Fomos conversar com Nuno Lopes Gama, Diretor de Inovação e Tecnologias Emergentes da SONAE desde 2014. É sua convicção que a relação entre o gigante português e a Universidade do Porto, apesar de já ter muitos anos, “nunca perdeu a vitalidade” e “continua em crescimento”.

P: Qual a importância da relação da SONAE com o meio cientifico e tecnológico?

R: Enquanto os nossos clientes, com a evolução das suas necessidades, dos seus interesses, das suas expectativas e dos seus anseios criam permanentemente oportunidades para a Inovação, a Ciência e a Tecnologia fornecem-nos condições de exequibilidade, quando não de viabilidade, necessárias ao aproveitamento dessas oportunidades. Na Sonae, estamos continuamente a perseguir as oportunidades de inovação que parecem mais capazes de trazer vantagens competitivas vincadas e duráveis, pois sabemos que isso é uma condição incontornável para robustecer a nossa posição nos diferentes mercados em que atuamos e para continuar a crescer. Assim, não teríamos como não atribuir uma enorme importância aos atores da Ciência e da Tecnologia, o que, em termos práticos, se traduz em relações de colaboração, nalguns casos bilateral, noutros pluripartida, no quadro de projetos de Investigação, Desenvolvimento e Inovação com organismos de diferentes geografias e dos mais diferentes domínios do conhecimento. Só no ano de 2017, e no perímetro do retalho da Sonae, tiveram uma participação ativa nesses projetos mais de 100 organismos do chamado sistema científico e tecnológico, representando as valências de ensino, investigação ou transferência de tecnologia.

P: Como é que a SONAE tem vindo a interagir com a Universidade do Porto?

R: A relação entre a Sonae e a Universidade do Porto é já antiga, sem com isso ter perdido vitalidade. Pelo contrário, continua bastante sólida, fecunda e em crescimento. Essa vitalidade é seguramente um reflexo de reiteradas colaborações producentes, seja na captação e desenvolvimento de talento, seja no diagnóstico, seja no planeamento, seja na melhoria contínua, seja na inovação, seja no fomento ao empreendedorismo, apenas para nomear alguns dos domínios e contextos em que nos cruzamos e onde juntamos forças e vontades. Só no capítulo da Investigação, Desenvolvimento e Inovação, temos dezenas de projetos recentemente concluídos ou ainda em curso com a participação de elementos do ecossistema UP, tais como equipas de investigação, empresas incubadas ou que resultaram de spinoffs e organismos de interface, alguns dos quais no contexto de consórcios com outras entidades nacionais e internacionais. A escolha de exemplos é sempre ingrata, pelo difícil que é deixar de fora outras iniciativas meritórias, mas não posso deixar de mencionar, pelo grau de abertura à comunidade de que a iniciativa se revestiu, a nossa colaboração no quadro do Business Ignition Program, o programa desenvolvido pela UP, atualmente na sua terceira edição, que visa facilitar a transferência de tecnologia e a criação de novas empresas através da iteração de modelos de negócio, em que acreditamos ter ajudado os promotores a reforçar as suas propostas de valor e, por conseguinte, as perspetivas de sucesso dos negócios dali resultantes.

P: Quais os principais desafios que os dois agentes têm pela frente?

R: Vou centrar-me no que me parece ser o principal desafio que se coloca à progressão da nossa colaboração para estádios ainda mais profícuos. A Sonae e a Universidade do Porto têm beneficiado da elevada compatibilidade e complementaridade da forma como cada uma vê a valorização do conhecimento, quer na ótica do desenvolvimento do capital humano, quer na ótica da geração de valor económico por via da inovação. Esta compatibilidade e complementaridade têm tornado natural, atrevo-me a dizer inevitável, a colaboração com um nível de intensidade significativo. Quando uma parceria tem tradição, tem pergaminhos e funciona, como reputo ser este o caso, pode ser tentador para as duas entidades circunscreverem, quando têm essa opção, o perímetro de cada unidade de colaboração ao plano bilateral ou quando muito juntarem um pequeno grupo de entidades próximas ou com as quais já ambas têm familiaridade, por comodidade e para redução de risco. Sobretudo no que respeita à produção de inovação, deveríamos monitorizar essa tentação e conseguir resistir-lhe, dado que os resultados tendem a ganhar com a dialética que resulta do concurso de perspetivas muito diferentes, assim como com aproximações interculturais e interdisciplinares às matérias em apreço. 

Esta entrevista faz parte da Newsletter #18 enviada pela U.Porto Inovação, na nova rubrica "À conversa com as empresas"