António Teixeira foi um dos principais arquitetos na fundação da U.Porto Inovação. Durante o seu período na U.Porto, ajudou a desenhar o que começou por ser, na altura, a UPIN.

Esteve ligado à Universidade do Porto entre 2002 e 2005, começando, antes da existência da U.Porto Inovação, por liderar o Gabinete de Apoio à Propriedade Intelectual (GAPI). Este projeto nacional, financeiramente apoiado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), tinha a missão de “promover a propriedade intelectual por toda a comunidade universitária, bem como estabelecer boas práticas da gestão de propriedade intelectual (PI) e de transferência de tecnologia”, refere António Teixeira.

Além disso, o projeto concentrava-se também em promover novos procedimentos para definir a nova política de PI em toda a Universidade do Porto e esse foi um dos motivos que impulsionou a criação da U.Porto Inovação. “Diria que fiz parte do “ano zero” e do “ano um” da U.Porto Inovação.”, diz.

 

1. Porque se sentiu a necessidade de criar a U.Porto Inovação?

Em 2002 já existiam docentes e investigadores que conheciam os benefícios e vantagens da gestão da Propriedade Intelectual (PI) na academia, por via das suas experiências internacionais noutras universidades, mas uma grande parte da comunidade universitária não estava ainda desperta para estas questões. Talvez porque a própria U.Porto não sabia ainda bem como implementar esta componente no seu seio. Existiam dúvidas sobre a política de PI e algum desconhecimento, por isso penso que o contributo do Gabinete de Apoio à Propriedade Intelectual da Universidade do Porto (GAPI.UP), e mais tarde da U.Porto Inovação, terá sido muito importante para a U.Porto que conhecemos hoje. 

Trabalhei primeiro com o Reitor Novais Barbosa e o Vice-Reitor Ferreira Gomes e quando o Prof. Marques dos Santos e a Vice-Reitora Isabel Azevedo foram eleitos para o seu primeiro mandato começaram a ser discutidos os resultados do GAPI que já tinha obtido uma elevada aceitação como estrutura na U.Porto. Foi nesta altura, em que o projeto GAPI tinha o financiamento do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a terminar, que tomei a iniciativa de sugerir o alargamento de funções do GAPI. O Reitor Marques dos Santos concordou e tivemos diversas reuniões onde ajustei o documento à visão que na altura era pretendida para a Universidade. 

Como tinha tido acesso as formações no Reino Unido, providenciadas pela parceria Cambridge–MIT Institute a universidades britânicas, fui sempre muito inspirado em estruturas que conheci na altura (ISIS Innovation ou Oxford University Innovation e Cambridge Enterprise), sobretudo a primeira, e terá sido essa a razão pela qual sugeri o nome de Universidade do Porto Inovação ou UPIN.

 

2. Foi fácil o processo? Como se desenrolou?

Na Academia nada é fácil, mas poderei dizer que também não foi muito difícil, pois existia na Universidade do Porto um conjunto significativo de docentes e investigadores, em conjunto com o Reitor Marques do Santos e a Vice-Reitora Isabel Azevedo, que apoiavam e consideravam este processo determinante para a valorização do conhecimento produzido na universidade e no incentivo à criação de spinoffs baseadas em projetos de investigação. 

Recordo o apoio de vários investigadores da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), como por exemplo o Prof. Pedro Guedes de Oliveira. No entanto, na altura existiam outras prioridades, como as obras do ICBAS, a reformulação de currículos formativos, a transferência da Reitoria e a consolidação do Instituto de Recursos e Iniciativas Comuns da Universidade do Porto (IRICUP) que veio a ser a estrutura em que a U.Porto Inovação foi colocada, considerada naquela época a melhor opção de acordo com as políticas da U.Porto.

 

3. Como era constituída a equipa e por que tarefas/projetos começaram?

A equipa da U.Porto Inovação, quando foi instalada no IRICUP, além da minha coordenação, tinha mais duas pessoas: a Ana Casaca e a Sofia Varge.

As principais tarefas decorreram da continuação do que tinha sido implementado pelo GAPI. Recordo que, no nosso caso, o GAPI se destacava em algumas práticas, face à dinâmica e potencial da investigação científica realizada pela comunidade académica da U.Porto. As principais tarefas envolviam a análise a tecnologias e resultados da I&D, apoio a pedidos de patente, candidaturas de financiamento à PI (SIUPI), sensibilização da PI nas faculdades e unidades de investigação da U.Porto, seminários e workshops e também parcerias internacionais tendo em vista a valorização da PI da universidade.

