Esta é a quinta vez que o programa BIP PROOF, iniciativa da U.Porto Inovação, disponibiliza verba para financiar projetos inovadores na execução de provas de conceito. Serão, ao todo, seis os projetos financiados nesta edição de 2022/2023, e cada um vai receber até 10 mil euros.

GreenNanoVax: uma abordagem amiga do ambiente para vacinar peixes em aquacultura

O projeto GreenNanoVax parte de resultados “muito promissores obtidos em peixes modelo”, conta Paulo Oliveira, do CIIMAR, em representação da equipa. Decidiram candidatar-se ao BIP PROOF para continuar testes in vivo, e a verba será aplicada, mais concretamente, “na aquisição de equipamento específico, bem como para cobrir despesas associadas a serviços por forma a aperfeiçoar a tecnologia em desenvolvimento”, contam. “O valor angariado permitirá estabelecer a prova de conceito da tecnologia em espécies de peixes com grande relevância em aquacultura, como é o caso do robalo europeu”, explica Paulo Oliveira.

O projeto consiste numa abordagem inovadora, e amiga do ambiente, para a vacinação de peixes em aquacultura. Atualmente, como explicam os investigadores envolvidos, a pesca por captura já não consegue atender à demanda do mercado, traduzindo-se numa expansão da aquacultura. “No entanto, surtos de doenças podem gerar perdas económicas significativas e são um grande obstáculo ao desenvolvimento do setor”, explica Paulo Oliveira, acrescentando que “a vacinação é, de longe, a solução mais eficaz e ecológica”.

Assim, oferecendo novas e práticas armas contra estas doenças, o GreenNanoVax irá determinar a capacidade de “imunização do robalo europeu quando vacinado com um antigénio repórter veiculado em nano-cápsulas naturais, produzidas por cianobactérias”, explicam. Esta é uma tecnologia baseada em microorganismos “verdes”, altamente sustentáveis, chamados cianobactérias: “Estas bactérias vão sintetizar o antigénio escolhido e irão empacotá-lo nas tais nano-cápsulas (vesículas extracelulares). Estas nano-estruturas serão recolhidas e testadas como veículos de entrega do antigénio no robalo”. O GreenNanoVax pretende, assim, contribuir para o desenvolvimento da “produção de pescado seguro, promovendo a sustentabilidade do setor”, concluem.

Da equipa multidisciplinar fazem parte (por ordem na fotografia, à direita) os investigadores Jorge Matinha-Cardoso, Gabriela Gonçalves, Cláudia Serra e Paulo Oliveira.

OceanCare: uma alternativa "verde" para impedir a formação da bio incrustação em embarcações

Atualmente, para reduzir a bio incrustação, e o atrito que esta provoca, com consequências negativas, as embarcações são revestidas por polímeros à base de biocidas – que combinam cobre com pesticidas e herbicidas, substâncias bastante tóxicas para o meio ambiente. Isso pode traduzir-se em malformações, extinção de espécies e alterações hormonais, atingindo também a saúde humana devido à cadeia alimentar. Não existindo nenhuma alternativa “verde”, o uso dos biocidas não pode ser banido totalmente pois, ao reduzirem a bio incrustação, permitem diminuir o consumo de combustível das embarcações e a consequente libertação de gases poluentes. 

Com esta preocupação em mente, foi nos laboratórios da Faculdade de Farmácia da U.Porto que uma equipa de investigadoras dessa faculdade, e também do CIIMAR, desenvolveu novas substâncias capazes de “inibir a formação da bio incrustação marinha em superfícies submersas, menos persistentes e menos tóxicas que o cobre, pesticidas e herbicidas, atualmente usados nas tintas marítimas e que estão a provocar efeitos nefastos nos oceanos”. A explicação é de Marta Correia da Silva, em representação da equipa. A OceanCare apresenta, assim, substâncias alternativas com capacidade de repelir ou inibir a fixação dos organismos, sem causar a sua morte, que não persistem no ambiente (são biodegradáveis), e que têm uma produção económica, pelo que poderão contribuir para a saúde dos oceanos, e consequentemente, da humana”, explicam as investigadoras.

