O cancro de mama triplo negativo (TNBC) é a forma mais letal de cancro de mama. A comunidade científica já tem bastante conhecimento sobre a heterogeneidade da doença, mas ainda faltam terapias direcionadas, fazendo da quimioterapia o tratamento principal. E isso impacta de forma severa a qualidade de vida dos doentes. 

Foi esse o propulsor da equipa OnCure Therapeutics, vencedora da 11ª edição do iUP25k – Concurso de Ideias de Negócio da Universidade do Porto, cujo projeto tem como objetivo oferecer uma terapia direcionada a quem sofre desta doença, “com pequenas moléculas para prevenir metástases, apresentando assim uma alternativa não tóxica à quimioterapia”, explicam. 

“Estudos recentes identificaram um evento molecular exclusivo das células cancerígenas com elevado potencial metastático: a principal causa de mortalidade entre os pacientes. Este evento é fundamental para que as células de TNBC sejam capazes de se disseminar e formar metástases, o que realça o seu potencial como alvo terapêutico específico”, explicam as investigadoras Sandra Tavares e Andreia Silva do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto (i3S) e o investigador António Ribeiro, do LAQV/REQUIMTE e da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP). A inibição desta molécula em células saudáveis, acrescentam, “não compromete o seu funcionamento normal, ao contrário do que ocorre com a quimioterapia”.

A equipa acredita que este projeto marca “uma mudança rumo à oncologia de precisão, com muito menos efeitos colaterais” do que a quimioterapia, o tratamento convencional para o TNBC e outros cancros.

“Ganhar este prémio mostra que o nosso entusiasmo pela nossa ideia tem fundamento e que fomos capazes de absorver os conhecimentos adquiridos ao longo de toda a jornada”, referem. Surpreendida com a vitória no iUP25k, a equipa tenciona agora usufruir tanto da consultoria com a Astrolábio como do período de incubação na UPTEC como “ferramentas e oportunidades para desenvolver a ideia e o plano de negócio”. Já o prémio monetário será investido em formação da equipa, de forma a consolidarem as suas capacidades empresariais.

Olhando mais para o futuro, a Oncure vai continuar, naturalmente, a trabalhar no desenvolvimento do produto. Ao mesmo tempo, vão trabalhar na apresentação da ideia para futuras oportunidades.

Terapias de precisão para a doença de Parkinson com menos efeitos secundários

No segundo lugar desta edição do iUP25k ficou o Allo Pharma Research, um projeto desenvolvido por Ivo Dias, Xavier Correia e Hugo Almeida, todos investigadores do LAQV/REQUIMTE, na FCUP, e que tem em vista o desenvolvimento de terapias de nova geração para a doença de Parkinson com menos efeitos secundários. Pode também servir no tratamento de outros distúrbios relacionados à dopamina, “por meio da modulação precisa da atividade do recetor de dopamina D2”, explicam os investigadores.

O objetivo da inovação é “aumentar a eficácia dos tratamentos convencionais, reduzindo significativamente os efeitos secundários das terapias”. Uma tecnologia inovadora que já demonstrou, nas palavras da equipa, “alta relevância clínica e ampla aplicabilidade, com potencial para redefinir os cuidados de saúde através de terapias farmacológicas alternativas e seguras”.

“Ser uma das equipas vencedoras do iUP25k 2025 representa um reconhecimento muito relevante do valor científico e inovador do nosso projeto. Reforça a confiança no nosso trabalho e na sua capacidade de gerar impacto real na vida dos doentes com Parkinson”, referem. Com isso em mente, os prémios conquistados servirão para reforçar as ações de proteção da propriedade intelectual, nomeadamente através de um pedido internacional de patente na Europa, sendo a proteção do conhecimento uma das partes mais importantes da investigação científica.

Paralelamente, o montante recebido será aplicado no desenvolvimento “pré-clínico dos moduladores alostéricos, com destaque para a realização de ensaios laboratoriais adicionais”. A equipa pretende, assim, fortalecer a evidência científica da investigação, bem com preparar a entrada em futuras fases de investimento e colaboração com a indústria. Estão também a mapear potenciais parcerias estratégicas e candidaturas a programas de aceleração que lhes permitam estruturar o modelo de negócio, validar a estratégia regulatória e preparar o projeto para as próximas fases de licenciamento.

Promover partos seguros e cuidados maternos especializados

A fechar o pódio desta 11.ª edição do iUP25k ficou o projeto AI4BirthCare, criado por uma equipa multidisciplinar composta pelas/os investigadoras/es Rita Moura, da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), Daniel Fidalgo e Dulce Oliveira, do INEGI, e Mafalda Neves, do Hospital São João. A inovação tem como objetivo prever e prevenir lesões relacionadas com o parto, auxiliando na tomada de decisões médicas.

