Quando era criança, talvez não sabia que queria ser investigador, pois não conhecia a possibilidade dessa carreira. No entanto, a certeza de que queria “ser mais do que professor de biologia” fez parte da infância e juventude de Vitor Vasconcelos. 

Tudo começou com a licenciatura em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Após terminar a formação, em 1986, começou como assistente estagiário no então Instituto de Zoologia Dr. Augusto Nobre, na FCUP. Até ao ano 2000 foi essencialmente docente universitário nessa faculdade, com alguma atividade de investigação, conduzida essencialmente por colaborações internacionais na Finlândia e nos Estados Unidos, instituições onde Vitor Vasconcelos fez parte do seu doutoramento.

“Sempre gostei de ver programas na televisão sobre a vida na terra e no mar, andar no meio da natureza e observá-la, estudar o comportamento de pequenos animais – coisas importantes num investigador”, refere Vitor Vasconcelos. No entanto, durante os primeiros anos do seu percurso “não havia um verdadeiro ambiente de investigação e esta era feita de forma individual”, diz. Foi só no ano de 2001 que começou a sua verdadeira carreira de investigação, quando João Coimbra – à data diretor do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) – o convidou a integrar esse centro de investigação interdisciplinar. “Foi a partir dessa altura que percebi todas as valências de um investigador: ter ideias criativas com o fim de resolver questões e problemas da sociedade, lutar para conseguir financiamento, criar equipas, atrair e formar jovens, transferir o conhecimento para a sociedade ed forma a valorizá-lo, influenciar as políticas públicas e disseminar o conhecimento científico para todos os públicos”.

Vitor Vasconcelos conta já com inúmeros projetos de investigação na sua carreira académica. Um dos seus maiores projetos é a criação de culturas LEGE_CC, “uma coleção de cianobactérias e microalgas com 33 anos sedeada no CIIMAR”, conta. Em 2024, dois dos seus projetos atingiram concessões internacionais de patente na China, Índia e Brasil, o que demonstra a relevância da investigação desenvolvida pelos grupos que comanda. “A bioatividade que patenteámos representa uma nova molécula isolada de uma cianobactéria da LEGE_CC que tem uma forte atividade antimicrobiana contra o desenvolvimento de biofilmes de Staphylococcus aureus, uma bactéria patogénica que causa muitas infeções graves a nível hospitalar”, explica o docente e investigador. O grupo espera, assim, poder contribuir para “solucionar um problema grave de saúde humana, em especial devido ao surgimento de bactérias multirresistentes a antibióticos”, explicam.

"Sempre tive uma intenção clara de fazer com que a minha investigação tivesse valor"

Ter impacto e criar valor são objetivos que acompanham Vitor Vasconcelos desde o início da sua carreira. Escolheu Biologia porque “perceber o funcionamento do mundo vivo” sempre o fascinou, acrescentando a isso a certeza de que trabalhos nesta área podem, efetivamente, melhorar a vida das pessoas e da sociedade como um todo. “Sempre tive uma intenção clara de fazer com que a minha investigação tivesse valor”, refere. No início da sua carreira, por exemplo, estudou a ocorrência de toxinas de cianobactérias em águas doces de Portugal (em especial em águas para consumo humano) e isso levou ao estabelecimento de um programa nacional de monitorização de cianobactérias e à inclusão destes parâmetros na lei portuguesa estando, como refere Vitor Vasconcelos”, “muito à frente da maior parte dos países europeus”.

O projeto LEGE_CC, que começou em 1991, continua a ser o dia-a-dia do investigador. Neste momento estão a ser adicionadas novas estirpes de cianobactérias em ambientes extremos, testes esses que têm sido possíveis devido a projetos nacionais e internacionais que o professor coordena. “Eu e a minha equipa temos produzido conhecimento e patentes que podem potenciar o desenvolvimento de novos antibióticos, antimaláricos, antitumorais, cosméticos ou substâncias com atividades anti-obesidade ou antivegetativa para a produção e tintas antivegetativas para navios, por exemplo”.

 “O que eu gostaria, e creio que irei conseguir, é criar condições para que a LEGE_CC se possa manter, crescer e continuar o seu impacto a nível nacional e internacional”, diz Vitor Vasconcelos quando questionado sobre o seu maior sonho enquanto investigador. Ao longo dos anos, assistiu à extinção de algumas coleções similares a nível internacional quando os seus fundadores se aposentavam. “As instituições não conseguiram perceber o valor único e irrepetível de uma coleção deste tipo. Além de serem um repositório vivo de biodiversidade, fundamental para trabalhos de conservação e restauro de ecossistemas, têm um valor potencial enorme devido às suas aplicações biotecnológicas na criação de produtos de valor acrescentado. O abandono de uma coleção deste tipo equivale a um incêndio que devaste completamente um museu de história natural ou um jardim botânico”, diz.

É, então, com esperança e otimismo que Vitor Vasconcelos olha o futuro, apoiado por equipas de investigação igualmente empenhadas em criar valor a partir da natureza e do mundo vivo. “Em cinco anos esta coleção LEGE_CC será a maior coleção de cianobactérias a nível mundial”, acredita o investigador. As aplicações são inúmeras, desde a cosmética, passando pela agricultura ou indústria têxtil, o que “deverá conduzir ao desenvolvimento e comercialização de novos produtos, processos e serviços nos próximos anos”, acredita.

 

Fotografia: CIIMAR