“Mais do que um prémio, é uma validação do nosso trabalho, o que fortalece a nossa convicção no caminho que estamos a seguir”. São palavras de Ângela Carvalho, CEO da BEAT Therapeutics, em reação ao prémio de 75.000 euros conquistado no âmbito da primeira edição do WomenTechEU. A investigadora é uma das duas portuguesas distinguidas nesta iniciativa do Prémio Europeu para Mulheres Empreendedoras, promovido pelo European Innovation Council (EIC) e pela SME Executive Agency (EISMEA).

Na origem desta distinção está a empresa BEAT Therapeutics, uma spin-off da Universidade do Porto atualmente incubada na UPTEC – Parque da Ciência e Tecnologia da U.Porto. Trata-se de uma startup de biotecnologia focada na descoberta e desenvolvimento de terapias inovadoras para tratamento de cancros agressivos, fruto da colaboração entre investigadores da Faculdade de Farmácia (FFUP), do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), do REQUIMTE e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa (FFUL). Ângela Carvalho, Lucília Saraiva, Maria José Ferreira, Hugo Prazeres, Lúcio Lara Santos são os cofundadores.

Focada em agentes anticancerígenos que atuam na reparação do ADN, a empresa visa impulsionar avanços significativos na investigação oncológica e oferecer terapias de elevada eficácia e segurança, capazes de melhorar de forma significativa a qualidade de vida dos doentes.

O principal candidato a fármaco, atualmente em fase de desenvolvimento pré-clínico, é uma molécula inovadora, concebida para inibir a reparação do ADN em células cancerígenas ao interromper uma via central na recombinação homóloga.

O reconhecimento internacional na iniciativa WomenTechEU é de grande importância para a equipa. “Numa área onde o acesso a financiamento pode ser desafiante para projetos liderados por mulheres, iniciativas como o Women TechEU ajudam a criar pontes, facilitando o acesso a uma rede internacional de contactos e recursos estratégicos, que são ferramentas valiosas para impulsionar o nosso crescimento no exigente mercado da biotecnologia em saúde”, destaca Ângela Carvalho.

Nesse sentido, a BEAT vai aproveitar os serviços especializados promovidos pela WomenTechEU para reforçar a vertente estratégica do projeto, ao mesmo tempo que continuará a intensificar os esforços em investigação e desenvolvimento da tecnologia.

“O desenvolvimento de terapêuticos é um caminho longo, complexo, e com elevadas necessidades de financiamento”, acrescenta a CEO. E isso faz com que seja fundamental que a equipa aproveite estes apoios não só para refinar o modelo de negócio, mas também para expandir a rede de parceiros internacionais.

Da investigação ao empreendedorismo

Ângela Carvalho já havia tomado a decisão de “despir a bata do laboratório” (era investigadora do i3S) e passar para a área da transferência de tecnologia quando começou a trabalhar num programa de aceleração em saúde, dando apoio a startups: “Pouco tempo depois de começar a trabalhar em transferência de tecnologia percebi que era nesta área que podia dar um contributo para criar valor”, diz.

E é nesse contexto que se junta à BEAT Therapeutics e ao lançamento do projeto empreendedor. Na opinião de Ângela, o empreendedorismo em saúde é um “espaço híbrido, onde a investigação científica e a visão empresarial andam lado a lado”, explica. Por isso, considera que tanto a sua experiência como investigadora como a no empreendedorismo foram essenciais para trilhar o caminho até chegar aqui.

É, então, neste papel, que a investigadora encontra o seu propósito: “Agora o meu trabalho e a minha visão sobre a aplicação da ciência no mundo real unem-se e, na nossa equipa, trabalhamos com o foco principal de dar resposta ás necessidades dos doentes”, refere.

A jornada, que começou nos laboratórios e levou à constituição de uma empresa, já valeu várias conquistas à BEAT Therapeutics. Entre elas incluem-se a vitória na 9.ª edição do iUP25k – Concurso de Ideias de Negócio da U.Porto, o Prémio Inovação Bluepharma 2023, o Prémio Jovem Empreendedor 2023, o primeiro lugar na EIT Health InnoStars 2023, a distinção no Programa Gilead Génese ou o prémio no programa de aceleração espanhol “Startup Olé”.

Ângela Carvalho confessa que é difícil destacar algum momento mais especial no tempo de vida da startup, que considera curto. “Cada parceria, apoio e reconhecimento alcançado têm sido peças fundamentais no nosso crescimento”, diz.

Sobre o WomenTechEU

O objetivo do WomenTechEU é reconhecer mulheres líderes em ciência, tecnologia e empreendedorismo que estão a impulsionar inovações disruptivas na Europa. Com três categorias a concurso, a iniciativa destaca o papel crucial da diversidade de género na inovação, inspirando as próximas gerações de mulheres a assumir a liderança no setor.

Para além de uma subvenção individual de 75.000 euros, para apoiar as etapas iniciais do processo de inovação e o crescimento da empresa, o prémio inclui ainda aconselhamento e orientação prestados pelos Serviços de Aceleração Empresarial (BAS) do European Innovation Council (EIC), bem como a possibilidade de participar em atividades organizadas pelo InvestEU e pela Enterprise Europe Network.

Para a BEAT Therapeutics, esta distinção trata-se de mais um “capítulo importante” que fortalece a capacidade de a empresa responder ao que verdadeiramente a move, seja na vertente da investigação ou do empreendedorismo: desenvolver terapias inovadoras que respondam às necessidades dos doentes com cancro.

Em Portugal, este prémio é acompanhado pela Agência Nacional de Inovação (ANI), encarregue de promover a participação nacional em programas europeus de apoio à ciência e tecnologia.