André Fernandes começou a trabalhar na U.Porto Inovação - na altura UPIN - em 2007. Mais de uma década depois, em 2020, assumiu as funções de dirigente intermédio. No ano em que a U.Porto Inovação comemora o seu 20º aniversário, é André Fernandes que está ao leme da equipa, tutelada por Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da U.Porto para a Investigação e Inovação.
Aumentar a equipa e melhorar a eficácia dos processos diários são os principais objetivos a curto prazo de André Fernandes. Depois, com os olhos postos no futuro, assume a visibilidade, proximidade e cooperação como as suas principais bandeiras. Sempre, claro, com o termo inovação na ponta da língua: "Diria que inovação é um termo que, felizmente até, tem muito futuro e temos que continuar a falar muito nele", refere.
1. A que U.Porto Inovação chegou quando tomou posse?
A minha comissão de serviço como dirigente intermédio de segundo grau começou em 2020, assumindo novas funções numa equipa que, felizmente, já conhecia. Uma equipa bastante capacitada, diversificada do ponto de vista de qualificações, faixa etária e funções. Por isso, na minha opinião foi um começo confortável porque acabei por dar continuidade à equipa e ao trabalho que estava a ser feito antes.
Havia uma situação que me preocupava que tinha a ver com a precariedade das relações laborais da equipa. A ciência em Portugal e estas atividades de interface entre a ciência e o tecido económico baseiam se muito em projetos financiados que, tipicamente dão recursos às instituições para que estas contratem pessoas. A questão é que esses projetos são limitados no tempo, e sendo as relações laborais muito baseadas nos projetos, quando estes se aproximam do fim ou terminam há sempre esse dilema e essa dificuldade de dar continuidade ao trabalho de algumas pessoas. E era isso que estava a acontecer quando cheguei. Em geral a equipa estava a desempenhar muito bem mas, de facto, tínhamos várias situações em que se estava a aproximar o prazo dos contratos de trabalho dessas pessoas. Isso é uma dificuldade e um problema a que depois demos resposta.
Havia outra novidade quando passei a ser diretor, que era a mudança recente de instalações da U.Porto Inovação. Desde 2004 que desenvolvemos atividade no edifício histórico da Reitoria da Universidade do Porto, e em setembro de 2019 passámos a estar fisicamente no edifício da UPTEC. Essa foi uma decisão da equipa reitoral do ponto de vista estratégico, para nos aproximar da equipa da UPTEC, das spin-offs e para estarmos mais próximos dos laboratórios, dos centros de investigação da U.Porto, etc.
De facto, foi uma altura em que a equipa estava a “bombar” do ponto de vista de atividades, com vários projetos a acontecer, mas por causa da mudança física ainda estávamos um pouco em fase de adaptação.
2. Diria que chegou com expectativas e planos específicos ou focou-se mais na continuidade do trabalho já feito?
Eu já tenho alguma de experiência de trabalho em diferentes organizações, públicas e privadas, e a minha perspetiva foi sempre de perceber que é difícil fazer ruturas do ponto de vista organizacional, sobretudo quando está a ser desenvolvido um trabalho muito meritório e com resultados, como era o caso da U.Porto Inovação quando eu assumi o papel de direção. E, além de tudo, também entrei a meio do mandato da equipa reitoral, que já tinha a sua visão e estratégia.
Diria que do ponto de vista de planos ou de ideias para a minha comissão de serviço, o principal tinha mais a ver não tanto com alteração de atividades, prioridades ou serviços que a nossa equipa oferece, mas mais do ponto de vista da organização e de criar condições, sobretudo de rendimentos e de músculo, para conseguir reter a equipa que estava a trabalhar.
3. Reconhece uma evolução no trabalho da U.Porto Inovação desde que chegou à equipa?
Sem dúvida. Por onde começar?
Do ponto de vista de atividades, na altura em respondi a um processo de recrutamento lançado pela UPIN por ter identificado a necessidade de ter uma pessoa que desempenhasse funções de interface entre a Universidade do Porto e o tecido económico. Esta interface era um pouco a montante na cadeia de inovação da Universidade, e traduzia-se em atrair as empresas para projetos de investigação em parceria. Eu entrei muito com esse espírito e, até aí, as atividades da UPIN tinham estado mais viradas para a proteção da PI e para a comercialização, por um lado, empreendedorismo, por outro, e mais algumas atividades como o apoio de candidaturas a projetos financiados, dinamização da investigação interdisciplinar, etc.
Desde então, e até agora, nós temos desenvolvido as nossas atividades muito à volta dessas três áreas que na altura estavam em formação: PI e transferência de tecnologia, promoção do empreendedorismo e interface universidade-empresa.
Assim, eu diria que a grande evolução foi na equipa. Em todos estes anos tivemos, felizmente, a possibilidade de aproveitar oportunidades para capacitar as pessoas, profissionaliza-las. E, neste momento, temos pessoas seniores em todas as nossas atividades – do ponto de vista de experiência e conhecimento, não de idade.
4. A que necessidades acredita deve responder uma equipa deste género? Que planos tem a curto, médio ou longo prazo?
Penso que é importante começar por enquadrar o nosso trabalho. Nós estamos num ecossistema que é o maior produtor de ciência do país. A Universidade do Porto é responsável por 25% da produção científica nacional, se medirmos do ponto de vista de publicações. Isto, de facto, é reconfortante no sentido que estas dinâmicas criam resultados de várias formas. Do ponto de vista comercial pode até ser mais fácil porque temos massa crítica a montante; por outro lado acaba por ser um desafio porque trabalhamos com um grande volume de solicitações. Não havendo a perspetiva de uma diminuição da ciência que se faz na U.Porto, uma das necessidades que temos, se queremos aproveitar melhor essa massa critica, é aumentar a nossa capacidade de resposta.
