Maria Oliveira liderou a U.Porto Inovação durante 11 anos. Quando chegou, tinha bem presente a missão de sensibilizar a comunidade académica para a importância da propriedade industrial e para a transferência de tecnologia. Tinha, assume, a ambição de “afirmar a Universidade do Porto como líder nacional” neste domínio, particularmente no que toca a patentes internacionais.

“Foi necessário um esforço persistente e continuado ao longo de vários anos para que a inovação fosse reconhecida como uma área distinta e estratégica, merecedora de uma gestão dedicada, e para que o empreendedorismo e a transferência de tecnologia adquirissem o relevo devido dentro e fora da instituição”, diz.

 

1. A que U.Porto Inovação chegou quando tomou posse?

Quando assumi a U.Porto Inovação esta já incorporava o GAPI e estava a dar os primeiros passos em atividades de apoio a projetos financiados a nível europeu e na interação com as empresas. A equipa era constituída por 6 pessoas, e começava-se a perceber a importância crescente do empreendedorismo para a terceira missão da Universidade do Porto.

Desde essa altura, a U.Porto Inovação testemunhou mudanças significativas, não só ao nível do crescimento da equipa e de expansão das suas atividades, mas também em relação ao aprofundamento do seu papel e impacto dentro da universidade e na comunidade mais ampla. 

 

2. Quais eram as suas expectativas para a equipa e para o trabalho a desenvolver?

As minhas aspirações centravam-se em assegurar a sustentabilidade e autonomia financeira do departamento, com o intuito de expandir a nossa capacidade para oferecer um apoio mais abrangente e profissional aos estudantes, docentes e investigadores da U.Porto. 

Era imperativo sensibilizar e capacitar a comunidade académica para a importância da proteção da propriedade industrial e para a transferência de tecnologia. Ambicionávamos igualmente divulgar as oportunidades e políticas existentes para o reconhecimento das spin-offs da U.Porto, bem como afirmar a Universidade do Porto como líder nacional na proteção da propriedade industrial, especialmente no que toca a patentes internacionais.

Estávamos a navegar num território praticamente inexplorado em Portugal, onde a gestão destas áreas ainda não era uma prática estabelecida. Inicialmente, tanto a inovação quanto o empreendedorismo estavam enquadrados no pelouro da Investigação dentro da equipa reitoral. Foi necessário um esforço persistente e continuado ao longo de vários anos para que a Inovação fosse reconhecida como uma área distinta e estratégica, merecedora de uma gestão dedicada, e para que o empreendedorismo e a transferência de tecnologia adquirissem o relevo devido dentro e fora da instituição. 

 

3. Que objetivos conseguiu alcançar e quais ficaram pelo caminho?

Entre os objetivos alcançados, destaco principalmente o aumento da equipa e o desenvolvimento de estratégias para a sua sustentação, quer através de projetos financiados, nacionais ou europeus, quer pela procura ativa de parcerias e mecenas. 

Conseguimos igualmente expandir de forma significativa o portfólio de patentes da Universidade do Porto, melhorando a gestão dos custos associados e reforçando as políticas de proteção da propriedade intelectual e de reconhecimento das spin-offs da U.Porto. 

Lançámos o primeiro concurso de ideias de negócio iup25K, em colaboração com o então Clube de Empreendedorismo da U.Porto, e criámos o The Circle, um clube que reúne as empresas spin-off da U.Porto, que tem crescido consistentemente. Além disso, implementámos o primeiro fundo de provas de conceito da U.Porto para apoiar a validação das tecnologias desenvolvidas.

Contudo, alguns objetivos não foram plenamente alcançados. Enfrentámos desafios ao tentar estruturar um veículo de investimento para as spin-offs da U.Porto, visando converter a propriedade intelectual em participações minoritárias. Também tentámos, sem sucesso, fechar acordos de licenciamento de patentes que permitissem retornos significativos para os inventores e para a universidade. Em várias ocasiões, estivemos perto de fechar um acordo, mas dificuldades como tecnologias que não atendiam aos parâmetros esperados em escala piloto, ou patentes contestadas, levaram ao insucesso de negociações avançadas, desfazendo meses de trabalho e negociação em uma única reunião. 

 

4. Que atividades destaca nos anos em que esteve à frente da U.Porto Inovação?

Para além das já referidas, tenho um particular carinho pelo programa UPinTech. 

Este programa de estágios remunerados de curta duração, destinado a estudantes de mestrado e doutoramento, desempenhou um papel fundamental na criação de embaixadores e pontos de contacto, tanto na U.Porto mas também em várias empresas em Portugal e pelo mundo fora. 

O programa foi desenhado para formar os estudantes nas áreas de gestão da propriedade intelectual e da transferência de tecnologia, permitindo-nos, simultaneamente, estreitar relações com a comunidade académica e compreender melhor as suas expectativas. Até ao momento da minha saída, mais de 50 estudantes haviam participado no programa, e é com orgulho que relembro que muitos deles alcançaram posições de liderança em instituições de renome internacional. 

Considero um privilégio que a U.Porto Inovação tenha tido a oportunidade de contribuir, mesmo que de forma modesta, para o sucesso destes talentosos indivíduos.

 

5. A que necessidades acredita deve responder uma equipa deste género?

À concretização da terceira missão da Universidade, que se traduz no reforço da ligação com a sociedade e na capacidade de traduzir desafios e necessidades sociais em novas tecnologias e serviços. 

Deve contribuir ativamente para fomentar o diálogo entre o mundo empresarial e a comunidade académica promovendo a criação de pontes fundamentais para a inovação. Isso pode ser alcançado através do desenvolvimento e gestão de patentes, da celebração de acordos de investigação colaborativa e do suporte às fases iniciais de projetos empreendedores, sempre com o objetivo de transformar o conhecimento gerado dentro da universidade em soluções práticas e tangíveis que beneficiem a sociedade como um todo. 

 

6. Na sua opinião, por onde passa o futuro da inovação na Universidade do Porto? O que falta fazer?

A Universidade do Porto é já uma referência incontornável a nível nacional no ensino e na investigação, sendo uma das universidades mais internacionais de Portugal. Precisa ganhar escala na terceira missão, investir de forma consistente e musculada na criação e manutenção de estruturas que possam competir a nível internacional para a atração de talento e a sua retenção na cidade e na região. 

Para tal, é necessário fortalecer as estruturas de transferência de tecnologia, desenvolver as colaborações estratégicas com o setor empresarial e investir em programas de empreendedorismo que apoiem tanto a criação de startups inovadoras, como o seu crescimento e expansão global.