP PROOF financiou seis projetos com 20.000 euros. Foi já nesse ano que a Fundação Amadeu Dias (FAD) se juntou ao BIP PROOF, permitindo financiar mais quatro projetos com 10.000 euros para cada. A ligação da FAD ao programa manteve-se em todas as edições. Nos ano seguintes repetiu-se a receita de sucesso: em 2019 foram distinguidos quatro projetos, cada um com 10 mil euros. Em 2020 o Santander Universidades juntou-se à iniciativa como patrocinador e foram eleitos seis vencedores, também com 10 mil euros. As edições seguintes (2021 e 2022) distinguiram 10 ideias inovadoras nascidas na U.Porto, contando com o apoio de projetos financiados (Spin-UP em 2021 e UI-TRANSFER em 2022) e também com o patrocínio da J.Pereira da Cruz em ambas as edições. O valor investido nessas duas edições ultrapassa os 100 mil euros. A última edição aconteceu em 2023 e contou com o apoio da Fundação Amadeu Dias e do Santander Universidades. Seis projetos receberam 10 mil euros cada. O principal objetivo do BIP PROOF é criar um sistema de provas de conceito. Essas podem traduzir-se em construção de protótipos de viabilidade técnica, realização de ensaios in vitro/in vivo, estudos de viabilidade ou de mercado, entre outras, para que possam contribuir para a maturação da tecnologia e aproximação ao mercado. Esta edição conta com o apoio da Fundação Amadeu Dias e da Caixa Geral de Depósitos.

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