Dos heróis de banda desenhada, capazes de salvar o mundo, à investigação aplicada em Toxicologia. O percurso de Félix Carvalho, professor e investigador da Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP), está recheado de projetos e sonhos.

Já lá vão 30 anos desde o início de uma promissora carreira, iniciada nos corredores da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Félix Dias Carvalho frequentava na altura o curso de Ciências Farmacêuticas, que depois o levou a conquistar o lugar de assistente estagiário no Laboratório de Toxicologia nessa mesma Faculdade da Universidade do Porto. Jorge Gonçalves e Maria de Lourdes Bastos eram os principais mentores.

Em criança, naquele que descreve como um “saudável ambiente de aldeia”, devorava livros de banda desenhada, conquistado por aqueles heróis que salvavam o mundo de todos os males. Mais tarde, e já em contexto académico, descobriu a Toxicologia como “uma das ciências mais importantes no desenvolvimento do medicamento” e o sonho de salvar o mundo desenhava-se agora de outra forma, com “o tubo de ensaio a substituir de forma muito eficaz as armas que os heróis de banda desenhada usavam com mestria para eliminar os maus da fita”, conta. É natural, portanto, que quando questionado sobre sonhos, a luta contra o cancro seja o que lhe vem à cabeça em primeiro lugar: “Embora os meus trabalhos não estejam diretamente relacionados com a investigação básica neste domínio, não perco uma oportunidade de realizar investigação aplicada nesta área, sempre que a oportunidade surge. Não tenho dúvida que uma boa aplicação dos conhecimentos de Toxicologia poderá vir a ser da maior utilidade para o objetivo último de eliminar as células tumorais de forma seletiva”, diz.

O projeto em que o investigador está a trabalhar atualmente, e que já foi alvo de testes em animais de laboratório, trata-se do desenvolvimento de um antídoto para tratar intoxicações provocadas por cogumelos venenosos. A espécie que a equipa de Félix Carvalho estudou chama-se Amanita phalloides, ou “chapéu da morte”, e tem sido “responsável por 90 a 95% das mortes por ingestão de cogumelos silvestres venenosos para os quais não existia nenhum antídoto eficaz”, explica o professor da FFUP. Preocupado com estes números, Félix Carvalho tem-se dedicado a procurar um antiveneno através da “inibição da acoplagem das toxinas destes mesmos cogumelos a uma enzima que é responsável pela transcrição do nosso DNA”, explica. Os testes entretanto realizados permitiram descobrir um antídoto eficaz quando administrado de forma precoce, embora se verifique alguma diminuição da proteção numa fase mais tardia após a intoxicação. Por esse motivo, a equipa coordenada por Félix Carvalho está neste momento focada em aperfeiçoar o tratamento, para o tornar eficaz “mesmo em casos extremos em que o doente leva demasiado tempo até à chegada ao hospital”, conclui.

Este lado inovador e empreendedor, conciliado com o empenho na geração de conhecimento e na formação dos estudantes, é um dos maiores motivos para a realização de Félix Carvalho enquanto inventor na Universidade do Porto. “Desde 2004 a U.Porto tem vindo a estimular o espírito inventivo dos seus investigadores através de um apoio sem precedentes, bem consolidado com ações de divulgação, cursos de empreendedorismo, promoção da transferência de conhecimento, suporte no registo da propriedade industrial e reforço da ligação da Universidade às empresas, através da U.Porto Inovação”, refere. Por isso mesmo, e apesar de reconhecer algumas falhas principalmente no que toca aos apoios para alunos de pós-graduação, Félix Carvalho não hesita em dizer que fazer parte da família U.Porto, e usufruir do que o ecossistema dá aos investigadores, “permite a necessária mudança de mentalidade que faz todos olharem para a investigação de forma distinta”.