Em criança queria ser explorador submarino mas o interesse acabou por ir parar a um outro tipo de ciência: a dos Computadores. De uma parceria entre a Geolink (empresa spin-off fundada por Michel Ferreira em 2007) e a Portugal Telecom nasceu a aplicação MEO Táxi que, na opinião do inventor, “é um bom exemplo de como a tecnologia nascida na U.Porto amadurece em serviços inovadores”.
Ainda desconhecendo as Ciências dos Computadores e a realidade dos transportes rodoviários, Michel Ferreira cresceu a ver os programas de televisão de Jacques Costeau e o seu maior sonho era “ser explorador submarino, viver no navio Calypso e passar muitas horas a mergulhar”, conta. No entanto, a versatilidade do mundo informático e as suas inúmeras aplicações no dia-a-dia fizeram com que escolhesse esta área para o Doutoramento que concluiu em 2002. Depois da passagem pelo LIACC (Laboratório de Inteligência Artificial e Ciência de Computadores) ingressou no Instituto de Telecomunicações, onde ainda hoje faz investigação, e fundou a Geolink, empresa que “acabou por se tornar líder em Portugal na expedição de táxis”, diz.
Entre 2010 e 2012, o investigador esteve envolvido no projeto DRIVE-IN onde pôde colaborar com a maior frota de táxis da cidade do Porto, começando a ter uma noção alargada do que se poderia fazer nessa área. Foi aí que surgiu, fruto de uma parceria com a Portugal Telecom, o MEO Táxi. A aplicação para smartphones começou a funcionar em Lisboa e Porto no passado dia 22 de Setembro, sendo gratuita para os sistemas operativos Android e iOS. Uma vez instalado o MEO Táxi, o utilizador pode chamar o veículo que esteja mais próximo de si sem ser necessário fazer nenhuma chamada telefónica. Dado esse passo, a aplicação localiza o utilizador e automaticamente encaminha o pedido para o táxi que esteja mais perto, dando ainda a possibilidade de o passageiro acompanhar em tempo real, num mapa, o percurso e o tempo estimado para o automóvel chegar até si. Além disso, é possível personalizar o táxi de acordo com as preferências do passageiro: este pode pedir, antecipadamente, se deseja o ar condicionado ligado, se necessita de um veículo com mais lugares e até mesmo que estação de rádio vai querer escutar durante a viagem.
Para o investigador, este tipo de resultados são “um exemplo interessante de como projetos de investigação académica acabam a gerar serviços de ampla adoção pela sociedade”, mas não deixa de lamentar, no entanto, os cortes de financiamento que “estão a por tudo em causa. Nenhum país que queira ser competitivo pode deixar de investir na educação e na ciência”, diz. O seu maior foco de interesse está, atualmente, nos Sistemas de Transporte Inteligentes, com especial enfoque no setor de transporte rodoviário cuja sustentabilidade considera “um problema muito importante” devido ao crescendo do número de acidentes na estrada. “Os acidentes rodoviários são a 9ª causa de morte a nível mundial e o impacto de tais acidentes é muito amplificado quando se mede em anos de vida perdidos”, diz, referindo-se ao alarmante número de sinistros envolvendo faixas etárias muito jovens. Com essa realidade crítica em mente, o objetivo do investigador e docente da Faculdade de Ciências da U.Porto passa por “contribuir para uma maior segurança através de sistemas de computação inteligentes”, diz. Michel Ferreira olha para o seu percurso na U.Porto como “motivador e interessante”, e pretende continuar a trabalhar nesta área onde, como refere, “a criatividade pode rapidamente passar à prática”.