Por exemplo, conseguimos persuadir uma grande empresa britânica, a BTG-British Technology Group plc, que investia muito no licenciamento de tecnologias oriundas das universidades e em startups a vir ao Porto conhecer a U.Porto e alguns dos investigadores e tecnologias. 

Recordo que na altura era a área das ciências da vida que apresentava mais dinâmica e os primeiros pedidos de patente da U.Porto que apoiámos foram nesta área. O primeiro, pensava-se que poderia vir a ser uma vacina contra a cárie, liderada pela Profª. Paula Ferreira do ICBAS, que uns anos mais tarde licenciou a tecnologia à empresa Immunethep. Diria que contribuí também um pouco para esta valorização, e já como Diretor Executivo do Biocant, apresentei a Prof. Paula e a sua tecnologia a outros grupos de investigação neste parque de biotecnologia, onde foi criada a Immunethep, que mais tarde a veio licenciar. É muito importante promover interações entre investigadores de diferentes entidades, gestores e financiadores. 

 

4. Quais as maiores dificuldades?

Na altura a principal dificuldade foi a incerteza na abrangência de funções, na dependência hierárquica na Reitoria, no financiamento e na sustentabilidade da estrutura U.Porto Inovação. 

A outra dificuldade era ter poucos recursos humanos e financeiros para as funções a que nos propúnhamos. Acabei por não ficar muito tempo na U.Porto Inovação porque, na altura, além de ter sido pai pela primeira vez, fui convidado para um desafio também muito aliciante na Agência de Inovação. Apesar de ter mantido a colaboração com a U.Porto a meio tempo, acabei por decidir ficar na Agência em definitivo. Aprendi muito nesse desafio mas fiquei sempre a pensar que poderia ter feito muito mais pela U.Porto Inovação se lá tivesse permanecido.

 

5. Como vê a importância da U.Porto Inovação nos dias que correm?

Muito importante e uma estrutura chave na competitividade da U.Porto. 

Tem vindo a evoluir sustentadamente nestes 20 anos e ganhou o seu espaço por mérito próprio, conseguindo envolver uma das principais forças da U.Porto que, além dos investigadores, são também os estudantes, que são jovens empreendedores e inovadores de grande potencial. 

A U.Porto Inovação é uma estrutura conhecida por toda a comunidade académica da U.Porto e apresenta uma equipa estável e competente. Na minha opinião, diria que atingiu a maioridade, como um estudante nos primeiros anos da licenciatura, com distinção, e que agora, como um estudante de Mestrado ou Doutoramento, deveria dar um novo salto evolutivo mais ambicioso.

 

6. Na sua opinião, por onde passa o futuro da inovação na Universidade do Porto? O que falta fazer?

Quando ajudei a criar a U.Porto Inovação, na altura UPIN, acreditava neste modelo organizacional onde estas estruturas, e as pessoas que as formam, eram consideradas uma espécie de agentes de inovação na Universidade e que tudo se articulava à volta deste modelo. No entanto, o mundo mudou muito, como a própria universidade e até as tecnologias, e agora é tudo muito mais rápido, digital e “inteligente”. Por isso, atualmente tenho ideias diferentes do que tinha naqueles anos. 

Por exemplo, acho que a U.Porto deveria criar uma “Agenda de Inovação” a longo prazo, que pudesse envolver três aspetos distintos, mas intimamente relacionados: a abordagem da universidade para estimular a inovação, o desenvolvimento de mentalidades empreendedoras e de inovação dos estudantes e a colaboração com parceiros no ecossistema de inovação.

Num nível mais operacional e conhecendo outras realidades, penso que devem ser promovidas outro tipo de estruturas organizativas mais desconcentradas, mais abertas, mais ágeis, mais tecnológicas, mais internacionais, mais sustentáveis, com modelos próprios de transferência de tecnologia e valorização do conhecimento, mais perto da indústria e do território e com programas de incubação de ideias e empresas, viradas para um ecossistema de inovação e sustentabilidade com mais impacto na U.Porto, na região ou país. 

Refiro como um exemplo interessante, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que está a percorrer o seu caminho com o TecLabs. Este exemplo, não significa que a U.Porto o deve mimetizar, mas antes analisar e definir o seu próprio caminho, pois tem recursos e pessoas muito capazes de conseguir dar um “salto” significativo e muito relevante. A bem da U.Porto Inovação, espero que este “salto” possa ser quântico!