Teresa Restivo é professora e investigadora na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e responsável pela UISPA – Unidade de Integração de Sistemas e Processos Automatizados do IDMEC – Instituto de Engenharia Mecânica. Num dos seus projetos conduziu uma equipa de investigação no desenvolvimento do LipoWise, tecnologia que tem vindo a ser premiada e reconhecida.

A licenciada em Física, com uma especialização na Física do Estado Sólido, começou a sua carreira na FEUP em 1979, tendo sido quase imediatamente “incumbida do lançamento da área da Instrumentação para Medição”, conta. Reconhecido internacionalmente, o seu trabalho é baseado em muito esforço mas também na constante curiosidade em descobrir, facto que carrega consigo desde pequena, quando começou a pensar em ser investigadora: “Gostava muito de experimentar e tinha uma enorme curiosidade pelas coisas que não percebia. Assim continuo e tenho também a humildade de saber que vou aprender até ao fim”, contou Teresa Restivo à UPIN.

Fruto desse trabalho e dedicação, orientou uma equipa de investigação composta por membros da Faculdade de Engenharia (FEUP) e da Faculdade de Ciências de Nutrição (FCNAUP),  que, em conjunto, desenvolveu o LipoWise, uma das tecnologias da U.Porto que obteve a concessão de patente em Portugal no ano de 2013. Na opinião da coordenadora do grupo de investigação este “é um primeiro passo na perspetiva da patente internacional, essencial para qualquer evolução do LipoWise como um produto comercial”.

O que é o LipoWise?

Trata-se de uma ferramenta capaz de avaliar com grande precisão a composição corporal, com um simples aperto de uma prega de pele. De fácil e rápida utilização, o aparelho possui dois componentes: o lipocalibrador Adipsmeter, uma espécie de alicate que mede a espessura da prega cutânea, e o LipoSoft, aplicação informática que recebe os dados recolhidos pelo lipocalibrador. Além da precisão e rapidez em obter os resultados, o sistema integrado LipoWise tem a vantagem de não ser intrusivo e de as partes do aparelho conseguirem comunicar entre si sem fios. A aplicação Liposoft pode estar instalada em qualquer computador, criando uma base de dados onde toda a informação pode ser registada para avaliações futuras.

Segundo Teresa Restivo, o LipoWise “apresenta características técnicas potenciadas e únicas em relação aos aparelhos existentes no mercado” e já foram identificadas várias áreas de interesse para o aparelho, nomeadamente: nutrição e saúde (diagnóstico, rastreio, estudo); ciências forenses (tempo de morte em função da rigidez dos tecidos); veterinária; piscicultura (avaliação da frescura do pescado); etc. Além disso, o aparelho tem uma autonomia de 30h e é recarregável através de uma ligação USB.

TiagoAndrade_LipoTool_semfundo_BTeresa Restivo contou com o apoio dos seus colegas Carlos Moreira da Silva, Maria de Fátima Chouzal, Manuel Quintas e Tiago Andrade, da FEUP, e também com o conhecimento de Teresa Amaral, da Faculdade de Ciências da Nutrição. Este trabalho vai de encontro ao que a investigadora defende desde o início da sua carreira como sendo fulcral para o sucesso: o trabalho em grupo. “Sempre defendi o trabalho em equipas multidisciplinares. Assim, naturalmente acontece o aparecimento de desenvolvimento no seio do grupo de trabalho”, diz. Na sua opinião, essa troca de ideias é também uma das principais vantagens de ser inventor na U.Porto, uma vez que torna possível que surjam “resultados interessantes”. A equipa viu reconhecido esse trabalho conjunto ao ganhar o Prémio Inovação nos Nutrition Awards (2010), o prémio FEUP Colheita 75 (2010) e ao arrecadar a medalha de prata no 40º Salão internacional de Invenções de Genebra (2012).

No meio de todo o processo Teresa Restivo destaca o papel da UPIN, sobretudo por ter conduzido um processo que, em geral, não é familiar aos académicos, e também por ter aproximado a equipa de “outros grupos de estudo e de ambientes hospitalares para avaliar a recetividade do sistema”, conta a inventora. Refere também como fundamental a condução do diálogo com empresas que “decidiram (ou não) explorar a tecnologia, na perspetival de avançar no estudo de mercado”, diz Teresa Restivo, acrescentando que “é assim que, no presente, a tecnologia está em vias de ser licenciada pela U.Porto à empresa MetaBlue”.

Relativamente aos próximos passos a dar, a equipa está totalmente focada em desenvolver o design do produto, bem como “a otimização das soluções mecânica, eletrónica e de comunicação adequadas à sua produção a custos de mercado”, disse Teresa Restivo. Depois, é altura de melhorar todo o suporte de software desenvolvido. Estando já alguns aparelhos, em fase de estudo, espalhados por unidades de saúde em Portugal, a investigadora continua, assim, a perseguir um dos seus maiores sonhos profissionais: “Ser útil à sociedade. É também um sentimento comum no meu grupo”, rematou.

Fotografias: LipoWise