Paula Ferreira (na foto), investigadora do ICBAS, lidera grupo de investigação que tem, desde o início, um objetivo muito claro: combater a morte de milhões de recém-nascidos por infeções bacterianas. Esta tecnologia da U.Porto foi agora licenciada à empresa Immunethep.

O objetivo foi claro desde o início: combater a morte anual de milhões de recém-nascidos e também os milhões de nados-mortos, por infeções bacterianas. Uma vez impossível administrar o fármaco nos embriões, a resposta para este problema passa por imunizar as mães, como explica Pedro Madureira, um dos inventores: “Tendo em conta a altura em que estas infeções ocorrem, é impossível administrar a vacina diretamente ao bebé e, mesmo que fosse possível, não teria qualquer benefício imediato”. Deste modo, e vacinando a mãe, os anticorpos vão passar para os filhos, protegendo-os. Pedro Madureira acrescenta que “os anticorpos desenvolvidos por esta vacina conseguem atravessar a placenta”, tornando a invenção extremamente eficaz até em casos de infeção ainda com o bebé dentro do útero.

A eficácia contra vários tipos de bactérias é a principal vantagem desta tecnologia que se encontra já em vias de ser protegida por patente. Como explicou Pedro Madureira “as infeções mais perigosas são causadas por diferentes estirpes de bactérias e uma vez que não existe uma única vacina capaz de proteger os recém-nascidos de infeções causadas por qualquer um desses microrganismos, torna-se evidente a grande relevância desta invenção”. A única alternativa de tratamento para esses casos seriam os antibióticos e numa atitude de tratamento e não de prevenção o que, como explica Pedro Madureira, é “completamente ineficaz em infeções ocorridas antes do parto”, além de contribuir fortemente para o aparecimento de novas estirpes de bactérias que se revelam altamente resistentes aos antibióticos. Por trás desta descoberta está um intenso trabalho de anos, orientado por Paula Ferreira, investigadora do ICBAS. No entanto, para explicar melhor, é necessário voltar atrás até à investigação do professor Mário Arala Chaves que conseguiu descobrir que “alguns agentes patogénicos tinham a capacidade de libertar moléculas que “desligavam” o sistema imune do hospedeiro”, contextualiza Pedro Madureira, explicando o processo até chegar ao estado atual. Já com Paula Ferreira a liderar este projeto de investigação, chegou-se à conclusão que a maior parte das bactérias que causam doenças graves em recém-nascidos “usam exatamente a mesma estratégia para impedir o sistema imune do bebé de funcionar corretamente”, fazendo com que fosse mais fácil idealizar uma solução eficaz, explica Pedro Madureira.

Neste momento, a equipa científica está a trabalhar no desenvolvimento da vacina propriamente dita, até para “desvendar novos mecanismos de atuação do sistema imune”, refere o investigador. Uma vez que toda esta investigação profunda se centrou em estudar como certas bactérias conseguiam “escapar ao sistema imune”, os próximos passos a dar centram-se, sobretudo, em aproveitar esta descoberta para compreender e tratar outro tipo de patologias do sistema imune. A invenção da equipa do ICBAS está já licenciada à empresa Immunethep, aspeto que a equipa de investigação refere como vital para o desenrolar de todo o processo: “Todo o trabalho de décadas foi sempre efetuado sob um ponto de vista científico e sob a perspetiva de cientistas. Os empreendedores da Venture Catalyts, com uma experiência sólida na comercialização, vieram trazer ideias completamente inovadoras que permitiram orientar toda a investigação de uma maneira muito mais pragmática”, refere Pedro Madureira acrescentando que, assim, foi possível “iniciar um processo que permite que uma ideia científica seja traduzida num produto que pode salvar vidas”.