Teresa Mata foi a primeira coordenadora, formal e oficial, da U.Porto Inovação. Foi contratada especificamente para o efeito por José Marques dos Santos (na altura Vice-Reitor da Universidade do Porto) e assumiu as funções em setembro de 2004, poucos meses depois da criação da, na altura, UPIN. Dirigiu a equipa durante três anos. 

Apesar de ter chegado formalmente à equipa alguns meses depois da sua criação oficial, Teresa Mata participou ativamente no delinear da estratégia de trabalho da UPIN e na definição dos pontos de atuação prioritários. Também esteve envolvida na escrita da candidatura para a constituição, em 2007, do Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC), com o objetivo de promover a inovação e o empreendedorismo.

Na sua opinião, a missão era “ambiciosa e desafiante”, mas acredita que durante o seu período à frente do gabinete contribuiu para se avançar em diferentes áreas. 

 

1. Porque se sentiu a necessidade de criar a U.Porto Inovação?

A criação da U.Porto Inovação foi a resposta da U.Porto à necessidade cada vez maior de promover a proteção e valorização dos resultados de investigação e desenvolvimento (I&D) obtidos pelos seus membros, temática que começou a ter maior relevância em Portugal nos finais do século XX e princípios do século XXI, de modo a obter benefícios económicos dessas atividades, promovendo simultaneamente o desenvolvimento da região e do país. 

Assim, a equipa atuava em três áreas: Programas de I&D interdisciplinar; Programas de apoio à I&D e inovação; Valorização da I&D e empreendedorismo. Nestas era evidente a preocupação da Universidade em fomentar toda a cadeia de inovação, a montante, através da promoção da investigação interdisciplinar e apoio a candidaturas de projetos de financiamento de I&D, nacionais e internacionais, e a jusante com a valorização dos resultados de investigação, a promoção de formas sustentadas de transferência de tecnologia e conhecimento, a formação em empreendedorismo e o apoio à criação de novas empresas.

 

2. Foi fácil o processo? Como se desenrolou?

Posso dizer que tínhamos uma missão ambiciosa e desafiante, visto que na altura da sua criação as áreas de atividade da U.Porto Inovação ainda não eram comuns nas universidades, nem eram vistas como relevantes.

Na área dos programas de I&D interdisciplinar, por exemplo, o objetivo era desenvolver as sinergias necessárias para a constituição de esquemas de trabalho colaborativo, através da dinamização de redes de conhecimento. Estas redes poderiam envolver, para além das unidades de investigação e desenvolvimento tecnológico da universidade (na qualidade de detentoras de massa crítica num leque variado de áreas de investigação), organizações mediadoras (como as associações industriais), entidades especializadas em serviços de inovação e transferência de tecnologia (como a UPIN), e as entidades recetoras ou empresas que no final da cadeia vão absorver e providenciar feedback sobre os processos de transferência de tecnologia e conhecimento. 

Na convicção de que as áreas de investigação e desenvolvimento tecnológico a que se dedicam os membros da U.Porto possuíam um grande potencial para gerar resultados, através da proteção da propriedade intelectual e/ou da criação de  “startups”, foi desenvolvida e implementada uma metodologia para aprofundar e sistematizar o conhecimento sobre essas atividades no âmbito da U.Porto. Deste modo, eram analisados o potencial de valorização das tecnologias já desenvolvidas e/ou em fase de desenvolvimento. tomando em conta necessidades identificadas no meio empresarial, e os processos de propriedade intelectual, cujo potencial de valorização tinha sido previamente identificado, de modo a potenciar a sua difusão a empresas potencialmente interessadas, diretamente ou em colaboração com outros organismos de interface, nacionais ou internacionais. 

Para além destas atividades, também era fomentada a participação de membros da comunidade universitária na criação de novas empresas de base tecnológica e científica, assim como a participação e a candidatura de projetos de investigação e desenvolvimento tecnológico a programas de financiamento, nacionais e internacionais, particularmente em colaboração com entidades empresariais. 

Na área do empreendedorismo, foi definida uma linha de atuação a qual passava pela oferta de ações de formação nas áreas de atividade da UPIN. Numa primeira fase, estes eram destinados a alunos de doutoramento e de mestrado da U.Porto, estendendo-se posteriormente, a docentes, investigadores e alunos finalistas de licenciatura. Estes cursos tinham como objetivo permitir aos participantes criar as competências necessárias para serem agentes de mudança nas suas futuras atividades profissionais. O “Curso de Empreendedorismo da Universidade do Porto” organizado pela U.Porto Inovação em colaboração com a Escola de Gestão do Porto (EGP), atual Porto Business School (PBS), incluía 108 horas de formação, e permitia aos participantes criarem competências necessárias para poderem ser empreendedores e elaborarem um plano de negócios.

Para aqueles que pretendiam criar uma nova empresa de base tecnológica e científica, os promotores eram acompanhados no processo de avaliação das oportunidades de negócio resultantes das tecnologias e/ou conhecimentos desenvolvidos nas suas atividades de investigação, facilitando a tomada de decisão na interface crítica onde os conhecimentos são convertidos em produtos e serviços. Também eram prestados apoios nos procedimentos para a constituição da nova empresa, nomeadamente na proteção da propriedade industrial, registo da marca, procura de financiamento, estudo da participação da U.Porto no capital da nova empresa, e potencial integração em incubadoras e/ou parques tecnológicos. Deste modo, a universidade disponibilizava para a comunidade académica outra forma de valorização económica para os resultados das suas atividades na vertente de I&D, considerada até então pouco relevante. 

 

3. Como era constituída a equipa e por que tarefas/projetos começaram?

Quando foi constituída a U.Porto Inovação (na altura UPIN), em 2004, eramos apenas 3 pessoas. 

