A engenharia química foi onde encontrou a casa de partida, mas agora o foco de Fernão Magalhães tem sido na ciência e engenharia de polímeros. É investigador na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), mais especificamente no LEPABE (unidade de I&D sediada no departamento de engenharia química dessa faculdade), desde 1997.

Foi ainda durante a licenciatura em Engenharia Química que surgiu o gosto pelos materiais poliméricos. Terminado o doutoramento nos EUA, Fernão Magalhães regressou à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto onde começou a fazer parte de um grupo de investigação que apostou fortemente na aproximação à indústria, impulsionado por Adélio Mendes, também investigador da FEUP. Nesse contexto, e respondendo a sucessivos desafios lançados por empresas, foi consolidando “experiência e conhecimento no desenvolvimento de produtos de base polimérica, particularmente nas áreas de revestimentos, sistemas adesivos e materiais compósitos”, conta.

Desde o início da jornada académica, e apesar de as áreas de interesse terem sido variadas ao longo do tempo, o investigador manteve sempre um denominador comum no seu trabalho: o sonho de que o que faz “traga benefícios concretos para a economia e sociedade”, refere. E isso verifica-se no seu trabalho dedicado ao desenvolvimento de adesivos e de compósitos de base natural, com diversas aplicações, desde o mobiliário à embalagem. Um exemplo são os painéis de derivados de madeira leves, uma necessidade atual da industria do mobiliário, uma vez que os materiais são usualmente transportados pelo próprio cliente para montagem em casa.

Explicando de forma mais concreta, imaginemos o processo de compra de mobília para uma casa nova. Vamos a uma loja, escolhemos o que gostamos e tudo parece simples. Até ao momento em que alguém tem de carregar essa pesada carga até casa, ou qualquer que seja o destino. A indústria de mobiliário tem procurado usar painéis de derivados de madeira de baixa densidade, mas isso implica processos de fabrico complexos ou perda de qualidade. Para dar resposta a isso, o grupo que Fernão Magalhães formou com colegas do Departamento de Engenharia de Madeiras do Instituto Politécnico de Viseu encontrou uma forma de diminuir o peso de painéis de derivados de madeira sem comprometer as suas qualidades mecânicas, isto é, sem prejudicar, por exemplo, a resistência à tração ou à flexão. Para ligar as partículas de madeira a equipa utiliza espuma de poliuretano que preenche os espaços vazios, gerando um produto final leve mas coeso. Esta combinação de materiais permite um processo de produção mais simples e menos dispendioso do que com os painéis tradicionais, pois não é necessário utilizar níveis de temperatura ou pressão tão altos.

“Este processo simplificado alarga as possibilidades para o design de mobiliário”, refere Fernão Magalhães. Como não é necessário seguir uma linha de produção standard, baseada em prensas de pratos planos, é possível, por exemplo, produzir painéis com superfícies curvas. A equipa ambiciona evoluir ainda mais este produto e está, neste momento, a trabalhar ativamente na procura de alternativas mais ecológicas do que o poliuretano para produzir o material “ligante” dos painéis. Foram já feitos ensaios com espumas de amidos que deram resultados muito promissores, quando comparado com a formulação original.

Hoje, Fernão Magalhães lembra a “profecia” da mãe que, ao vê-lo brincar sozinho com Legos, dizia que haveria de ser cientista. Apesar de admitir que ela tinha razão, e que o caminho profissional acabou, efetivamente, por ser esse, o investigador acredita que os cientistas devem trabalhar em grupo e não sozinhos, criando sinergias a partir da diversidade de conhecimentos. “A minha mãe, ao ver-me passar longas horas a brincar sozinho no meu quarto, vaticinava que eu haveria de ser cientista. Tinha a ideia de que um cientista era alguém que trabalhava sozinho num laboratório, isolado no exterior. Acertou no ‘cientista’, mas enganou-se na questão do isolamento: a investigação científica tem que ser feita em equipa, tirando partido de competências multidisciplinares”, conta. Na sua opinião, a Universidade do Porto é um excelente meio para colocar isso em prática, pois tem um “grande potencial humano e infraestruturas de qualidade, combinados com vontade em apoiar e divulgar a inovação”.

Neste momento, o investigador tem em curso alguns projetos com empresas, principalmente nas áreas de adesivos e revestimentos. Tem trabalhado também com uma equipa do i3S no desenvolvimento de materiais baseados em grafeno para a área biomédica. Espera que, num futuro não muito distante, seja possível “ver aplicações práticas desse trabalho”, conclui.