Tudo começou em Dezembro de 2013 com o projecto CorkSTFluidics, financiado pela FCT. A ideia saiu da mente de Francisco Galindo-Rosales com a colaboração de Laura Campo-Deaño, ambos investigadores do Centro de Estudos de Fenómenos de Transporte (CEFT) da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), que procuravam uma forma de usar o seu know-how numa aplicação prática, de uso comum e industrial. Após 4 anos de trabalho, nasceu então o compósito, por eles batizado de Rheinforce, cujo objetivo principal é modificar as propriedades amortecedoras de diferentes materiais, como a cortiça, o silicone ou a borracha.

Pensemos, por exemplo, em capacetes, caneleiras utilizadas por jogadores de futebol ou até mesmo pranchas de surf, objetos muitas vezes sujeitos a impactos fortes. Ao utilizar o fluido Rheinforce e incorporando-o numa rede de canais muito pequenos, impressos a laser na cortiça (fotografia à esquerda), e colocando depois dentro do capacete ou na caneleira, é possível customizar as propriedades mecânicas do material. Ou seja, consegue-se uma diminuição do impacto e garantem-se “propriedades amortecedoras personalizadas e otimizadas para cada situação em questão”, explica Francisco. A chave da tecnologia está na combinação do comportamento mecânico do material sólido e do fluido e da rede de microcanais que o confina.

As utilizações do Rehinforce são inúmeras e os principais beneficiários são os fabricantes de cortiça e as empresas que possam incorporar o compósito nos seus materiais finais. Além da diminuição do impacto e do seu efeito nefasto (capacetes, caneleiras, etc), a invenção pode ser utilizada também em situações de vibração ou de ruido excessivo que provoquem problemas e/ou desconfortos e em equipamentos desportivos, como pranchas de surf, reduzindo a transmissão de vibrações da placa para o desportista impedindo que este sofra lesões nas articulações.

Até ao momento, Francisco e Laura têm focado a atenção e os testes na cortiça pois acreditam que a aplicação nesse material permitirá desenvolver novos produtos de alto valor acrescentado e sem alterar as propriedades que fazem da cortiça um material excecional: “amigo do ambiente, leve e com um toque e aspeto muito nobres”, refere Francisco. Numa altura em que a União Europeia limita cada vez mais a utilização de plásticos, é importante encontrar substitutos ao Neoprene, EPS ou EPP e, segundo os investigadores, a cortiça pode ser a melhor alternativa, mais ainda se for possível acrescentar-lhe propriedades mecânicas otimizadas.

A principal vantagem é o facto de as indústrias poderem desenvolver compósitos consoante as necessidades dos materiais e das utilizações finais dos mesmos. Apesar de a cortiça ter sido o ponto de partida, o Rheinforce também pode ser aplicado em borracha (solas de sapatos, por exemplo), silicone (próteses) e outros materiais, aumentando o leque de potenciais clientes e parceiros universidade-empresa. Francisco acredita que a tecnologia “permitirá que muitas empresas redescubram a cortiça e desenhem novos produtos feitos desse material e com propriedades de amortecimento personalizadas e otimizadas”, diz, acrescentando que dessa forma “poderão competir com produtos muito baratos provenientes do mercado asiático pois terão uma solução de alta tecnologia totalmente made in Portugal”, conclui.

Com os olhos postos no futuro, Francisco e Laura criaram, em janeiro de 2018, a empresa Rheinforce Optimal Performance Lda que irá licenciar a tecnologia e o seu maior sonho é que esta seja “líder mundial no desenvolvimento de materiais compósitos amortecedores. Recentemente, receberam um financiamento no valor de 20.000€ no âmbito do programa BIP Proof do projeto U.Norte Inova. Com esse valor, os investigadores vão apostar na construção de um protótipo certificado, que satisfaça as normas de comercialização e que seja “capaz de mostrar os benefícios que a tecnologia pode trazer tanto para as matérias-primas como para os produtos finais”, conclui Francisco Rosales.