A BEAT Therapeutics promete um composto inovador para tratar cancros agressivos. Já a Orgavalue é uma tecnologia inovadora para criar novos órgãos humanos. Os dois projetos nasceram nos laboratórios da Universidade do Porto e estão entre os 18 vencedores da 8.ª edição dos Prémios InnoStars, uma iniciativa do EIT Health – European Institute of Innovation and Technology que visa apoiar startups inovadoras na área da Saúde.
Fruto da colaboração entre investigadores da Faculdade de Farmácia (FFUP), do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), do REQUIMTE e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, a BEAT Therapeutics trata-se de uma tecnologia inovadora que pode trazer uma nova esperança para pacientes que sofrem com cancros agressivos, nomeadamente mama, ovário e pâncreas. Ao todo, são mais de 1.5 milhões de pacientes a sofrer com este tipo de patologias e que não tem opção de tratamento além da quimioterapia convencional.
Como refere Ângela Carvalho, do i3S, a BEAT Therapeutics pretende ser o “tratamento de excelência para cancros agressivos”. O composto (BBIT20), descoberto e testado pelo grupo de investigadores, é promissor devido tanto às suas origens (a partir de uma planta utilizada na medicina tradicional em Moçambique) como aos seus efeitos. Testes mostram que pode ser quatro vezes mais eficaz do que a quimioterapia na redução de tumores.
Lucília Saraiva, investigadora da FFUP e uma das responsáveis pelo projeto, refere que a ajuda monetária recebida nos Innostars Awards (25.000 euros) será muito bem-vinda, uma vez que existe ainda um grande investimento a fazer ao nível da investigação para “valorizar o composto como potencial candidato a fármaco”, refere.
O montante atribuído à BEAT Therapeutics será aplicado em estudos relacionados com a caracterização do perfil de segurança e biodisponibilidade que, como refere Lucília Saraiva, “são muito relevantes para a potencial entrada do composto em ensaios clínicos”.
Além disso, a equipa encara este prémio como um importante “reconhecimento internacional da qualidade científica e inovadora do projeto, numa dimensão muito mais competitiva”, diz a investigadora, acrescentando que, com ele, são abertas portas a uma rede internacional de contactos com investigadores e empresas que será “muito relevante principalmente na fase inicial da startup que está a ser criada”, conclui.
A próxima etapa da equipa (que foi a vencedora da edição de 2023 do iUP25k) passa por avançar na procura de parceiros e investidores para apoiar na realização dos ensaios clínicos de fase I.
Uma revolução nos transplantes de órgãos
A Orgavalue trata-se por sua vez de um projeto na área da bioengenharia que propõe uma tecnologia inovadora para criar fígados humanos. A inovação tem potencial de aplicação tanto no tratamento como no diagnóstico de doenças.
Criada no i3S pelos investigadores Cristina Ribeiro, Hugo Prazeres e Rodrigo Val d’Oleiros, o OrgaValue tem como principal objetivo melhorar a eficácia nos transplantes de fígado. As mortes de pacientes, enquanto esperam por um transplante, são frequentes, e “54% rejeitam o novo órgão, sendo que o problema não é a falta de órgãos, mas a qualidade dos mesmos”, explicam os investigadores.
Assim, para dar resposta a este problema, a equipa sediada na U.Porto desenvolveu uma tecnologia que permite reabilitar órgãos humanos e torná-los totalmente transplantáveis. E como? “Através de uma solução líquida de limpeza que remove as células, deixando uma matriz não celular com a matriz orgânica apropriada. Então, novas células humanas saudáveis são introduzidas na matriz para bioengenharia de um novo órgão”, contam os cientistas.
A equipa espera começar os primeiros ensaios clínicos do projeto em 2025.
Recorde-se que o projeto Orgavalue venceu a 1.ª edição do BIP Acceleration, o programa de aceleração de projetos de valorização de resultados de investigação da Universidade do Porto. Também em 2022, o investigador Rodrigo Val d’Oleiros, rosto principal do projeto, conquistou o Prémio Jovem Empreendedor 2022, atribuído pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE).
Sobre os Prémios InnoStars
Atribuídos pelo IET desde 2016, os Prémios InnoStars destinam-se a empresas em fase de arranque no setor da saúde das regiões central, oriental e meridional da Europa.
A esta oitava edição dos galardões candidataram-se 107 projetos provenientes de 18 países europeus. Destes, foram selecionados 18 – quatro de Portugal, três de Espanha, dois de Itália, Lituânia e Polónia e um da Hungria, Eslováquia, Grécia, Roménia e Letónia – que irão receber um prémio de 25 mil euros em financiamento, formação, mentoria.
As startups premiadas também vão ter acesso a encontros com potenciais clientes, investidores e parceiros ao mais alto nível.
Após este programa de aceleração, serão escolhidos 10 finalistas, que terão a oportunidade de participar na grande final dos Prémios InnoStars, a decorrer no final do ano. Neste evento, os projetos vencedores podem receber um financiamento adicional de 25 mil, 15 mil ou 10 mil euros.
Notícia escrita em parceria com a Comunicação & Imagem da U.Porto (Tiago Reis).