O apoio financeiro obtido agora no programa BIP PROOF vai permitir avançar com a montagem de um protótipo no mar para avaliar o “desempenho de tintas marítimas contendo as substâncias já patenteadas, preparadas com tecnologias sustentáveis e de fácil escalabilidade”, explica Marta Correia da Silva. Deste modo, a OceanCare pretende demonstrar que a sua solução é eficaz em ambiente real contra a formação da bio incrustação marinha, constituindo uma “vantagem competitiva na concretização de contratos de exploração”, explicam. O protótipo ficará no mar mesmo após o término do programa, permitindo assim obter informação sobre a duração do efeito a médio e longo prazo.

Da equipa fazem parte Sara Godinho (estudante doutoramento FFUP/CIIMAR), Francisca Carvalhal (estudante doutoramento FFUP/CIIMAR), Emilia Sousa (docente FFUP, investigadora CIIMAR), Marta Correia da Silva (docente FFUP, investigadora CIIMAR, coordenadora da equipa OceanCare), Joana Reis de Almeida (investigadora CIIMAR), Ana Sara Gomes (pos-doc CIIMAR).

PoSyX: radiografias ao joelho mais objetivas e sem exposição dos médicos a radiações

Uma radiografia ao joelho, apesar de parecer simples, tem bastante que se lhe diga principalmente ao nível da precisão. Atualmente, como refere a equipa PoSyX, “muitas imagens de raios-X acabam por ser rejeitadas pelos médicos, devido ou ao posicionamento inadequado do paciente ou aos artefactos nas imagens”. E isso, num contexto de aumento da incidência de patologias do joelho – como osteoartrose e lesões de ligamentos – e do consequente aumento de radiografias a essa parte do corpo, pode trazer consequências negativas para diagnóstico e tratamento.

Adélio Vilaça (ICBAS e Hospital Geral de Santo António), Artur Ribeiro (Hospital Geral de Santo António), Catarina Lopes (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto – FEUP) e Joaquim Gabriel Mendes (FEUP), líder da equipa, são as mentes por trás do PoSyX – projeto que pretende ultrapassar este obstáculo. Sabendo que a radiografia sob stress físico é uma ferramenta médica muito utilizada, e com o objetivo de evitar, por um lado, a exposição do médico à radiação mas também, por outro lado, diminuir o número de raio-X rejeitados por qualquer motivo, desenvolveram “um protótipo de um dispositivo médico para o posicionamento do joelho do paciente durante a radiografia de stress”, explica Catarina Lopes, em representação da equipa. O PoSyX tem, então, como principal função, “a fixação da perna com aplicação de uma força controlada no joelho, sendo um dispositivo de utilização simples e radiotransparente”, explicam os investigadores. Proporciona, assim, um exame objetivo e detalhado, mais fiável e sem expor os médicos à radiação.

Com o apoio do BIP PROOF a equipa pretende refinar o protótipo e torná-lo compatível com as restrições do ambiente hospitalar. O valor atribuído ao PoSyX será aplicado na “compra de novos materiais, hardware, sistemas de segurança, fabrico de componentes e contratação de recursos humanos”, refere Catarina Lopes. Posteriormente, a equipa pretende demonstrar a segurança do dispositivo com voluntários saudáveis, e depois realizar também testes clínicos em pacientes com instabilidade no joelho. “Temos o intuito de integrar o PoSyX no sistema de saúde nacional, tornando a realização destes testes de stress mais objetiva e reprodutível”, concluem.

PelviCare: o "ginásio" da musculatura pélvica

“Sendo que a incontinência urinária é uma condição que afeta mais de 300 milhões de mulheres de todas as idades, o nosso projeto apresenta-se como uma excelente oportunidade de mercado”. São palavras de Joana Cerqueira, em representação da equipa PelviCare, também selecionada para receber apoio financeiro no BIP PROOF. 

