Medicina personalizada com diagnósticos e tratamentos mais precisos, ajustados às particularidades dos doentes. É o que propõe a tecnologia “intelligent Lab-on-a-Fiber “(iLof), desenvolvida por investigadores do INESC TEC e da Universidade do Porto, que acaba de ser premiada como a inovação europeia de 2024. O EARTO Innovation Award, na categoria de “impacto esperado”, foi entregue no dia 23 de outubro, em Bruxelas, pela European Association of Research and Technology Organisations (EARTO).

A iLof nasceu nos laboratórios do INESC TEC pelas mãos de três investigadores deste instituto, que também têm afiliação à U.Porto: Joana Paiva (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar), João Paulo Cunha (Faculdade de Engenharia) e Pedro Jorge (Faculdade de Ciências).

Esta tecnologia permite a estratificação de doentes através de biomarcadores relevantes, obtidos de modo não invasivo recorrendo a um sistema fotónico eficaz e posterior identificação de padrões únicos usando inteligência artificial. Por outras palavras, as impressões digitais biomoleculares obtidas pela tecnologia abrem a porta à medicina personalizada com diagnósticos e tratamentos mais precisos e ajustados às necessidades daquele grupo de doentes. 

Essa deteção de micro e nano alvos é fundamental para o desenvolvimento de medicamentos, ensaios clínicos, diagnósticos e outros subdomínios do conceito OneHealth (uma só saúde), tendo impacto direto quer para pacientes – em doenças como a de Alzheimer ou o cancro – quer para profissionais de saúde.

Uma evolução no sistema de saúde tradicional

O sistema de saúde tradicional tem seguido uma abordagem “one-size-fits-all”, ou seja, uma abordagem de tratamento único, independentemente de uma série de outros fatores e particularidades que são de extrema relevância no que à saúde diz respeito. Além disso, as soluções atuais apresentam uma baixa eficiência económica e induzem um desconforto desnecessário nos doentes. 

Esta estratégia tem vindo a revelar-se muito pouco eficaz para lidar com determinadas doenças complexas, como é o caso da doença de Alzheimer, onde nos últimos 14 anos se verificou o falhanço de mais de 400 ensaios clínicos. Estes dados mostram a necessidade urgente de estratégias de tratamento personalizadas, que a iLof a tem capacidade de fornecer.

Ao utilizar uma plataforma de Inteligência Artificial (IA), esta tecnologia desenvolvida nos ecossistemas da U.Porto tem o potencial de revolucionar os cuidados de saúde, na medida em que, ao ter a capacidade de gerar impressões digitais óticas precisas a partir de amostras de sangue, simplifica o processo e a experiência do paciente e reduz todos os custos associados a ensaios clínicos ou triagens.

Além disso, a iLof tem um custo baixo, reduz, em pelo menos, 40% os custos de ensaios clínicos e até 70% o tempo de triagem, o que significa que – quando aplicado à área da saúde – pode tornar o processo mais acessível e eficiente. O impacto económico e social da tecnologia já foi testado em ambiente real pela ação da empresa spin-off do INESC TEC e da U.Porto, que tem o mesmo nome da tecnologia – iLof.

“A tecnologia já demonstrou o seu impacto em pilotos reais, permitindo, por exemplo, poupar milhões de euros em ensaios clínicos, quando aplicada à área da saúde. Ao permitir a criação de uma vasta biblioteca de perfis biológicos digitais, a iLoF tem potencial para mudar o paradigma dos ensaios clínicos e da medicina personalizada, oferecendo uma abordagem mais direcionada e eficaz ao tratamento de doenças”, explica Daniel Vasconcelos, responsável pelo gabinete de transferência de tecnologia do INESC TEC e que acompanhou a tecnologia desde a sua génese até à materialização, proteção da propriedade intelectual e valorização pela via spin-off.

Impacto milionário nos cuidados de saúde

A tecnologia iLof pode ter impacto no mercado global da medicina personalizada, que está avaliado em mais de 500 mil milhões de euros. Esta solução beneficia não só pacientes – ao melhorar a precisão de diagnósticos -, mas cria também oportunidades para novas tecnologias no setor farmacêutico, reduzindo barreiras de entrada e fomentando um maior crescimento económico.

Há ainda o potencial de utilização noutros setores, como a bioengenharia, já que a deteção precisa de micro e nano partículas é relevante em muitas áreas de aplicação. 

Espera-se agora que a empresa spin-off lance uma solução comercial baseada na tecnologia com o mesmo nome para ensaios clínicos nos próximos três anos. Por agora, já foram realizados  testes pré-comerciais com sucesso com uma grande farmacêutica, durante os quais conseguiu quantificar alguns dos potenciais benefícios da tecnologia.

Considerada pela norte-americana CB Insights como uma das 150 startups mais promissoras a nível mundial na área da saúde digital, a spin-off iLoF integra, atualmente, o estudo internacional Bio-Hermes-002, através do qual se pretende revolucionar a pesquisa e o tratamento da doença de Alzheimer.

Sobre a EARTO

A European Association of Research and Technology Organisations (EARTO) é uma associação europeia de organizações ligadas à ciência e à tecnologia que, todos os anos, destaca contribuições inovadoras e com elevado impacto social através de duas categorias: impacto entregue e impacto esperado.

O INESC TEC é a primeira instituição portuguesa a conquistar este prémio atribuído na categoria “impacto esperado”, reforçando o seu papel como maior instituição de investigação e desenvolvimento de engenharia, em Portugal, e um dos principais centros do país dedicados à transferência de tecnologia de inovações digitais.

Já em 2023 o INESC TEC tinha subido ao pódio da competição da EARTO, alcançando o terceiro lugar na categoria “impacto esperado” com a tecnologia MyNPK – Precision fertilization sensing technology. 

A EARTO integra mais de 350 membros de mais de 30 países.