E é o que Lucília Saraiva tem feito em quase 20 na Faculdade de Farmácia da U.Porto. Tendo como grande paixão a Farmacologia Oncológica, a docente e investigadora sente uma grande honra em desenvolver este trabalho dentro da Universidade do Porto.
Foi em 1999 que Lucília Saraiva, recém-licenciada, deu início ao Doutoramento em Farmacologia. Começava aqui uma carreira cuja semente havia sido plantada em criança, nos inúmeros documentários e filmes na área da Biomedicina a que assistia, e tanto a fascinavam. O curso escolhido foi Ciências Farmacêuticas pelo “deslumbramento pelo fármaco (a tal droga que cura ou alivia tantos males)”, diz a investigadora. Depois do derradeiro empurrão dado por Maria Isaura Sousa, professora da altura a quem Lucília Saraiva afirma dever o estímulo para entrar neste mundo, 17 anos se passaram e ainda muitos e frutuosos se esperam.
Hoje em dia, os seus projetos de investigação dividem-se entre a Microbiologia (área que leciona na FFUP), a Biotecnologia Microbiana e a sua “grande paixão”: a Farmacologia Oncológica. “Sempre foi uma área de interesse muito pessoal talvez por ter familiares e amigos vítimas de doenças oncológicas”, explica. Por isso mesmo, o grande sonho da investigadora é “contribuir positivamente para o tratamento de doentes oncológicos”, feito que os compostos ativadores da proteína p53, descobertos pela sua equipa (abaixo, na fotografia), poderão alcançar. Mas em que consiste, então, a invenção?
A p53 é uma proteína encarregue de funções biológicas muito importantes tais como a divisão celular ou a programação de morte celular. Por isso mesmo, verificou-se que, muitas vezes, o desenvolvimento e progressão de tumores se devia à inativação dessa proteína. Descobriu-se também que as formas mutadas da p53 estavam associadas, na maior parte das vezes, a tipos de cancros mais agressivos e por isso mais resistentes aos tratamentos convencionais. Atualmente, a reativação das formas mutadas da p53 é considerada uma estratégia muito promissora no combate ao cancro. Foi neste contexto que surgiu a invenção de Lucília Saraiva, traduzida em compostos que são “promissores candidatos a fármaco anticancerígeno”, revela. “Small-molecule p53 activators” consiste, então, numa “família de ativadores das formas mutadas da proteína p53”, explica a investigadora. É fruto de uma parceria com a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa e conta já com pedidos de patente nos Estados Unidos e na Europa.
Volvidos 17 anos desde o início do percurso académico, Lucília Saraiva é hoje uma investigadora muito ativa no que toca às comunicações de invenção enviadas para a U.Porto Inovação. Só em 2013 apresentou 3, mais outra em 2015 que já avançou para pedido de patente provisório e está em processo de comercialização. Para a investigadora é uma grande honra trabalhar na Universidade do Porto, casa que admira não só pelo “reconhecido prestígio nacional e internacional” mas também pelo facto de a ela pertencerem investigadores que muito admira. São essas pessoas e esse ambiente de cooperação que, na sua opinião, não deixam a investigação esmorecer perante os contratempos: “É interessante notar que, apesar destes tempos difíceis na ciência, a produtividade científica na U.Porto tem crescido de forma acentuada, o que é de facto notável”, refere. Isto porque, dada a conjuntura nacional atual a investigadora lamenta, e muito, ver tantos “jovens investigadores a abandonar os seus sonhos” devido à escassez de financiamento nacional para a ciência.
E quanto aos seus sonhos? perguntamos. “Sem dúvida que seria ver um composto estudado no meu laboratório chegar à clínica. Ajudar a vencer o cancro é o sonho de qualquer investigador nesta área”, conclui.
Esta notícia é parte da Newsletter #11 da U.Porto Inovação, na rubrica "À conversa com os inventores".