Ana Casaca trabalhou na Reitoria da Universidade do Porto entre 2003 e 2006, tendo contribuído para o lançamento da U.Porto Inovação em 2004. Na altura, faziam parte da equipa também António Teixeira e Sofia Varge. Ana Casaca chegou a assumir parte da coordenação desta primeira equipa.
Na sua opinião, a importância de uma estrutura como a U.Porto Inovação mantém-se até aos dias de hoje. “A U.Porto Inovação é mais do que nunca uma pedra angular na estratégia de desenvolvimento e inovação da Universidade do Porto. Desempenhando um papel crucial na promoção da inovação, este gabinete é instrumental na transformação do conhecimento académico em valor económico e social, servindo de ponte entre as áreas de investigação de ponta realizadas dentro dos muros da universidade e o mundo empresarial.”, refere.
1. Porque se sentiu a necessidade de criar a U.Porto Inovação?
A necessidade de criar um gabinete como a U.Porto Inovação surgiu do desejo de fortalecer as conexões entre a indústria e os centros de investigação da universidade. O nosso objetivo primordial era formar parcerias estratégicas e fomentar processos de cocriação que resultassem na produção de conhecimento com um impacto tangível e benéfico para a sociedade.
A U.Porto Inovação foi concebida para atuar como catalisadora na transferência de tecnologias inovadoras para o mercado e promover a integração da cultura académica com o ecossistema externo mais amplo. Esta iniciativa pretendia não apenas facilitar a aplicação prática do conhecimento científico, mas também abrir novos caminhos para a colaboração entre a universidade e o setor empresarial.
Dada a reconhecida excelência da Universidade do Porto na produção científica, era fundamental que a U.Porto Inovação desempenhasse um papel duplo: servir como um farol para a valorização do conhecimento gerado dentro da universidade e como um motor de capacitação empreendedora para professores e estudantes. Este esforço visava diretamente contribuir para o rejuvenescimento e fortalecimento das capacidades industriais da região Norte, além de promover a criação de empregos altamente qualificados.
Adicionalmente, reconheceu-se que a U.Porto Inovação deveria posicionar-se no centro dos novos ecossistemas de inovação, facilitando a interação e complementaridade entre as diversas competências académicas e industriais. Este papel central é fundamental para maximizar o potencial inovador e produtivo do país, particularmente na região norte, criando sinergias que impulsionam o desenvolvimento tecnológico e socioeconómico.
2. Foi fácil o processo? Como se desenrolou?
A criação de um gabinete de transferência de tecnologia é um processo complexo. Há um duplo desafio de adequação: por um lado, às especificidades de cada instituição de ensino e investigação; por outro, às necessidades do mercado onde a Universidade atua.
Iniciamos o processo com uma análise de benchmarking sobre o funcionamento e a estrutura de gabinetes de transferência de tecnologia noutras universidades. Este passo permitiu identificar melhores práticas e foi crucial para entender como outras instituições equilibraram a proteção intelectual com a comercialização eficaz das inovações.
Definimos os Macro Objetivos com base nas lições aprendidas durante a fase de benchmarking, o que nos permitiu delinear claramente o scope de atuação que incluía a gestão de propriedade intelectual, a promoção de parcerias entre a universidade e a indústria, e o apoio ao empreendedorismo académico.
O alinhamento institucional e interdepartamental foi naturalmente o passo seguinte. Foi necessário trabalhar de forma colaborativa para assegurar que a U.Porto Inovação complementasse e reforçasse os objetivos da Universidade e de pesquisa, sem duplicar esforços ou criar conflitos internos.
Em termos de operacionalização, começamos com o Desenvolvimento de Políticas e Procedimentos com uma abordagem holística, desde a identificação e proteção de invenções até à negociação de acordos de licenciamento e parcerias com a indústria.
Mas a formação da equipa foi o passo mais importante em todo o processo. Desde especialistas em propriedade intelectual a profissionais de desenvolvimento de negócio, a diversidade de competências foi decisiva para cobrir todos os ângulos da transferência de tecnologia. Isto foi fundamental para abranger as várias facetas da transferência de tecnologia.
