“São notícias emocionantes”. É assim que os responsáveis da Immunethep, uma empresa spin-off da Universidade do Porto, se referem ao financiamento de 2 milhões de dólares recentemente angariado, e que irá apoiar o desenvolvimento de uma vacina “baseada em peptídeos conjugados contra infeções invasivas por E.coli”.

A E.coli é uma das principais causas de infeções da corrente sanguínea, tais como sépsis, meningite e outras condições com risco de vida, principalmente em populações vulneráveis. Ao mesmo tempo, o aumento da resistência a antibióticos torna ainda maus urgente o desenvolvimento de soluções preventivas eficazes, e essa é uma das missões da Immunethep, através da criação de vacinas.

O trabalho da spin-off U.Porto, baseada na investigação desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), chamou à atenção do CARB-X, um consórcio de investidores (que inclui governos e fundações privadas) que tem como objetivo acelerar a descoberta de novos produtos anti-infeciosos inovadores. Uma das principais ambições é criar uma vacina contra a E.coli e, por isso, o consórcio decidiu agora investir 2 milhões de dólares no trabalho da Immunethep, que já há muitos anos se tem focado no desenvolvimento de uma vacina que ajude o sistema imunitário a combater infeções por bactérias perigosas.

O contacto com o CARB-X surgiu há alguns anos, tendo sido mais ativo durante o último ano. Só agora se concretizou pois houve necessidade de “direcionar a tecnologia de forma a ir ao encontro dos objetivos definidos pelo CARB-X”, referem os responsáveis da Immunethep

“Nós desenvolvemos uma vacina que atua bloqueando uma proteína chamada GAPDH, libertada por algumas bactérias para enfraquecer o nosso sistema imunitário. Quando esta proteína entra na nossa corrente sanguínea, pode aumentar o risco de infeções, incluindo as causadas pela E.coli, uma das mais difíceis de tratar devido à sua resistência a antibióticos. Como o objetivo do projeto CARB-X é criar uma vacina contra a E.coli, ajustámos a nossa fórmula para focar especificamente na versão desta proteína presente”, refere Pedro Madureira, investigador e CSO da Immunethep.

Um "match" perfeito

Além da vantagem monetária óbvia, a Immunethep sente-se muito realizada por fazer parte de um programa “altamente competitivo que permite não só o acesso a investimento significativo mas também a uma rede internacional de especialistas que ajudam em todas as fases de desenvolvimento de um fármaco”, dizem.

“O que mais nos preocupa é a elevada resistência a antibióticos, o que faz com que a E.coli cause milhares de mortes todos os anos, sobretudo associadas a infeções hospitalares”, refere Pedro Madureira. A isso acresce o facto de esta bactéria se replicar muito rapidamente dentro do hospedeiro, o que significa que, na maior parte das vezes, “não há tempo para uma correta identificação da infeção e o tratamento faz-se de uma forma empírica”, acrescenta. E se o primeiro tratamento administrado não for o mais adequado, “o risco de morte ou de sequelas permanentes é enorme”.

Assim, estando os focos alinhados, o “match” entre a CARB-X e a Immunethep é perfeito. “O nosso foco principal é desenvolver imunoterapias que neutralizem a GAPDH bacteriana e com isso restabelecer a capacidade do nosso sistema de controlar diversas infeções” referem os responsáveis da empresa.

O facto de o investimento do consórcio CARB-X ter feito a Immunethep apostar no desenvolvimento muito específico para uma bactéria, faz com que a empresa spin-off U.Porto vá agora “continuar com o desenvolvimento de uma ou mais formulações para outras bactérias patogénicas também com elevado risco para a saúde pública”.

“Para além da vacina – que é uma estratégia preventiva – estamos também a desenvolver tratamentos à base de anticorpos monoclonais que podem ser administrados após a infeção. E continuamos com uma atividade de investigação de forma a aumentar a capacidade dos nossos produtos de prevenir ou tratar infeções”, concluem.