Falamos de um dispositivo que permite diminuir os custos envolvidos no tratamento da incontinência urinária, bem como melhorar a “qualidade de vida e a autoestima das mulheres, uma vez que permite fortalecer os músculos do pavimento pélvico de forma eficaz e personalizada”, explicam os investigadores. Consiste num dispositivo para exercitar a musculatura através do canal vaginal, “aplicando sobrecarga progressiva e adequada até que sinais de fadiga sejam visíveis, garantindo um treino eficaz. O plano de exercícios é sempre definido por um profissional de saúde e estará disponível numa aplicação móvel que, “além de instruções para realizar o exercício, fornecerá feedback visual acerca da realização da contração em tempo real e emitirá avisos quando um novo máximo for alcançado ou quando a fadiga for atingida. A app terá ainda um registo de todos os treinos realizados, que permitirá monitorizar o desempenho e progresso da paciente através da amplitude do movimento e da dose de treino efetuada.”, conta Joana Cerqueira.

A equipa por trás do PelviCare é constituída por um grupo de biomecânica da FEUP/INEGI, liderado por Alice Carvalhais e do qual fazem parte também Renato Natal, Joaquim Mendes e Joana Cerqueira. O valor recebido no BIP PROOF será aplicado no desenvolvimento de um sistema eletrónico para quantificar a amplitude do movimento do exercício, seu valor máximo e cadência, e também para o desenvolvimento da aplicação móvel. “Aplicaremos os 10 mil euros na aquisição dos componentes necessários para os protótipos para validação por um grupo de teste e, assim, conseguirmos desenvolver a solução final”, concluem.

Myco4HP: diagnóstico (e tratamento) mais eficaz de pneumonite de hipersensibilidade

“A pneumonite de hipersensibilidade (HP) é uma doença pulmonar que resulta de uma inflamação das vias respiratórias e que causa um impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes associado a uma elevada morbilidade e mortalidade.” – a explicação é de Rita Santos, investigadora principal do projeto Myco4HP, um dos selecionados para o apoio BIP PROOF. Olhando para os vários estudos que sugerem que a exposição prolongada a fungos ambientais é um dos fatores desencadeadores desta doença, mas também para o cenário português, onde têm verificado que "a percentagem de indivíduos afetados por HP é substancialmente superior a outros países”, a equipa constituída por Rita Santos (i3S), Helder Novais e Bastos (pneumologista do CHUSJ e investigador do i3S), Andreia Coelho (i3), Margarida Saraiva (i3S), Bárbara Macedo (i3S), João Cavaleiro Rufo (ISPUP), David Coelho (pneumologista do CHUSJ) e António Morais (pneumologista do CHUSJ).

Baseando-se nestas evidências, a equipa colocou a hipótese de que o clima em Portugal, aliado à construção das nossas habitações, pode contribuir para uma exposição prolongada a fungos ambientais, “um fator crítico no desenvolvimento de HP", refere Rita Santos. Com o Myco4HP a equipa pretende, então, caracterizar os fungos aos quais os doentes estão expostos (recolhidos diretamente nas habitações) e, depois, “estimular as células do sangue periférico com extratos desses fungos recolhidos”, explicam. É essa estimulação que vai permitir avaliar “como é que os linfócitos de cada doente respondem: se positivamente, estaremos provavelmente na presença de um indivíduo com HP desencadeada por exposição fúngica”, refere Rita Santos.

Para a equipa, este apoio do BIP PROOF é "extremamente importante para a validação da prova de conceito e para estabelecer qual o melhor cocktail fúngico para estimular as células dos pacientes”. Assim, o valor atribuído será utilizado na aquisição de reagentes laboratoriais e para custear o uso de equipamentos necessários para os testes. “Acreditamos que, conseguindo validar a hipótese e aplicá-la ao diagnóstico, conseguiremos fazer um diagnóstico de pneumonite de hipersensibilidade com maior confiança, evitando o recurso a métodos de diagnóstico invasivo como o caso da biópsia pulmonar”, conclui Rita Santos, acrescentando que o Myco4Hp será, também, valioso para o tratamento da doença: “Ao identificarmos o antigénio causador da doença, identificação essa que falha em cerca de 50% dos casos de HP, podemos propor a evicção da sua exposição, que é o “tratamento" mais eficaz para travar a progressão da doença e, possivelmente, evitar a necessidade de, a longo prazo, avançar para transplante pulmonar".