3. Como era constituída a equipa e por que tarefas/projetos começaram?
A equipa inicial era composta por três profissionais com experiências variadas, desde a proteção de ativos intangíveis até à gestão de candidaturas a fundos comunitários, passando pela criação de empresas. Adicionalmente, priorizou-se a formação de uma rede de parceiros internos e externos para evitar redundâncias e colmatar as competências que não existiam na equipa.
Entre os primeiros projetos, destaco: o desenvolvimento e aprovação do primeiro regulamento de Propriedade Intelectual da U.Porto; a criação do primeiro curso de empreendedorismo com o apoio do Professor Daniel Bessa na Porto Business School, focado em alunos de Doutoramento e Mestrado; e, por último, a implementação do processo de transferência de tecnologia em parceria com o Instituto Fraunhofer.
4. Quais as maiores dificuldades?
Diria que o maior desafio foi identificar o valor potencial que a U.Porto Inovação poderia agregar à Universidade. Foi necessário assegurar o alinhamento e aprovação com as direções das 14 faculdades e definir os objetivos, indicadores de desempenho e principais linhas de atuação para os primeiros anos, além de garantir financiamento para o arranque do processo.
5. Como vê a importância da U.Porto Inovação nos dias que correm?
Além de fomentar o empreendedorismo tecnológico entre estudantes, docentes e investigadores, a U.Porto Inovação é fundamental na criação de um ambiente propício à criação de startups e spin-off, contribuindo significativamente para o ecossistema inovador da região e do país. Ao facilitar o acesso a recursos, mentoria, redes de contactos e financiamento, apoia a comunidade académica a dar o salto em direção ao mercado global.
Numa altura em que a rapidez da evolução tecnológica e a intensidade da competição global não têm precedentes, a U.Porto Inovação não só eleva o perfil internacional da Universidade como também desempenha um papel vital na economia, contribuindo para a criação de emprego qualificado, para o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e para a solução de desafios sociais complexos.
Assim, a U.Porto Inovação é essencial para que a universidade continue na vanguarda da ciência e tecnologia, reforçando a sua missão de servir a sociedade através da inovação e do conhecimento.
6. Na sua opinião, por onde passa o futuro da inovação na Universidade do Porto? O que falta fazer?
O futuro da inovação na Universidade do Porto deve assentar na continuação e intensificação do envolvimento sistemático entre a indústria e o meio académico.
A chave está em estabelecer parcerias estratégicas que não só realcem a geração de conhecimento, mas que também promovam a aplicação prática desse conhecimento em benefício da sociedade. A Universidade, mais do que nunca, deve ser vista não só como uma fonte geradora de conhecimento, mas também como um catalisador para a integração de esforços entre diferentes sectores industriais e disciplinas académicas. Esta abordagem multidisciplinar e intersectorial é fundamental para enfrentar os desafios complexos da atualidade.
Para além disso, é crucial expandir os esforços no sentido de garantir que a investigação produzida tenha um impacto social tangível e reconhecível.
A Universidade do Porto tem o potencial de liderar neste domínio, assumindo um papel central no desenvolvimento de um ecossistema inovador que não apenas alimente a economia com novas tecnologias e soluções, mas que também contribua significativamente para o bem-estar da comunidade.
Um aspeto que ainda requer atenção é a necessidade de reforçar a infraestrutura de suporte à inovação dentro da Universidade. Isso inclui desde o aperfeiçoamento dos processos de transferência de tecnologia até ao desenvolvimento de programas que incentivem o empreendedorismo entre estudantes e investigadores. Promover uma cultura que valorize a inovação e o risco calculado pode acelerar significativamente o ritmo da inovação.
Em suma, para que a Universidade do Porto se mantenha na vanguarda da inovação, é imperativo que continue a fortalecer as ligações entre a academia e a indústria, desenvolva parcerias intersectoriais e transdisciplinares cada vez mais sólidas, e trabalhe ativamente para garantir que a investigação produza benefícios reais e mensuráveis para a sociedade.