As minhas atividades focavam-se mais na área dos Programas de I&D interdisciplinar, enquanto as outras pessoas dedicavam-se mais a apoiar o registo e proteção da propriedade industrial, empreendedorismo, na divulgação dos programas de financiamento de I&D e no apoio ao desenvolvimento e submissão de propostas. 

Durante os 3 anos que estive na U.Porto Inovação contratámos mais 6 pessoas, mostrando o cada vez maior interesse nas atividades da equipa por parte dos membros da comunidade académica da U.Porto.

 

4. Quais as maiores dificuldades?

Foi necessário enfrentar vários desafios, resultantes de vários fatores. 

A nível institucional, a existência de 14 faculdades na U.Porto, cada uma com a sua própria estrutura e cultura organizacional, e uma cultura académica tradicional resistente a mudanças e à adoção de novas práticas de gestão do conhecimento, foi um dos desafios mais significativos. Por outro lado, a Universidade gera e consome grandes volumes de informação e conhecimento em diversas áreas disciplinares, o que pode dificultar a identificação, organização e acesso eficaz ao conhecimento relevante, situação agravada pela inexistência de práticas de interação e partilha de conhecimentos entre diferentes faculdades e/ou unidades de investigação da U.Porto, aliada a uma certa desconfiança entre os vários agentes envolvidos. 

Na universidade, muitas das novas ideias ou descobertas de índole científica não chegam a concretizar-se na criação de uma nova empresa. Esta situação deve-se, em parte, à incapacidade de os investigadores detetarem as oportunidades de negócio, e também porque estes não têm os conhecimentos necessários para criar ou gerir um projeto empresarial. 
Para além disso, apesar de os investigadores terem acesso a equipamentos científicos de elevada qualidade, costumam faltar os recursos logísticos ou humanos necessários para garantir o funcionamento de uma empresa. De salientar também a reduzida valorização das atividades de empreendedorismo nas carreiras de professores e investigadores, situação que se tem vindo a alterar de forma positiva nos últimos anos. 

Superar estas dificuldades requer um esforço conjunto e estratégico por parte da liderança universitária, dos departamentos académicos e dos profissionais de gestão do conhecimento para promover uma cultura de colaboração, investir em tecnologia e sistemas de informação adequados, e incentivar práticas de partilha e transferência de conhecimento eficazes. 

 

5. Como vê a importância da U.Porto Inovação nos dias que correm?

A universidade, sendo uma das mais importantes entidades integrantes da sociedade do conhecimento, tem a noção de que as suas ações devem influenciar o mais possível o meio onde se insere, contribuindo em particular para um desenvolvimento sustentável da região e do país. 

Um dos eixos fundamentais de ação é o fomento da colaboração entre a universidade e as empresas, que pode levar a avanços significativos, não somente em matéria de I&D, mas também de criação de valor, não apenas económico, mas também social e ambiental, permitindo que ambas as partes se beneficiem da expertise e dos recursos disponíveis. Essas parcerias podem tomar variadíssimas formas, sejam projetos conjuntos, patentes compartilhadas ou investigação aplicada no desenvolvimento e implementação de soluções inovadoras para desafios complexos.

A U.Porto Inovação, em colaboração com as unidades orgânicas, é a entidade da U.Porto vocacionada para responder aos desafios com os quais a universidade se defronta atualmente. 

Em particular, em universidades modernas são cada vez mais valorizadas e relevantes as atividades relacionadas com a valorização e/ou transferência do conhecimento e tecnologias geradas nas suas atividades, até como forma de suportar futuras atividades de investigação, o fomento do empreendedorismo, e a colaboração universidade-empresas. 

Nestes aspetos julgo que a U.Porto cumpre o seu papel, tanto na área científica como tecnológica, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento sustentável (tomando em conta as áreas económica, social e ambiental) da região e do país onde se insere.

 

6. Na sua opinião, por onde passa o futuro da inovação na Universidade do Porto? O que falta fazer?

O futuro da inovação na U.Porto passa pelo contínuo desenvolvimento e aprofundamento das áreas-chave já referidas, o que implica a realização contínua de diversas atividades para maximizar os resultados e impactos das suas atividades. 

Na minha opinião, algumas das ações estratégicas incluem uma maior integração entre as atividades de investigação e inovação, uma maior agilidade e fortalecimento das práticas de transferência de tecnologia, uma ênfase contínua na formação de profissionais com competências em empreendedorismo, colaboração com incubadoras de startups. 

Outras linhas de ação incluem a melhoria dos processos de identificação de tecnologias e/ou resultados com elevado potencial de valorização e impacto positivo na economia e sociedade, o desenvolvimento de políticas e processos que facilitem a comercialização da propriedade industrial, garantindo que as descobertas científicas possam ser traduzidas em produtos e serviços que beneficiem a sociedade, e uma maior consciencialização sobre o impacto positivo da inovação resultantes das atividades de I&D na sociedade. 

Ao nível da cultura organizacional é necessário continuar a fomentar uma cultura de inovação e formação em empreendedorismo (por exemplo através da incorporação nos currículos dos cursos ou por programas específicos), de promoção de transferência e valorização de tecnologia e conhecimento, estimular a colaboração interdisciplinar entre unidades orgânicas da U.Porto (uma vez que a inovação muitas vezes surge da interseção de diferentes disciplinas), fomentar iniciativas de inovação aberta, com um enfoque em colaborações com o tecido empresarial, para resolver problemas comuns e promover o desenvolvimento de tecnologias e soluções inovadoras. 

Além disso, é crucial continuar a investir em recursos e infraestruturas que apoiem a inovação na universidade e promovam uma cultura de colaboração e excelência científica.