No ano em que a U.Porto Inovação comemora o seu 20º aniversário, ao leme da equipa está Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da Universidade do Porto para a Investigação e Inovação. Assumiu a liderança em 2022, altura em que encontrou uma equipa “com um trabalho já muito consolidado”, diz.
Na opinião de Pedro Rodrigues a palavra inovação ainda faz muito sentido nos dias que correm e, por isso, é preciso continuara a apostar nas pessoas, mecanismos e estruturas que a tornam possível. A comunidade científica, por um lado, e o mundo empresarial, por outro.
“Este diálogo entre as empresas e a comunidade científica tem vindo a aumentar e há, de facto, cada vez mais projetos que juntam estas duas realidades. Mas acredito que isso pode ser ainda mais potenciado e a U.Porto Inovação pode mediar muito esse contacto.”
1. A que U.Porto Inovação chegou quando tomou posse?
Em 2022 deparei-me com uma U.Porto Inovação com uma atividade muito consolidada, com vários anos de trabalho prévio e com uma estrutura madura, organizada e com ideias claras da sua missão. Essa foi a U.Porto Inovação que encontrei.
Naturalmente que cada responsável tem as suas próprias ideias e eu procurei imprimir um cunho muito próprio relativamente ao que era o meu entendimento do trabalho da U.Porto Inovação, embora não se desviando muito do que tinha sido feito no passado recente. No essencial, foram feitos alguns ajustes ao rumo futuro e nas prioridades de atuação dos próximos anos.
A U.Porto Inovação tem um conjunto de profissionais muito qualificados, que trabalham na estrutura já há bastante tempo e isso permite encarar o futuro com bastante otimismo.
2. Diria que que chegou com um objetivo em concreto, uma ambição maior, ou várias, divididas pelas áreas de atuação da U.Porto Inovação?
Naturalmente que há aqui um propósito maior, um objetivo central, que não se desvia muito do que tem vindo a ser a missão da U.Porto Inovação, embora com algumas nuances. Dentro desse objetivo principal há várias questões mais pequenas, embora todas elas caminhem no mesmo sentido.
No que diz respeito à U.Porto Inovação considero que há duas ou três coisas que valeria a pena reforçar. Por um lado, acentuar a visibilidade do Serviço no contexto da Universidade do Porto e do seu ecossistema de inovação, que é um ecossistema diverso e com muitos players – correspondendo a perto de 25% da ciência que se produz em Portugal. Assim, o objetivo é trazer a U.Porto Inovação para a primeira fila, digamos assim, para que o seu trabalho no domínio da valorização do conhecimento, da inovação e dos mais variados domínios em que atua, seja reconhecido.
Acentuar a visibilidade da U.Porto Inovação no seio do nosso ecossistema de investigação, para que o seu trabalho no domínio da valorização do conhecimento, da inovação, e dos mais variados domínios em que atua, seja mais conhecido. Dar uma visibilidade acrescida no seio da comunidade científico-tecnológica em que se insere, bem como no meio empresarial.
Em suma: visibilidade e proximidade serão duas pedras basilares do trabalho da U.Porto Inovação que considero valer a pena reforçar. Creio que isso no futuro poderá trazer muitos dividendos, nomeadamente no que diz respeito a uma das funções maiores da U.Porto Inovação que é tratar das questões da propriedade intelectual e da valorização do conhecimento produzido na nossa Universidade e no nosso alargado ecossistema de investigação.
3. Como parte integrante da Universidade do Porto, a U.Porto Inovação tem um público bem evidente cá dentro. No entanto, temos também outros públicos, nomeadamente a comunidade empresarial e a sociedade em geral. Considera que a U.Porto Inovação tem contribuído também junto desses players?
