Com uma licenciatura e um doutoramento em Farmácia, e cumprindo o sonho que tinha desde criança – ser professora – Fernanda Borges escolheu a casa e família Universidade do Porto já há 35 anos. Tendo passado pelas Faculdades de Farmácia e de Ciências, onde está agora a fazer investigação e também a dar aulas, recentemente deu início a um novo desafio: ser empresária. Mesmo não estando nos seus planos, uma vez que o que mais a atraía era a investigação fundamental, juntamente com a sua equipa científica e com três colegas da Universidade de Coimbra, Fernanda Borges ajudou a fazer nascer a startup MitoTAG.

De certa forma podemos dizer que tudo começou não só com a sua “vontade de descobrir novos medicamentos e soluções terapêuticas”, diz a investigadora, mas também com aquele que é o grande sonho da sua carreira: “descobrir um medicamento eficaz para doenças degenerativas como Parkinson, Alzheimer e Esclerose Lateral Amiotrófica”. E a verdade é que esse objetivo já esteve muito mais longe de ser alcançado. O segredo? Está nas células e no seu envelhecimento.

Comecemos por olhar mais aprofundadamente para as células do nosso corpo, mais especificamente para a mitocôndria, isto é, a parte da célula responsável por produzir a energia da mesma. O problema começa quando, devido ao envelhecimento, a mitocôndria começa a ficar mais vulnerável ao stress oxidativo. Para piorar o cenário, este processo é ainda exacerbado pela exposição à poluição e à radiação UV. Esse cenário do envelhecimento poderia ser resolvido com recurso a antioxidantes mas os atualmente usados não são capazes de alcançar a mitocôndria e, por isso, não são efetivos. A equipa da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que Fernanda Borges lidera, quis encontrar uma solução para esse problema. Além disso, os investigadores pretendem que, a longo prazo, a sua invenção possa ter aplicações também na área da saúde e não só na cosmética.

E como funciona a invenção? Podemos dizer que é uma espécie de GPS do antioxidante, explica Fernanda Borges: “Ligámos um antioxidante natural a um grupo químico que funciona como um auxiliar de navegação. Isto permite que os antioxidantes consigam localizar a mitocôndria e ter uma acumulação 5000 vezes maior quando comparados com os antioxidantes tradicionais”. Assim, os antioxidantes desenvolvidos fazem com que as células da pele consigam aumentar as suas defesas antioxidantes.

A invenção está já patenteada em Portugal e tem submetidos pedidos de patente a nível internacional, processo esse que Fernanda Borges considera, apesar de difícil para um investigador das ciências exatas, muito gratificante: “É um selo de inovação que garante que fomos os únicos no mundo a ter a ideia”, diz. Ter um aspeto “eternamente jovem”, por assim dizer, já seria um elemento agregador de valor à invenção da equipa da FCUP, mas Fernanda Borges e a equipa MitoTAG querem ir mais longe. Com resultados promissores, recentemente receberam um investimento de 20.000€ no âmbito do programa BIP Proof, promovido pela U.Porto Inovação. Esse financiamento vai ajudar a obter novas provas de conceito em modelos mais próximos de utilização final da tecnologia. O objetivo principal é fazer com que seja possível, no futuro, usar a mesma tecnologia como um princípio ativo para o tratamento de doenças do fígado e doenças neuro degenerativas, para as quais não existe tratamento eficaz.