“Controlar o que comemos, o que damos a comer aos nossos filhos, aos doentes e idosos, é uma área que me fascina desde pequena. Sempre quis colaborar no bem-estar das pessoas através da alimentação”. São palavras de Beatriz Oliveira, docente e investigadora da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) há mais de 30 anos.

Apesar de já em criança olhar com curiosidade e interesse para o controlo dos alimentos, Beatriz Oliveira imaginava que o seu futuro profissional iria passar por uma carreira empresarial, ao serviço de uma grande indústria, e não pelo lado académico: “Nunca pensei em ficar na FFUP mas na altura gostei e fiquei”, conta. Corria o ano de 1982, Beatriz Oliveira frequentava o 4º ano de Ciências Farmacêuticas quando foi convidada para colaborar com a Faculdade como monitora. Iniciou aí, e de imediato, o seu trabalho de investigação e análises à comunidade, que ainda hoje desempenha, como diz, “com muita paixão”.

À medida que o tempo foi passando, surgiu na sua vida uma nova vertente da investigação cientifica, em consequência da valorização de subprodutos industriais agroalimentares e novas questões começaram a borbulhar na sua mente, com destaque para uma: “Como podemos responder às necessidades crescentes dos alimentos?”. Esse ponto de interrogação abriu então portas a uma nova área, na qual Beatriz Oliveira trabalha atualmente com grande fascínio e “acompanhada por uma equipa com sentimentos semelhantes”, conta.

Esse grupo está atualmente a trabalhar em várias invenções relacionadas com os resíduos do azeite, resíduos esses que podem ser um verdadeiro perigo ambiental. “A nossa matéria-prima é o bagaço de azeitona, um produto que sobra das azeitonas após extração do azeite e que contamina plantas e solos quando libertado em terras ou cursos de água”, explica a investigadora. Para fazer face a esse problema, a equipa da FFUP inventou uma técnica que retira os produtos tóxicos do bagaço de azeitona ao mesmo tempo que “aproveita o extrato para aplicações de valor acrescentado como por exemplo antioxidantes alimentares ou cosméticos”, refere Beatriz Oliveira. Além disso, é ainda possível utilizar o restante como solo.

A docente e investigadora confessa que, ao início, não achava que os frutos desta investigação fossem patenteáveis: “Quando um dos parceiros falou em patentear, fiquei surpreendida. Achei que era necessário algo extraordinário e o que criámos parecia-me bastante simples”, diz. Mas foram avançando e têm neste momento já dois pedidos de patente depositados e preparam-se para o terceiro, o que Beatriz Oliveira considera “muito gratificante para toda a equipa”, que criou algo capaz de eliminar um perigo ambiental. Além disso, com esta técnica são utilizados todos os produtos da cadeia de valor do azeite e entra-se numa economia circular com zero resíduos. “E não são usados solventes nem químicos. Só utilizamos métodos sustentáveis, ambientalmente inofensivos e com reaproveitamento total de todo o material usado”, conclui Beatriz Oliveira.

Para a investigadora, toda esta jornada tem sido, em sim mesma, uma espécie de sonho, mais ainda se pensarmos que quando começou a formação que iria alavancar a sua carreira, não pensava enveredar pelos trilhos da investigação: “Já atingi coisas que nunca tinha imaginado atingir e ser inventora na U.Porto tem sido muito gratificante”, diz. A cereja no topo do bolo, e grande motivo de orgulho para a sua equipa, foi quando a Universidade do Porto conquistou o 11º lugar na disciplina de Ciência e Tecnologia de alimentos no Ranking de Xangai, vitória para a qual o grupo da Faculdade de Farmácia muito contribuiu.

Hoje, um dos maiores sonhos de Beatriz Oliveira, além de continuar a trabalhar com esta equipa, é ver uma patente do grupo a funcionar numa grande indústria: “Seria uma grande vitória… e pode estar para breve”, revela.

Esta notícia é parte da Newsletter #17 da U.Porto Inovação, na rubrica "À conversa com os inventores".