O sistema baseia-se em dados e utiliza informações específicas de cada paciente, combinando inteligência artificial (IA) e simulações biomecânicas “para avaliar os riscos de lesão pélvica antes do parto”, explicam os investigadores. “Ao identificar riscos e indicar os locais mais prováveis de lesão, permite que os médicos obstetras optem por intervenções direcionadas melhorando, assim, os cuidados de saúde materna”, acrescentam.

Para a equipa do AI4BirthCare o 2º lugar no iUP25k “representa um reconhecimento muito relevante da qualidade e do potencial da ideia”, tendo em conta que consideram estar ainda numa fase embrionária do projeto. Mais do que um prémio, os cientistas vêm esta distinção como uma validação externa que dá confiança, credibilidade e visibilidade “junto de parceiros, investidores e instituições”, referem. 

Este é um projeto que, na opinião da equipa, pode estender-se em colaborações várias, desde instituições de saúde, passando por universidades e/ou empresas de tecnologia médica. Assim, a equipa vai concentrar-se na consolidação da ideia de negócio e na definição clara da proposta de valor, bem como no “desenvolvimento de um plano estratégico para atingir o mercado”, referem. Acreditam que o prémio da consultoria será muito importante para os ajudar a “tomar decisões mais informadas, perceber o posicionamento da solução no mercado, bem como aprender mais sobre estratégias de marketing”.

A curto prazo, o foco do grupo de investigação está na consolidação técnica e científica da solução. “Estamos atualmente à procura de financiamento para finalizar e validar a nossa prova de conceito, o que nos permitirá aumentar o TRL (Technology Readiness Level) do produto”. Um dos principais objetivos da equipa é o desenvolvimento de um Minimum Viable Product (MVP). Paralelamente, vão começar a explorar contactos com potenciais utilizadores finais para recolher feedback e “alinhar o desenvolvimento do produto com as necessidades reais do mercado”, concluem.

"Nunca se investiu tanto em inovação na Universidade do Porto como agora"

Realizada no passado 12 de maio, no Auditório da UPTEC Asprela I, a final do iUP25k 2025 fechou com chave de ouro mais uma edição de uma iniciativa que é já vista como um dos mais emblemáticos eventos de promoção do empreendedorismo na instituição. Este ano, o concurso contou com o apoio da Caixa Geral de Depósitos, da Astrolábio e da UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto.

Recorde-se que, durante três dias, as equipas participaram no BIP Ignition, que lhes permitiu não só obter consultoria especializada e aconselhamento sobre como melhorar os seus projetos, mas também acompanhamento dos pitchs para a sessão final. Esta tarefa esteve a cargo da Astrolábio.

O júri desta edição foi constituído por Adriano Fidalgo (Astrolábio), Maria João Gonçalves Maia (Corium Biotech) e Raphael Stanzani (UPTEC). A decisão sobre os vencedores do iUP25k 2025 foi consensual, revelando a elevada qualidade dos projetos finalistas.

“Agradeço a todos os que concorreram e participaram nesta jornada e também ao júri, que tem sempre a tarefa mais difícil e ingrata entre mãos” referiu Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da U.Porto para a Investigação e Inovação, no momento em que anunciou os vencedores.

Pedro Rodrigues acrescentou ainda que “nunca se investiu tanto em inovação na Universidade do Porto como agora”, incentivando as equipas a estarem atentas a todas as oportunidades que possam surgir. “O que queremos é ver aparecer novas ideias e novas empresas que coloquem a nossa investigação no panorama nacional e ao serviço da sociedade, com o impacto que todos gostaríamos”, referiu.

“Agradeço a todos os que concorreram e participaram nesta jornada e também ao júri, que tem sempre a tarefa mais difícil e ingrata entre mãos” referiu Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da U.Porto para a Investigação e Inovação, no momento em que anunciou os vencedores.

Pedro Rodrigues acrescentou ainda que “nunca se investiu tanto em inovação na Universidade do Porto como agora”, incentivando as equipas a estarem atentas a todas as oportunidades que possam surgir. “O que queremos é ver aparecer novas ideias e novas empresas que coloquem a nossa investigação no panorama nacional e ao serviço da sociedade, com o impacto que todos gostaríamos”, referiu.

 

Esta edição do iUP25k contou com o apoio da Caixa Geral de Depósitos, da UPTEC e da Astrolábio.