É uma jornada recheada de objetivos e sonhos, alicerçada na curiosidade que nasceu na infância. Luísa Peixe, atual docente e investigadora da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) começou ali, em 1988 e como assistente estagiária, a sua carreira nas Ciências Farmacêuticas. Durante a licenciatura especializou-se em análises químico-biológicas, que considera “uma base formativa importante para a investigação posteriormente desenvolvida”. Desde então, o principal foco do seu trabalho tem estado nas bactérias e nos antibióticos.

“O estudo da resistência bacteriana aos antibióticos foi o primeiro desafio apaixonante a que me dediquei, um tópico a que poucos investigadores se dedicavam nessa altura e ao qual a comunidade em geral não atribuía grande importância”, revela Luísa Peixe. Em criança já se colocava muitos “porquês”, especialmente relacionados com aspetos da área das Ciências da Vida, e essa motivação também a direcionou no caminho que hoje continua a traçar: “Conhecíamos muito pouco dos mecanismos, origem e evolução das resistências a antimicrobianos e isso é uma problemática determinante para a saúde humana e animal”, refere.

O mundo das bactérias é imenso, assim como o é a necessidade de o estudar e compreender cada vez melhor. Para a investigadora, “as descobertas podem surgir de formas inesperadas”, como foi o caso de uma bactéria que, segundo o que Luísa Peixe conseguiu apurar, é capaz de produzir, com elevado rendimento, “uma essência muito pretendida”. Juntamente com a sua equipa, e através da caracterização genómica da bactéria, a investigadora conseguiu descodificar a via utilizada para a produção desta essência. Os resultados da investigação foram recentemente comunicados à U.Porto Inovação que está atualmente a trabalhar com a equipa da FFUP para submeter, em breve, um pedido de patente em Portugal para proteger esta invenção promissora. “Agora é necessário comprovar as vantagens deste microrganismo para a sua produção”, revela.

A par disso, Luísa Peixe e a sua equipa continuam a trabalhar em novos métodos para detetar bactérias problemáticas: “Após vários anos, e reunindo competências multidisciplinares, foi possível desenvolver um método rápido de deteção de bactérias problemáticas, serviço esse já disponibilizado a hospitais para a identificação de surtos”, explica a investigadora. O próximo desafio é alargar a aplicabilidade desse método para que seja possível detetar uma maior variedade de bactérias. Estão também a tentar encontrar novas estratégias, terapêuticas ou de diagnóstico, para patologias do trato urinário.

Uma das maiores motivações de Luísa Peixe é a possibilidade de se aplicar rapidamente o conhecimento científico a que se tem dedicado na rotina dos laboratórios, na vida quotidiana dos farmacêuticos e nas aulas que leciona, mesmo que, como refere, conciliar a atividade de investigação com as atividades de docente seja um “desafio constante”. Na opinião da investigadora, seria benéfico a U.Porto ter uma melhor gestão do potencial dos seus recursos humanos até porque, na sua opinião,  “as ideias e a sua concretização dependem muito de uma equipa competente e motivada, e da existência dos recursos necessários ao desenvolvimento”. A docente fala, com orgulho, da equipa com quem trabalha, bem como do ambiente institucional onde se inserem: “A Universidade do Porto proporciona infraestruturas importantes para o desenvolvimento dos trabalhos e um relevante espaço de liberdade conceptual, não condicionando as direções das atividades de investigação”, diz.

De olhos postos no futuro, Luísa Peixe ambiciona continuar a trabalhar e investigar na área dos antibióticos. Um dos seus sonhos, e que está próximo de ser concretizado, é “diminuir a transmissão de bactérias patogénicas e/ou difíceis de tratar, utilizando métodos mais rápidos e de fácil acesso para a sua deteção em ambiente hospitalar”, conclui.