Isto faz se de duas formas e eu destaco duas. Primeiro, aumentar a equipa. Isso está sempre em cima da mesa. Por outro, otimizar os nossos processos e torná-los mais eficientes, para que a equipa possa concentrar as atenções nas atividades que mais valor podem trazer à Universidade e também para termos mais capacidade de resposta. Já consolidámos a equipa e neste momento somos 9 pessoas, com funções complementares. Umas transversais, umas mais viradas para determinadas áreas científicas e tecnológicas.
Falando a curto prazo, são estas as minhas prioridades: crescimento da equipa e otimização dos processos, aumentando a sua eficiência.
A longo prazo, destacaria três áreas de intervenção, sem nenhuma ordem. Primeiro, a importância de dar corpo à subida de estatuto da U.Porto Inovação, que passou de Unidade para Serviço. Isso foi muito relevante para a nossa equipa, porque representa reconhecimento do trabalho desenvolvido. E como damos corpo? Com uma equipa maior, capaz de mostrar mais resultados.
Depois, realço a visão que o Vice-Reitor Pedro Rodrigues tem para a nossa equipa: dar mais visibilidade à U.Porto Inovação e ao trabalho que desenvolve, ao mesmo tempo que nos aproximamos mais da comunidade científica. A Universidade tem investido na criação de estruturas locais de apoio à investigação e inovação, e devemos aproximar-nos mais delas e potenciar o trabalho conjunto.
Por fim, mas não por último, adaptar e coordenar a nossa atividade com a dinâmica que se cria dentro da própria Universidade e também no ecossistema. Falo, por exemplo, dos institutos de investigação participados pela U.Porto, da UPTEC, ou das empresas startup e spin-off. Acredito que estaremos a contribuir para a missão da Universidade se encontrarmos formas de coordenar todos estes agentes, aumentando o nosso impacto na sociedade, que é o grande desígnio que todas estas pessoas têm em comum.
5. Acha que o termo inovação precisa de um rebranding? Que está “batido”?
É compreensível que a nos, que usamos este jargão e este vocabulário diariamente, nos pareça que este tipo de conceitos, definições, que acaba por ser metas e referencias, estejam mais gastos. Prefiro dizer que estão mais maduros.
Mas mais do que pensar que é um termo gasto, eu diria que é um termo que, felizmente até, tem muito futuro e temos que continuar a falar muito nele. Ao longo dos anos da nossa atividade até nos vamos posicionando razoavelmente bem nos rankings mas, de facto, ainda é muito difícil entrar no tecido económico porque as empresas ainda não estão preparadas para assimilar novos processos, novas ideias, e depois para fazer dessas ideias novos negócios de uma forma estruturada e, diria, sustentável. Portanto, olhando o cenário e a nossa envolvente, ainda vamos ter que martelar muito na inovação.
6. Como vê o futuro da inovação na Universidade do Porto?
Há uma grande relevância das atividades de inovação no plano estratégico da U.Porto para 2030, o que nos dá uma grande sensação de responsabilidade em responder a esta missão. Trabalhamos com muitas solicitações, um volume quase diário, e isso demonstra que as atividades do nosso Serviço são vistas como úteis e importantes para a comunidade com quem trabalhamos.
Trabalhar a inovação na Universidade do Porto implica, como já foi referido, melhorar a nossa visibilidade e proximidade junto da comunidade científica, percebendo as suas dinâmicas, indo aos laboratórios e junto dos cientistas com quem não nos cruzamos todos os dias. E devemos desenvolver essa estratégia em conjunto com as equipas de apoio à inovação que se vão formando na U.Porto.
Depois, é importante realçar que, felizmente, não estamos sozinhos nesta missão. Em última análise esse papel não é só das instituições científicas e de ensino superior. Nós temos o nosso papel, mas não é só nosso e felizmente estamos bem acompanhados. Refiro-me a associações empresariais que têm sempre este foco na inovação, organismos públicos como por exemplo a da Agência Nacional de Inovação (ANI) que também tem desenvolvido o seu trabalho com muito mérito. O nosso sistema nacional de inovação é robusto, perene e tem estrutura. Agora o que precisamos é continuar. Claro que, para isso, é preciso investimento, o investimento implica risco, e o risco traz muitas incertezas. Vamos ter insucessos, sim, mas também temos os nossos sucessos e é importante aprendermos com ambos e continuarmos o nosso trabalho.
De envolvente interna basta olhar para o plano estratégico da Universidade Porto para 2030 para perceber que, pelo menos até esse ano, ainda vamos ter muito que falar do ponto de vista de inovação e da importância que a Universidade dá a essa área. E isso é uma muito boa notícia para estruturas como a nossa e para novas estruturas que têm surgido nas unidades orgânicas, faculdades e centros de inovação.
Por isso eu iria que inovação é um termo com futuro, não está esgotado, e atendendo aqui ao nosso lema que é 20 anos de U.Porto Inovação / 20 anos de inovação na U.Porto, eu diria que pelo menos até 2030 vamos ter a inovação na boca das pessoas na nossa universidade.