Sim. Essa é também uma das suas funções fundamentais. Promover e facilitar as interações junto da comunidade empresarial, para aumentar a sua participação em projetos de investigação com a Universidade do Porto, que permitam criar produtos e valor com impacto na sociedade e na economia nacional. Sabemos que há muitas empresas que procuram melhorar os seus meios de produção, ou criar produtos novos, mas fazem-no muitas vezes recorrendo a entidades externas e mesmo fora do país. Gostaríamos que, sempre que possível, o possam fazer com o ecossistema de investigação da Universidade do Porto e, nesse sentido, a atuação da U.Porto Inovação é uma mais valia, já que tem a capacidade para juntar a comunidade académica e empresarial.
Este diálogo entre as empresas e a comunidade científica tem vindo a aumentar e há, de facto, cada vez mais projetos conjuntos entre a academia e as entidades empresariais. Ainda assim, acredito que se pode melhorar muito esta interação, e a U.Porto Inovação está especialmente posicionada para mediar muito esse contacto. Pode ir junto de empresas que conhece bem, e com as quais já trabalhou (como por exemplo as spin-offs, geradas por ideias de negócio que aqui surgiram) e trazê-las cada vez mais para junto da comunidade científica. Motivá-las a procurar as soluções dos problemas que enfrentam em contexto empresarial na investigação científica da Universidade do Porto.
Resumindo, temos aqui três questões principais: visibilidade, proximidade da comunidade científica, despertando-os ainda mais para a inovação, e trazer a comunidade empresarial para mais perto da ciência que se faz no nosso ecossistema de forma a fazermos coisas em conjunto.
4. Reconhece uma evolução na U.Porto Inovação desde o seu primeiro contacto com o trabalho da equipa?
É difícil situar quando é que soube da existência da U.Porto Inovação. Como investigador e académico tenho feito investigação em ciências biomédicas e ciências da saúde mas, nesse papel, não conheci com muita profundidade o trabalho da U.Porto Inovação. No entanto, importa dizer que nos últimos anos, e muito também devido a medidas que têm sido postas em prática (para promover a valorização do conhecimento, a proteção via patente, ou a criação de spin-offs), a U.Porto Inovação aparece como o local onde se vai procurar respostas. Hoje em dia o serviço é procurado por uma maior diversidade de áreas entre as quais as ciências biomédicas.
Importa dizer também que o conceito de inovação tem evoluído muito nos últimos anos, com novos desafios e questões. Basta pensar que hoje em dia muitos dos projetos de investigação têm parcerias de empresas e questões de inovação associadas e têm, nos seus KPIs, muitos destes aspetos como essenciais. São questões que começaram a entrar na ordem do dia há meia dúzia de anos, talvez mais, mas que já fazem parte do imaginário de quem faz investigação na Universidade do Porto.
5. Acha que o termo inovação precisa de um rebranding? Que está “batido”?
Talvez. Inovação e empreendedorismo são termos que são empregues de forma muito abrangente, onde cabe muita coisa e as definições dos termos podem ser mais estreitas ou mais latas consoante faça sentido.
Acho que o termo inovação, tal como está definido, ainda é pertinente. Claro que podemos falar em invenção, ou outros, mas, à falta de melhor definição, considero que ainda faz sentido usar o termo. O que às vezes acontece é que a inovação está muito ligada a questões de aplicabilidade e de tecnologia e isso não tem de ser necessariamente assim. A inovação está ainda muito cunhada com a produção de produtos tecnológicos, muitas vezes ligados ao mundo digital ou à área das engenharias. Foram estas as áreas que, no contexto da inovação, se movimentaram mais depressa, e que de alguma forma marcaram a perceção do termo. E a inovação pode ser isso, sim, mas também ir além disso, basta pensar em conceitos como a inovação social.
É relativamente frequente colegas da área das ciências da vida, que eu conheço bem, sentirem algum desconforto em usar a palavra inovação porque acham que não se aplica bem às áreas em que eles trabalham. Já para não falar das áreas das humanidades ou artes. Essa parte da comunidade vê a inovação como estando intimamente ligada a tecnologia de ponta, inovação tecnológica. E não tem necessariamente que ser isso.