ViNe2Fuel: o futuro dos biocombustíveis

Por fim, mas não por último, ViNe2Fuel ou, como as investigadores descrevem, “a solução para uma indústria do biodiesel mais sustentável”. E isso será possível oferecendo extratos de resíduos da poda das vinhas, ricos em compostos fenólicos, como antioxidantes naturais aditivos para o biodiesel. 

O controlo da estabilidade oxidativa do biodiesel é fundamental e as opções atualmente disponíveis no mercado são de origem sintética e derivadas de fontes fósseis, prejudiciais ao meio ambiente. A utilização de extratos de origem ambiental traz vantagens ambientais significativas em comparação com antioxidantes sintéticos, promovendo um “modelo de negócio alinhado com os objetivos para a sustentabilidade, vantajoso tanto para a indústria de produção de biodiesel mas também para uma melhoria de vida da sociedade em geral, a consumidora final desse combustível”. A explicação é de Andreia Peixoto, uma das investigadoras por trás do ViNe2Fuel. “Uma alternativa de origem natural é uma forte oportunidade de negócio”, acrescenta a investigadora.

Para a equipa, o valor angariado no BIP PROOF é uma excelente oportunidade para escalar o processo e avaliar a viabilidade técnica dos extratos de poda de vinha (EPV). “Para acelerar a aproximação ao mercado pretendemos aumentar a escala de extração para 10x superior à obtida nos estudos laboratoriais, permitindo validar a escalabilidade do processo e sustentar a viabilidade técnica e económica da utilização das EPV como alternativa aos antioxidantes sintéticos na produção de biodiesel”, refere Andreia Peixoto. Com o apoio financeiro equipa vai ainda efetuar estudos de sustentabilidade, nomeadamente análise de ciclo de vida e análise de custos. 

Na foto estão os membros da equipa ViNe2Fuel: Elena Surra, Olena Dorosh, Manuela Moreira (LAQV-REQUIMTE, Instituto Superior de Engenharia do Instituto Politécnico do Porto) e Andreia Peixoto (LAQV-REQUIMTE/LAQV, Departamento de Química e Bioquímica, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto). Do projeto fazem parte também Cristina Matos ((LAQV-REQUIMTE, Instituto Superior de Engenharia do Instituto Politécnico do Porto) e Luís Santos (CIQUP, Departamento de Química e Bioquímica, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto).

 

Sobre o BIP Proof

O BIP PROOF arrancou em 2018 e, desde então, mais de 20 invenções receberam financiamento, partindo da avaliação de dezenas de candidaturas. Na primeira edição, que aconteceu no âmbito do projeto U.Norte Inova, seis projetos receberam, cada um, 20 mil euros para impulsionar provas de conceito. Ainda nesse ano, a Fundação Amadeu Dias (FAD) passou a ser o apoio principal da iniciativa, e outras quatro ideias inovadoras receberam 10 mil euros cada um. Já em 2019, e repetindo a fórmula de sucesso com a FAD, quatro projetos de investigação receberam financiamento. Já na edição de 2020, o programa passou a contar também com o apoio do Santander Universidades, financiando-se seis projetos, num investimento de 60 mil euros.

A última edição recebeu perto de 40 candidaturas, e foram cinco os projetos financiados pelo programa. A J.Pereira da Cruz juntou-se aos parceiros do BIP PROOF, participando também da avaliação dos candidatos. Os vencedores desta edição 2021 serão apresentados numa sessão pública no próximo dia 3 de novembro, na UPTEC. Mais informações em breve.

O BIP PROOF é, e tem sido, uma das maneiras de a U.Porto Inovação apoiar, e procurar valorizar, o que de melhor se faz na investigação da Universidade do Porto.

A edição 2022/2023 tem o apoio do UI-Transfer, um projeto cofinanciado pela União Europeia através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, enquadrado no Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (COMPETE 2020) do Portugal 2020. Conta também com o apoio da Fundação Amadeu Dias, do Santander Universidades e da J.Pereira da Cruz.