A eletroencefalografia (EEG) é uma técnica que permite o registo da atividade elétrica cerebral. Experimentalmente, consiste em colocar pequenos discos de prata em contacto com o escalpe do paciente, sendo aplicado um gel entre o escalpe e o elétrodo para facilitar a passagem do sinal. Mas os géis ditos convencionais enfrentam alguns desafios.

Em primeiro lugar, e como explica Carlos Fonseca, investigador responsável pela tecnologia, “um dos problemas dos géis utilizados atualmente é o facto de escorrerem do sítio de aplicação, curto-circuitando os elétrodos e comprometendo a informação obtida”. Depois, obrigam a que no final do exame seja necessário lavar cuidadosamente a cabeça, o que aumenta o tempo necessário ao exame EEG e diminui o conforto do paciente. Tudo isto, aliado ao facto de alguns pacientes desenvolverem ainda alergias ao gel dito convencional, fez com que esta equipa da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP), em colaboração com a Technical University of Ilmenau (TUIL) arregaçasse as mangas para desenvolver uma solução. “A ideia surgiu, assim, da necessidade de resolver estes problemas, tornando a técnica de EEG mais simples e rápida”, refere Carlos Fonseca.

 “Hydrogel-forming polymer formulation as an alternative to electrolytic pastes for easy EEG monitoring and scalp cleaning” começou a ser posta em prática no âmbito de uma ação integrada luso-alemã. O objetivo passava por “desenvolver um produto que pudesse ser manipulado e aplicado no escalpe como um gel tradicional (mesma viscosidade, boas características de hidratação) pois tal tornava-o compatível com o equipamento de medição EEG corrente”. A diferença, acrescenta o investigador, é que este novo produto iria gelificar apenas alguns minutos após ser aplicado no escalpe do paciente.

As vantagens, quando comparamos este hidrogel ao gel tradicional, são várias. Em primeiro lugar, garante a fiabilidade dos resultados dos exames uma vez que a probabilidade de escorrência do hidrogel no escalpe é bastante reduzida). Depois, torna o exame menos demorado e mais confortável pois deixa de ser necessário lavar a cabeça do paciente no final, podendo a mesma ser limpa com um pente (ver fotografia à direita). E finalmente, mas não por último, o hidrogel é obtido a partir do alginato de sódio, que é um produto com excelente biocompatibilidade.

O caráter inovador da tecnologia deu já origem a um pedido provisório de patente e têm sido feitos vários contactos para a comercialização da mesma, quer em reuniões com empresas quer em demonstrações do gel. Carlos Fonseca acredita que estamos perante uma solução muito promissora pois trata-se de um produto cuja formulação é muito versátil: “Pode ser facilmente ajustado para uma viscosidade inicial diferente ou para tempos de gelificação diferentes”, acrescenta o investigador da FEUP. Isto é, além das vantagens para o paciente, para o pessoal médico e para fiabilidade dos resultados do próprio exame, esta é uma invenção que pode ser adaptada às necessidades das empresas interessadas em comercializar o produto.