A curiosidade, o desconhecido, a natureza, o ser humano e uma enorme motivação, consolidada em mais de 40 anos na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Tudo palavras que caracterizam o entrevistado desta edição da rubrica "À conversa com os inventores". Diamantino Freitas começou como estudante do curso de Engenharia Eletrotécnica e no 4º ano já dava aulas, como monitor, nos Cursos Complementares. Corria o ano de 1974. Veio a ser contratado para assistente dois anos mais tarde, altura em que começou a dedicar-se a mais projetos de investigação. Com a primeira publicação no ano de 1981, o atual e ainda docente e investigador da FEUP continuava a traçar aquela que viria a ser uma frutuosa carreira: “Desde essa época nunca foi interrompida a minha atividade de investigação científica e tecnológica”, conta.

O ponto de partida, na infância, foi a admiração por algumas personalidades da ciência que Diamantino Freitas ficava a conhecer por intermédio do seu pai. O desconhecido e a curiosidade que ele lhe passava foram sempre um mote para o investigador, bem como as inúmeras potencialidades da tecnologia nas mais diferentes aplicações: “Admirei sempre a Natureza e o Homem, o que sempre fiz foi tentar dominar a tecnologia para a colocar ao seu serviço”, revela. Mais particularmente, Diamantino Freitas encontra o prazer da sua profissão, além do contacto com os alunos, no áudio e na comunicação, área a que se dedica desde 1977: “Sinto-me maravilhado pelo áudio, pela fala e pela comunicação acústica e pelo que as tecnologias de informação e comunicação podem fazer pelas pessoas”, refere. Foi nessa sequência e linha de pensamento que surgiram as suas três tecnologias ativas (duas delas em processo de registo de patente e uma, a NAVMETRO, com patente já concedida em Portugal, Rússia e China). 

O percurso de Diamantino Freitas foi acompanhado pela influência dos Professores José Armando Rodrigues de Almeida, Francisco Velez Grilo e Joaquim Pontes Marques de Sá, a quem se refere como os seus "ilustres mestres" e cuja filosofia procura sempre seguir no sentido em que vê a investigação como "um método de aprendizagem que deve ter retorno". Na sua opinião, a Universidade do Porto possui esse espírito inventivo, seja entre docentes e investigadores ou até mesmo junto dos alunos e, fazendo jus à sua persistência, o inventor considera fundamental que se pense na necessidade de haver um “suporte contínuo à investigação, por parte da U.Porto” para que as equipas não “dependam tanto de financiamento externo, o que as fragiliza”, diz. Quando questionado sobre o maior sonho relacionado com a profissão, Diamantino Freitas não hesita em afirmar que seria uma enorme mais valia “poder dispor de recursos e receitas sustentáveis para suportar o trabalho de pesquisa e desenvolvimento” que se faz no Laboratório de Processamento da Fala, Electroacústica, Sinais e Instrumentação da FEUP, por si coordenado. 

Apesar de algumas dificuldades, baixar os braços nunca foi opção e Diamantino Freitas segue na luta pelos seus atuais projetos (Audio-GPS, Howlless e NAVMETRO), que passam os três por desenvolvimentos e atualizações constantes, realizadas em equipa, quer no que diz respeito à tecnologia quer no que toca à sua comercialização e potencial de negócio. O sistema HOWLESS, por exemplo, criado no doutoramento do colega investigador Bruno Bispo (FEUP), competiu no iUP25k de 2015, acabando por conquistar o 2º lugar e 5.000€ em prémios. Diamantino Freitas considera que os “serviços de consultoria e mentoring oferecidos no prémio foram um valor acrescentado para o projeto”, ajudando a desenvolver melhor o plano de comercialização da invenção. Neste momento o Howless, sistema concebido para eliminar o conhecido feedback áudio em grandes eventos acústicos mas também em próteses auditivas e em tele-conferências, está em fase de construção de protótipo demonstrador em ambiente real para que, como explica o inventor, se possam “consolidar as manifestações de interesse, já recebidas, de grandes players mundiais do ramo”.

Apesar desta enorme dedicação à investigação e compromisso para com as invenções em que acredita, o investigador considera que a “docência é um dever prioritário” e as suas tarefas de orientação aos alunos são um dos seus grandes prazeres. Já quando era criança, ao ser confrontado com um problema que não conseguia resolver como esperava, sentia um estímulo para estudar mais e mais e é essa paixão que procura, diariamente, transmitir nas aulas. “O que mais gosto na investigação e invenção na U.Porto é a liberdade organizada que se vive e o ambiente que acho culturalmente excelente”, conclui.