Aí, a U.Porto Inovação tem também algum trabalho de pedagogia a fazer, mostrando que pode haver inovação em todas as áreas, e de formas diferentes, e não apenas no mundo digital e no mundo das apps.
6. Que legado gostaria de deixar?
Legado é uma palavra um pouco forte, mas gostava que os três pontos principais que falei acima fossem atingidos com sucesso, beneficiando todos os intervenientes.
É importante salientar que a U.Porto Inovação tem um nome perfeitamente estabelecido a nível nacional. A qualquer lugar que eu vou, no contexto da inovação e investigação, a U.Porto Inovação é um dos serviços da Universidade do Porto mais reconhecido. Basta pensar nos convites que a equipa recebe para os diversos eventos relacionados com o tema, onde dá o seu testemunho. Isso denota que o trabalho que tem sido feito é reconhecido a nível nacional (e internacional também).
Gostava que essa visibilidade externa também acontecesse a nível interno, e de uma maneira mais abrangente. Já há um conhecimento grande em algumas áreas de investigação e em algumas unidade orgânicas a U.Porto Inovação é frequentemente procurada por muitos investigadores, que recorrem aos seus serviços. Mas gostaria que o trabalho da equipa fosse ainda mais conhecido e chegasse a mais pessoas, e que o diálogo entre o mundo das empresas e o mundo da investigação fosse cada vez mais frequente e intenso. O objetivo é que esse diálogo (que é, já em si, muito importante) encoraje a existência de parcerias, e que de uma forma mais célere, leve a que estas duas entidades, criem mais projetos de investigação em conjunto no futuro.
7. Como é que vê o futuro da inovação não só na Universidade do Porto mas também a nível nacional? Como é que a U.Porto Inovação pode contribuir para isso?
No mundo em constante mutação em que vivemos é muito difícil fazer previsões de médio e longo prazo. É verdade que a inovação tem atravessado – e continuará a atravessar no futuro, como todas as áreas – grandes transformações. Passados vários anos, o caminho feito por diferentes universidades e outras entidades na criação de estruturas como a U.Porto Inovação é naturalmente objeto de reavaliação. Estou em crer que os nossos resultados, nomeadamente na implementação e proteção da propriedade intelectual, demonstram que, no essencial, esta foi uma aposta ganha.
Quanto à atuação no futuro, por um lado, numa primeira fase, continuar a fazer-se um trabalho irrepreensível e de grande qualidade na proteção da propriedade intelectual (PI). A proteção da PI está na génese da criação de estruturas como a U.Porto Inovação e tem um propósito claro: proteger o conhecimento gerado com vista à sua valorização. Eu acredito que esse trabalho, com a importância basilar que tem, vai ter sempre de continuar mas não se pode encerrar em si mesmo e perder de vista a valorização social e económica do conhecimento protegido.
Creio que também é necessário ir ativamente de encontro ao conhecimento gerado em áreas científicas que, até agora, não têm sido a aposta óbvia destas estruturas. Na verdade, há áreas que não estão tão despertas para a necessidade de proteger de uma forma mais estreita o conhecimento que produzem e, assim, têm ficado um bocadinho fora do radar da U.Porto Inovação.
Ainda assim, chegados a este ponto, acredito que haja necessidade de proceder a alguns ajustes no futuro, nomeadamente dar mais atenção à valorização económica do conhecimento. No fundo, procurar que a propriedade intelectual que é protegida possa ser de facto uma mais-valia do ponto de vista económico, seja através de licenciamentos, vendas, criação de spin-offs ou outras formas. Seja como for, estou convicto que apesar dos desafios que os tempos em constante mudança nos colocam, estruturas como a U.Porto Inovação continuarão a ser, no futuro, uma peça fundamental do ecossistema de investigação e inovação da Universidade do Porto.